Fonte da imagem:https://escolapt.wordpress.com/2020/08/02/nao-ha-inclusao-sem-especializacao/
Quando comecei a escrever estas linhas, decorria uma manifestação
junto ao Ministério da Educação, o protesto foi convocado pelo
Movimento Inclusão Efetiva, cuja sigla é MIE, numa breve consulta à
página de uma rede social onde este movimento faz a apologia da sua
causa, ficamos a saber que o dito movimento se bate por; “Este
grupo tem como objectivo fazer com que existe uma inclusão efetiva
das crianças com NEE em Portugal seja na educação como também na
sociedade em geral”1.
Comecemos
pelo início, há anos que escrevo sobre a questão do Ensino
Especial, há décadas que afirmo sem que ninguém me desminta,
excepto pontualmente porque afinal não conheço tudo nem sou
infalível, mas genericamente tudo o que tenho escrito se prova
verdade, basicamente e resumindo a uma palavra o Ensino Especial em
Portugal é uma palhaçada, deste feita e como faço quase sempre
para temáticas que conheço menos, contactei várias pessoas amigas
ligadas a vários níveis de docência, espalhadas por vários
agrupamentos de Norte a Sul do país, para obter relatos das suas
experiências, validando ou não de uma forma mais informada as
opiniões que possuo sobre o tema.
Actualmente
o enquadramento jurídico das necessidades especiais e da inclusão,
assenta no Decreto-Lei n.º 54/20182, uma legislação
muito bonita, muito catita, infelizmente elaborada com os pés por
gente que não faz a menor ideia de como funciona uma escola, daí
fazer aqui referência a este tristemente famoso “54” que
enquadra esta coisada toda das necessidades especiais, legislação
que não passa de uma salgalhada própria de um país absolutamente
esquizofrénico.
O
Ensino Especial nunca funcionou com o mínimo de seriedade nas
escolas portuguesas, pior, no imediato momento em que os governos
abdicaram do seu papel na Educação e chutaram as escolas para as
autarquias fomos de cavalo para burro com uma velocidade de tal modo
furiosa que o estrépito causado soa furiosamente por todos os
agrupamentos escolares assoberbados com todas as idiotices patéticas
que os governantes dos últimos 20 anos resolveram implementar, 2005
foi o ano em que a Educação começou a ruir abruptamente, não que
os governos anteriores tivessem tido uma atitude positiva, mas a
partir de 2005 a coisa descambou completamente, culminando na
mediocridade que temos hoje, e que estou em crer que ainda
alcançaremos mais dessa mediocridade pois ainda não batemos no
fundo, está quase, mas falta ainda um nadita, tenham esperança.
Ora
então seguindo, mercê de várias circunstâncias, sendo a maior
delas, o facto de os governos dos últimos 20 anos terem desinvestido
na Educação, as escolas estão em condições miseráveis, faltam
recursos humanos e materiais, sobra a muita carolice dos que
trabalham nas escolas que vai colmatando alguns dos pontos fracos,
mas já nem essa boa vontade consegue tapar a cada vez mais
esfarrapada Educação. Turmas sobre-dimensionadas, com cada vez mais
casos de crianças com necessidades especiais, falta de terapeutas,
falta de pessoal auxiliar com adequada e contínua formação, os
espertos governeiros vão tapando o Sol com a peneira recorrendo aos
desempregados, o que não deveria ser de todo sequer uma solução,
mas é, junte-se ainda um agora novel fenómeno advento desta
modernidade que sã0 as famílias com diminuto e ou até inexistente
domínio e compreensão da língua do país que escolheram para vir
viver, tudo junto é o caos.
Professores
e educadores em “burnout” com demasiada idade para aturarem
fedelhos mal educados, temos assim o coquetail perfeito para que o
Ensino Especial seja uma grande fantochada, a existência de serviços
duplicados ajuda ainda menos, ainda hoje estou para perceber para que
realmente serve uma coisa chamada “intervenção precoce”,
excepto a criação de mais uma “capelinha” num mundinho já
prenhe delas, disso mais de egos exacerbados, junte-se a falta
gritante de terapeutas, o que disto resulta são falhas gritantes nos
apoios que as crianças deveriam e muito necessitam de ter.
A
este cenário absurdo, absolutamente esquizofrénico e patético,
juntou-se ainda a “Inclusão”, outra inenarrável fantochada, que
da forma como está a ser levada a cabo deveria mudar de nome para
“Exclusão”, porque na realidade muitas vezes para incluir uma
criança excluem-se as outras dezanove da turma.
É
forçoso dizer que existem crianças enfiadas em turmas nas escolas,
escolas essas que estão a servir apenas como uma espécie de armazém
para este tipo de crianças, crianças essas que não estão ali a
fazer nada, faltam nas escolas unidades de apoio a deficientes,
muitas dessas unidades são apenas armazéns para os casos pesados de
crianças não funcionais que dessa formam “roubam” o lugar a
crianças com problemáticas mas funcionais que beneficiariam imenso
com as terapias que as unidade pudessem com elas fazer, assim como
está a tal “Inclusão”, não serve a ninguém, não serve às
escolas, não serve às famílias e não serve de todo às crianças.
E
tudo isto acontece por causa da mentalidade merceeira dos
governantes, que esbanjam fortunas com imbecilidades, não investem
no que é flagrantemente necessário, faltam Centros de Recuperação
Infantil, os “CRI”, que são o sítio indicado para alojar muitas
destas crianças com efectivas necessidades especiais que não estão
a fazer nada nas escolas, que se arrastam pelo ensino público ao
abrigo dessa coisa que chamam “Inclusão”, cujas malhas são tão
absurdamente estreitas que é possível um autista não funcional com
quase sete anos, que apresenta problemas comportamentais estar numa sala de
jardim de infância com crianças de três anos, este é apenas um
exemplo dos muitos que recolhi alguns de bradar aos céus.
Para
encerrar meus caros, “Ensino Especial e Inclusão” são duas
realidades muito necessárias na Educação, infelizmente em
Portugal, são duas fantochadas patéticas, são farsas atafulhadas
de quantidades pantagruélicas de papelada inútil, que funcionam a
custo de uma forma medíocre, exceptuando nalguns honrosos casos
pontuais onde funcionam com alguma qualidade, mercê da boa e velha
carolice de todos os que lá trabalham, o grosso porém é uma
verdadeira gaiola de malucas atamancada gerida de forma amadora e
incipiente que nos desacredita todos, governantes, povo, escolas e
famílias.
Um
abraço, deste vosso amigo
Barão
da Tróia
1https://www.facebook.com/groups/691722178589366/announcements
2https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/decreto-lei/54-2018-115652961