Fonte da imagem:https://www.planocritico.com/critica-a-deriva-2022/
Não sei qual é a vossa sensação, nem sei mesmo sequer se aquilo que sinto e sobre o qual hoje escrevo é verdadeiro ou produto de uma alucinação, mas suspeito há muito que Portugal é um país anedota. Um cada vez maior antro de ignorantes, uma gaiola de malucas, percorrendo as ruas sujas, imundas, mal cuidadas cheias de gente igualmente suja, sinto que vivo num navio à deriva, uma embarcação corroída pelo taredo, desmastrada com o velame desfeito por tempestades dantescas que nos assolam há décadas, gostava de ter a capacidade, que muitos possuem, ver ver o copo meio cheio, infelizmente vejo o copo não só vazio, como também partido, incapaz portanto de segurar o quer que seja.
Vemo-nos assolados por tragédias, algumas delas, em muito propiciadas pela proverbial capacidade que possuímos para a inépcia e para o laxismo, andamos pois numa roda viva, em total desnorte, apontam-se os dedos a uns e a outros diz-se e desdiz-se com a mesma facilidade com que respiramos, apetece gritar, gritar mesmo em silêncio para que este manicómio se cale, para que os doidos de Lisboa regressem à província e se ocupem dos que lá estão, mas não, andamos à deriva, perdidos em nós.
As instituições basilares de uma sociedade democrática europeia, soçobram, engolidas pela nossa inépcia de incapazes e também pela chegada de hordas de crentes nas crendices que julgávamos para sempre enterradas num passado triste, não tarda teremos de volta os autos de fé, não tarda voltam a existir fogueiras acessas onde queimarão os hereges, os infiéis, basta ir pelas ruas destas nossas vilas e cidades para ver pulular por becos e vielas, todo o tipo de cultos da crendice labrega desses povos ignorantes, dessa muita caipiragem dos sertões e dos sultões que por aqui aporta, um dia os hereges queimados seremos nós e não tarda já, precisávamos de um qualquer Deus que transpirasse humanismo e compaixão ao invés do panteão de deuses imbecis que nos inventaram, essa corja divina de labregos castradores e assassinos, enquanto isso andamos aqui à deriva.
Estamos obcecados com o parecer, desprezamos cada vez mais o ser, desprezamos o, e quem somos, perdidos à deriva, desenraizamos os desenraizados, aqueles que há muito não sabem quem são, porque não querem saber e ou porque nunca se encontraram, não tarda seremos nós, hoje já pouco resta do nosso Mundo, do meu pelo menos, já pouco resta de um Portugal que era o meu lar, - cala-te ó velho – parece que vos oiço, mas não tenho eu o direito a ser velho e dizer o que sinto? Pois parece que não, este novo Portugal quer matar os velhos a trabalhar, quer fazer emigrar os novos, substituindo-nos a todos por novos escravos que trabalhem por dez réis de mel coado, enchendo assim, ainda mais, os bolsos aos agiotas do costume, enquanto isso, este país que tanta falta tem de gentes, permite que hordas que nunca contribuíram para nada, continuem a viver do simples parasitismo, com casas à borla, escolas à borla e o mais que se queira, e assim andamos à deriva.
Os mais dos dias já não reconheço esta terra, não me julguem mal, não digo que isso seja mau, nem bom, é o que é, pessoalmente entristece-me, deixa-me perdido, foi o meu Mundo que desapareceu, assim do nada transformado nesta embarcação à deriva, que navega não sabemos bem para onde. Onde uns que não resolvem, nem fazem por resolver, os muitos problemas e desgraças que têm no seu quintal, acham que meter o nariz na vida de outros embarcando em flotilhas patranheiras, enquanto outros que suspiram por caravelas e ditadores de opereta de antanho que os salvem, sem sequer mexem um dedo para se salvarem a eles próprios e ou a todos nós, assim entretidos andamos à deriva.
Andamos tanto à deriva, que este Portugal está feito ao contrário, tudo, cada vez mais, parece feito com os pés, parece uma daquelas distopias famosas como o Fahrenheit 451 de Bradbury ou o 1984 de Orwell, isto tudo sem que alguém tenha uma réstia de siso parando para pensar naquilo que se está a fazer, e não procurem conselho dos eleitos, são uma praga, uma súcia de medíocres igualmente à deriva, tão ou mais perdidos como o resto de nós este pobre povo deste pobre país, aquele que conheci e se chamou um dia Portugal, hoje não já o reconheço, é outra coisa, igualmente eu sou outro, e também não me reconheço, se calhar ando também à deriva.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
Sem comentários:
Enviar um comentário