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Um destes dias, numa das minhas idas a uma grande superfície comercial, encontrei um amigo, coisa que quase sempre acontece especialmente aos dias do fim semana, estava uma bela manhã de Sol, um bonito Sol de Outono, fazia frio sem estar exageradamente frio, estávamos cá fora, este meu amigo não vive por aqui apesar de ser de cá e aqui aportar amiúde, falávamos de “fait divers”, nisto o meu amigo olha para o lado e os locais de estacionamento reservados para deficientes e grávidas está cheio.
- Não sabia que esta terra tinha tanto deficiente e tanta senhora grávida – atira o meu amigo por entre um sorriso maroto. - Vá que entre todos não haja sequer uma grávida- digo-lhe eu.
- E a polícia não controla isto? - pergunta-me o meu amigo. - Não faço ideia - respondo-lhe, não digo que não o faça, pessoalmente nunca vi, não sei sequer se alguém se importa com isso, começando pelos prevaricadores claro está, mas calculando pelo à vontade com que as pessoas desta terra ocupam esses lugares reservados sem qualquer preocupação, não deve existir qualquer tipo de fiscalização.
- Onde eu vivo a polícia não perdoa, volta e meia fazem uma razia pelos parques dos supermercados, carros estacionados nos lugares reservados a deficientes que não tenham o dístico, levam logo a martelada - e bem - atalho eu. Rimos os dois, despedi-me desse meu amigo, até ver!
Domingo à tarde, chovia e fazia frio, entro no supermercado, a agrura das compras para a semana, passando as portas automáticas, o ar está um pouco mais quente, - menos mal – penso para com os meus botões, lá sigo, prateleira após prateleira, vocês sabem como é, vamos deitando um olho ao rol, e depois vai mais isto e mais aquilo, mas enfim é o quotidiano. Vamos para a caixa, outro suplício, a espera, - pela mesma ordem de chegada passem a esta caixa, um gabirú mal encarado atrás de mim arranca logo, mas eu olho pra ele e devendo estar ainda mais mal encarado o tipo encolhe-se e lá passo - menos mal – volto a pensar com os meus botões.
Pago aquela tralha toda, e a minha esposa quer um café, sigo até à área da cafetaria, à minha frente uma miúda, 12 ou 13 anos, pede um pão com chouriço um bolo e um refrigerante, paga, a funcionária pousa um cêntimo de troco, a miúda pega na comida e prepara-se para ir para uma das mesas adjacentes, - olha deixas-te ali um cêntimo – digo-lhe, - não faz mal não é preciso – responde-me sem sequer olhar para trás.
Olhei para a funcionária e sorri, a funcionária sorriu também, e com aquele sotaque do outro lado do Atlântico das quentes terras de Vera Cruz diz-me – você não vive de subsídio né, tem que contar todos os cêntimos…
- É verdade – respondo-lhe sem ter mais o que comentar, contra factos não existem argumentos como sói dizer-se, a funcionário recolhe o cêntimo abandonado depositando-o numa pequena caixa, quanto a mim, pago-lhe os cafés, encolho os ombros e fico a remoer naquele singelo pormenor, são apenas “estórias” de um cêntimo e valem o que valem.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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