sexta-feira, outubro 20, 2023

Ser português, nascer em Portugal e ter passaporte português

 

                                                                Fonte da imagem: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues

 

Passando o estafado cliché, de sermos um povo andarilho, migrante, emigrante e imigrante, o que é um facto, o título deste artigo traduz, três diferentes realidades, daquilo que vou chamar “portugalidade”, um termo que pretendo que traduza uma realidade difícil de definir, se é que se consegue traduzir concretamente essas coisas da pertença a estes delírios “pertencionistas” grupais com que tanto gostamos e necessitamos, enquanto humanos, de nos identificar.

Começo então com o “ter passaporte português”, de acordo com o Henley Passport Index, uma plataforma de classificação global dos países de acordo com a liberdade de viagem, necessidade de visto, desfrutada pelos titulares do passaporte desse país para seus cidadão, indica que o passaporte de Portugal ocupa ex aequo com outros três países um honroso quinto lugar no índice, os detentores de um passaporte português podem viajar para 188 países sem necessitarem de visto prévio, o que torna então o passaporte nacional um documento muito apetecido, tanto, que até os roubam1 e falsificam2.

Mas possuir um passaporte de Portugal significa que a pessoa é português? Não! Graças aos vários subterfúgios, legais e ou menos legais, que ao longo destes anos foram sendo criados para “vender a nacionalidade”, Vistos Gold ou a lei dos Sefarditas, por exemplo, muitas pessoas possuem passaporte português, mas muitos nunca cá puseram um pé sequer, para essa grande e vasta maioria, Portugal é apenas um país através do qual se acede facilmente à Europa, e que possuir um passaporte de Portugal dá muito jeito para viajar Mundo fora, ter um documento que atesta que se é português, infelizmente não significa que se o seja.

Quem nasce em Portugal é português? Não! Na teoria sim, basta nascer por aqui para ser português, na realidade, muita gente que aqui nasce, não quer e ou não pode ser português. Não há volta a dar, as coisas sentem-se ou não, nascer num local não nos faz automaticamente pertencer a esse local, pior, se nascermos num determinado local mas as nossas influências culturais, sociais e ou económicas forem as dos países de origem dos nossos progenitores, a tendência é não nos sentirmos de todo pertencentes, corremos o risco de sermos excluídos e ou excluirmos-nos, criando uma situação de uma quase “orfandade” cultural e ou identitária relativa ao país a que supostamente pertencemos, nascemos num país, vivemos nesse país mas não nos sentimos de todo como cidadãos desse país.

Vemos esse sentimento de não pertença, presente em vários extratos populacionais de Portugal, nascidos em Portugal mas que não querem e ou não se sentem portugueses, isso não é bom nem é mau, é uma realidade que apenas confirma que quem nasce num determinado país não é necessariamente cidadão desse país, mesmo que “no papel” essa pertença esteja averbada.

Vamos então ao que é ser português. Não vos consigo dar uma definição, do que é “ser português” para mim é algo que se sente nas entranhas, não é um bem tangível, não é por gostar de sardinhas e ou de fado, saber o hino e respeitar a bandeira, que se é português, apesar dessas características serem parcelas daquilo que gosto de chamar “portugalidade”, ser português é mais sentir, do que verdadeiramente ser, nem sequer é preciso viver em Portugal, lembro-me de há muitos anos ver na televisão uma reportagem que mostrava um velho liurai timorense, que entrevistado, a propósito de já não sei o quê, a meio da entrevista, vai buscar uma velha bandeira nacional que tinha escondido dos japoneses por alturas da segunda Guerra, o homem desata a chorar cantando o hino e mostrando a bandeira, na sua simplicidade aquele homem, na minha opinião, mostrou ser mais português de quem muitos que por aí andam a gabar-se de serem patriotas.

Pessoalmente acredito que o “ser português” tem essencialmente que ver com o respeito e amor que se tem a esta velha nação, não interessa se somos pretos, brancos e ou verdes, “ser português” é algo superior a isso tudo, e insisto, que tem maioritariamente que ver com o respeito que este país, as suas gentes e a sua História tem de nos merecer e sobre a qual nos devemos sentir orgulhosos, porque é esse o percurso que nos trouxe até ao presente, sem revisionismos imbecis, sem juízos de valor patéticos e muito menos sem gente medíocre que mais deseja denegrir do que aceitar a realidade e trabalhar sobre ela para não repetir o menos bom, melhorar e aproveitar o bom e preservar as memórias, porque as memórias são importantes.


Um abraço, deste vosso amigo

Barão da Tróia

1https://tvi.iol.pt/noticias/sociedade/ultimas-noticias/passaportes-roubados-de-embaixada-portuguesa

2https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/homem-indiano-tenta-entrar-em-portugal-com-passaporte-falso-comprado-por-200-euros?ref=DET_RelacionadasInText

 

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