quinta-feira, março 26, 2009

60'

Estes eventos decorrem durante sessenta minutos numa cidade portuguesa que pode ser a sua e retratam uma realidade perversa da actual sociedade massificada em especial da estupidez massificada que não conhece raça nem credo.
O relógio bate em silêncio as 18 horas desse outro dia qualquer como outro que já passei, pachorrentamente despeço-me dos formandos, encerro os computadores, arrumo as minhas tralhas, saio, acendo um libertador cigarro malfazejo e sigo, deambulo entre o verde da zona ajardinada, eivado de cagadelas de rafeiro, que qual, minas anti pessoal pejam a relva, num fantástico quadro do civismo luso.
Atravesso a passo diligente mas calmo, ou não tivesse eu costela de além Tejo, os metros que me separam, do pavilhão desportivo que devo atravessar para ganhar a rua principal e comprar um casqueiro para complementar a jantarada, nisto deparo-me como uma daquelas cenas, pintalgadas de surrealismo, atada a rede que delimita a pista de atletismo um carroça com o respectivo muar, interrompe o passeio que é bastante largo, é talvez o melhor passeio desta terreola, isto a cerca de 10 metros do quartel dos representantes da autoridade cá da terra, à porta desse mesmo quartel, um bando desses nómadas bandalhos, tristes sanguessugas subsídio dependentes, elementos anacrónicos de uma sociedade que se diz moderna, quem sabe se não são eles que estão certos, discute, encaminhando-se para a carroça, os sete ou oito como se donos do mundo fossem.
Passo discreto pelo outro lado, da rua, não é a cor que me enoja é a arrogante displicência da estupidez, o orgulho em ser parvo, em ser imbecil e fazer disso um modo de vida. Finalmente chego à rua principal, numa ruazinha lateral estaciona uma senhora professora, muito benzoca, muito elite, muito estatuto e ostentação, carripana plantada em cima do passeio para estar à sombra porque do outro lado onde há espaço, ainda está Sol. A senhora será com certeza o orgulho do seu lar, nem vou discutir os seus doutos atributos docentes, invejo os seus discentes que sairão seguramente engrandecidos de tão sapiente docente que lhes inculca os mais altos valores da civilidade e moral, sim porque essa senhora é também uma crente, que se preocupa muito, com os velhinhos, aleijadinhos e pobrezinhos, e assim, tá a ver! Não me enoja o estatuto social, o poder económico a possível mesquinhez, mas antes a arrogante displicência da estupidez, o orgulho em ser parvo, em ser imbecil e fazer disso um modo de vida.
Começo a ficar perturbado são agora 18.37h, chego finalmente à padaria pastelaria, local da moda, hoje não há carros nos passeios, olho de relance e percebo porquê, meio tapado por um carro um agente da autoridade, de olhar vago e circunspecto, está por ali, deveria ser assim todos os dias, mas andando, que todos sabemos que se colocassem um polícia em cada esquina não havia que chegassem. À porta da dita casa do casqueiro, duas moçoilas com carrinhos de bebé, atravancam a porta de entrada, conheço-as de vista, duas lontras anafadas do rendimento mínimo que mais não fazem que parir e enfardar pasteis de nata e bolas de Berlim, conversam alegremente, eu espero, nenhuma se desvia, atrás surge uma senhora que também fica em surdina a ver o desenlace da coisa, são 18.42, há cinco minutos que as mamãs extremosas falam entre um arreganho da dentuça, uma baforada de SG light e um embalo aos fedelhos, atrás de mim a senhora irrita-se e atira.
- Com lecença, deixem passar quem trabalha!
Empurrando um carrinho abre caminho na muralha, e penetra a brecha, desembocando na praça de armas do castelo sitiado,sigo-a apoiando a intentona. Não me enoja, que sejam do rendimento mínimo, que mostrem ter tanto respeito pelos filhos como eu por um monte de trampa, o que me enoja é a arrogante displicência da estupidez, o orgulho em ser parvo, em ser imbecil e fazer disso um modo de vida.
Três tipos de pessoas, todos diferentes, raças, etnias, culturas, estatutos sociais e por aí a fora, no entanto são a prova, provada que na realidade são todos iguais, na falta de civismo, na boçalidade e estupidez.
São agora 19.00h, fechei a porta do meu cantinho escudando-me da sociedade, para descreve-la como a sinto!

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns amigo,é efectivamente isto que se passa na terra do Catrana.No entanto o mais alarmante é que isto não se passa só na terra que qualquer dia vai ser conhecida pelas mesmas razões de Alcoentre,Pinheiro da Cruz,Caxias e mais uns tantos paraísos,que embora não sejam fiscais.não deixam de ser paraísos para quem mata e rouba e depois tem mesa e cama lavada...
As caralhotas vão para outro lado....
Mas voltando cá acima da narrativa isto é o que se passa em todo este redil chamado país.
Um abraço e vai comendo uma caralhotas.....

Anónimo disse...

Exactamente como foi escrito, não é a cor da pele ou etnia que marca a diferença nesta nossa triste cidade, é sim, a maneira como algumas personagens teimam em ser tristemente diferentes no seu comportamento, não têm a mínima noção do quanto a sua parvoíce perturba quem quer viver a vida com um mínimo de qualidade. E a qualidade de vida nesta cidade há muito que se foi, quer seja no atirar lixo para o chão, na poluição sonora ou nos constantes dejectos caninos espalhados pelos passeios ou espaços relvados onde as crianças brincam. Haja muita 'pachorra' para aturar tudo isto.

commonsense disse...

Esta ditosa Pátria minha amada...