sexta-feira, outubro 14, 2022

Dom Marcelo, o Cardeal de Belém

Belém tem um novo Cardeal, Dom Marcelo. Ele vigia com olho de falcão e garra de lince as possíveis diatribes do rebanho, no entanto volta e meia, que é como quem diz de quando em vez, lá abusa do vinha da sacristia e lá sai uma homilia menos conseguida, que invariavelmente dá burrada.

O bom Dom Marcelo, Cardeal de Belém, não pode ver um microfone estendido na sua direcção, não consegue resistir a uma câmara de televisão, sempre que tal acontece Dom Marcelo, Cardeal de Belém transforma-se em Marcelo o Jogral, dono de uma das mais completas, capazes e esfuziantes verborreias de que há memoria nos anais da Santa Madre Igreja, da qual o dito Dom Marcelo, Cardeal de Belém é ao que parece um fervoroso adepto, tanto que por vezes se esquece das suas outras funções, ou pior deixa esse seu fervor tingir e ou toldar as suas declarações e ou decisões, esquecendo-se que a nação onde pastoreia o seu rebanho é um Estado pretensamente laico.

E esse é o drama maior de Dom Marcelo, o Cardeal de Belém, o homem quando vê meios de comunicação, perde as estribeiras, perde o bom senso e o sentido de Estado, e desata a palrar sobre tudo e mais um par de botas, fazendo-nos recordar que antes de ser o mais alto magistrado ele era o “papagaio mor” da televisão, onde aparecia a comentar todo e qualquer assunto, fazendo recomendações ou mandando recados, infelizmente como no melhor pano cai a nódoa, e não há bela sem senão, Dom Marcelo, o Cardeal de Belém lá deu um tiro nos pés com os comentários patetas sobre a malfadada questão dos abusos e sevícias sexuais perpetrados por sacerdotes no seio da turma eclesiástica.

Como se não bastassem, a propósito da mesma temática, as primeiras declarações patetas de um bispo, que confrontado com denúncias de abusos vários, relativizou as vergonhosas ocorrências, tendo logo a seguir engolido cada palavra que disse em constantes desmentidos, tendo inclusivamente achado pertinente sermoar, à laia de desculpa, lá na cova das velinhas para as massas ignorantes, também Dom Marcelo, o Cardeal de Belém teve de engolir os seus comentários patetas, pecou apenas por demorar 3 dias a perceber que tinha metido a patorra na poça, demonstrou infelizmente possuir soberba, pecado capital, em demasia e humildade, qualidade essencial do devoto, em defeito, mas como bem diz o ditado “vale mais tarde do que nunca” e Dom Marcelo, o Cardeal de Belém lá pediu desculpas, pelas barbaridades que disse.

Pessoalmente acredito que o homem, não tivesse a intenção de desvalorizar ou de desculpar os actos hediondos, da padralhada, actos que bem sabemos todos, os que não são hipócritas, recordemos novamente o excelente livro “Manhã submersa” um romance do escritor português Vergílio Ferreira publicado em 1954, onde eventos monstruosos como os que ora estão em causa se passam há tanto tempo que já nem sabemos quanto, mas se tais actos num passado recente eram escondidos, relativizados e quiçá até aceites, os mesmos, à luz deste nosso tempo de hoje, são obscenos, grotescos e não tem lugar neste nosso Mundo, infelizmente vivemos num país que trata muito mal as suas crianças, infelizmente vivemos num país que mais cuida dos algozes do que das vítimas, e é com esta triste realidade, que temos de conviver, conscientes porém de que devemos de estar sempre alerta, para não permitir este tipo de comportamentos miseráveis. Acredito que Dom Marcelo, o Cardeal de Belém tenha tido a melhor das intenções, mas as palavras traíram essas nobres intenções e alguém que é um astro da comunicação, passou num repente para a posição de estrela cadente, um mero meteorito calcinado em rota de colisão com o solo, e tudo por culpa sua, por ser verberoso, por ser extemporâneo, errático e por demonstrar um pavoroso excesso de “ratice de sacristia”.

Um abraço deste vosso amigo

Barão da Tróia

 

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