terça-feira, agosto 20, 2024

Pequeno manual para, uma correcta e segura, utilização dos passeios no Bairro da Tróia de Almeirim

 


 

Um dos bairros de Almeirim, o Bairro da Tróia, é servido por uma rede viária de excelência, são uma dezena e pouco de ruas, calçadas com seixo rolado, o material mais rasca e barato que se encontrou, nos anos 30 do século passado, para colmatar a dificuldade que as carroças tinham em circular por ruas de terra batida, em especial nos meses de chuva em que se formavam verdadeiros atoleiros naquelas ruelas miseráveis.

As ruas foram então calçadas a seixo, porcaria que por cá havia, em abundância, ainda hoje o que não falta por aqui são calhaus, não existiam passeios, apenas uma ligeira valeta, separava a área de rodagem da zona mais reservada aos peões. Nos anos 80, levantaram-se as pedras todas, para colocar esgotos.

Colocados os esgotos, atapetaram novamente as ruas com os tais calhaus, voltando tudo ao que fora, no tempo das carroças, quase tudo porque se alcatroaram uma ou duas ruas ruas onde viviam pessoas “importantes”, entretanto, chegámos aos anos 90, foram mandados fazer uns passeios, elaborados numa espécie de tijolo em cimento, colorido de vermelho, nalgumas ruas, são esses passeios, tão medíocres, tão exíguos, que dois gatos famélicos não se cruzam, tendo o caro leitor de seguir quase ao pé coxinho para seguir lá por cima, ainda assim um melhoramento assinalável, foi igualmente na década de 90 que se fez aprovar uma decisão camarária que elevou aqueles calhaus medíocres a “património municipal”, uma jogada trafulha que a mais não se destinou que a obviar aquilo que os habitantes do bairro solicitavam à décadas que eram ruas condignas.

E num instante chegámos ao século XXI, o advento do turismo, impõe então que se elabore um pequeno manual que providencie aos incautos turistas, preciosa informação, sobre as peculiaridades da circulação pedonal no bairro da Tróia. É por isso que hoje, com o devido enquadramento histórico vos trago este pequeno manual, sobre como utilizar os passeios do nobre, histórico e ecológico Bairro da Tróia.

Primeiro : Ao utilizar os passeios, tenha atenção que a designação “passeio”, aqui na terra tem uma interpretação particular, não estranhe pois o caro visitante, se por cima do passeio, estiverem aparcados todo o tipo de veículos, bem como outros a circularem, particularmente os imbecis das trotinetas e das bicicletas, ele há carros estacionados, motas, bicicletas e até triciclos, o estacionamento é anárquico, visto não existirem marcações para estacionamento dos veículos, nem ninguém que fiscalize essa anarquia, tenha portanto muito cuidado;

Segundo : Ao utilizar os passeios, tenha atenção, aos muitos troçulhos caninos que os enfeitam, os almeirinenses, pessoas que adoram a higiene e limpeza, tem o hábito arreigado de deixar os canídeos defecar nos passeios, sem terem o trabalho de apanhar a trampa, um outro hábito recente, importado, tão bonitas as culturas diferentes, é deixar garrafas de vidro espalhadas pelos passeios que depois alguém parte espalhando pedaços de vidro pelo passeio, tenha portanto muito cuidado;

Terceiro : Ao utilizar os passeios, tenha atenção, por norma, num dos lados da rua, o passeio, está pejado de postes, caixas, contentores do lixo, sinais de trânsito e o mais que der para colocar lá em cima, o que, por junto com a exiguidade dos passeios ademais com veículos estacionados, condiciona, ou inviabiliza mesmo a utilização desses passeios, tendo o peão, quase sempre ter de ir circular para a faixa de rodagem, tenha portanto muito cuidado;

Quarto : Ao utilizar os passeios, quando pretende passar algum cruzamento e ou mudar de rua, tenha muito cuidado, porque não existem passadeiras, nem os passeios são desnivelados para aceder a pontos de atravessamento das vias, e como por aqui vigora a “lei” do “passa quem chega primeiro”, tenha portanto muito cuidado;

Quinto : Ao utilizar os passeios, tenha muito cuidado com as quedas, não pense que tem a tarefa facilitada, se circular nos calhaus é um pesadelo, andar nos passeios do bairro da Tróia, é um pouco melhor, mas não muito, os passeios estão em mau estado, com rampas para servir as garagens, rampas que são verdadeiras armadilhas, pois num repente a pessoa vê-se num plano inclinado sem se ter disso apercebido, além disso os passeios que estão tão mal cuidados como as ruas, apresentam buracos e blocos levantados que propiciam valentes tropeções, tenha portanto muito cuidado;

Sexto : Ao utilizar os passeios, se utilizar cadeira de rodas, carrinho de bebé, muletas e ou andarilho, esqueça, opte antes por subir os Himalaias, porque a tarefa digna de um Hércules, que tem pela frente pode fazer do mais belo dos dias uma jornada desgraçada, tenha portanto muito cuidado;

Sétimo : Ao utilizar os passeios, tenha muita atenção, siga em “fila indiana”, se vir alguém de frente, um de vós terá de ceder a passagem, tenha cuidado ao ir para a via de rodagem, os carros ali naquelas ruas de calhaus circulam a velocidades estonteantes, ao contrário do que dizem algumas luminárias, tenha também cuidado com os “sentidos proibidos”, aqui existe quase nenhum respeito pelas regras do trânsito e fiscalização não existe mesmo de todo, use calçado leve de sola rasa, os saltos altos podem ser um verdadeiro suplício, um suma se alguma vez lhe passar pela cabeça a nefasta ideia de se internar pelo Bairro da Tróia, tenha muito, mas mesmo muito cuidado.

Post Scriptum: O estacionamento é gratuito, pode estacionar à vontade em cima dos passeios que ninguém lhe dirá nada.

 

Um abraço estival, deste vosso amigo

Barão da Tróia

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