sexta-feira, outubro 27, 2023

As bolinhas de tinta

 


 

 Adoro esta coisa portuguesa do “decoro” da “reserva”, um tique que nos ficou dos 48 anos de canga ao pescoço, do tempo do lúbrico sacrista o famoso “Botas” de Santa Comba, não que hoje a tenham largado, mas isso são contas de outro rosário como sói dizer-se, outra parcela desta equação desta coisa tão lusa que são os “bons costumes” e a patética resignação que nos advém dos adoradores de altares, ah esta nossa propensão para a ratice de sacristia, que tanto jeito tem dado ao longo destes quase 900 anos que este pardieiro leva de existência.

E é a esta doce resignação dos condenados, que os nossos politiqueiros se habituaram desde que a tal “Democracia” nos entrou pela casa adentro, não que a tenhamos pedido, mas pronto. Habituados então à mansidão, longe vão os tempos das “feras gentes” de que falava o zarolho poeta, agora e há muito, que o que temos são, as mui mansas gentes, os politiqueiros habituaram-se a que não importa que trafulhices e trapaças façam, o poveco não reage, quando muito nas eleições seguintes vota em massa, aqueles que ainda votam, no outro partido de farsantes impostores, que mais não fará que o mesmo dos anteriores, num ciclo vicioso que nos persegue há umas 4 décadas.

Ora, assim desabituados de um contraditório que é essencial à tal Democracia, os nossos politiqueiros, foram fazendo o que querem, quando querem e como querem, o escrutínio é quase nulo, logo a coisa quase sempre corre bem, é por tal, por causa dessa “mansidão” quase bovina da populaça, que no limite, de quando em vez, se dedica a gritar umas palavritas de ordem, todos bem alinhados, por detrás de barreiras de metal e polícias arreados de escudos, capacetes e cachaporros, o politiqueiro sente-se então seguro, "vozes de burro não chegam ao céu", pensa o politiqueirote medíocre.

Mas a coisa está a mudar, parece-me, lentamente, como quase sempre acontece por cá, primeiro foram uns cartazes, que parece que ofenderam muito o senhor Primeiro-ministro, e que fizeram correr regatos de tinta e muitas acusações, de um lado os seráficos apóstolos do “decoro” e dos “bons costumes, do outro os mafarricos, que ardam no fogo infernal para todo o sempre, esses defensores despudorados da Liberdade de expressão e da Democracia. Pior foi quando, umas miúdas parolecas, resolveram, atirar umas bolitas com tinta, primeiro ao excelente ministro Galamba, exemplo cimeiro da presteza politiqueira nacional, posteriormente agraciando outro portento do intelecto político, o ministro Medina, com também uma saraivada de bolitas de tinta.

As raparigas contestam as políticas nacionais sobre o clima, sobre a poluição e essa coisas menores, resolvendo então atirar as tais bolitas de tinta, a coisa resolveu-se com uns gritos esganiçados e com a detenção das perigosas meliantes, espantados os politiqueiros e os seus cães de fila foram lestos a zurzir na miúdagem, criticando claro está a ausência do “respeitinho” e da “ordem”, aparentemente ausentes da educação daquele miudagem, e o que não faltou meus caros de gente, gentinha e gentalha a cagar postas de pescada, criticando as miúdas por aquela estouvada atitude, tão contra a moral e os bons costumes da populaça bovina. Desde o intelectual penteadinho, ao macavenco do dia a dia que vocifera nas redes sociais, quase todos se insurgiram contra aquelas cachopas desocupadas que ao invés de estarem em casa a estudar para serem boas mães, boas esposas e boas donas de casa andavam por ali a brincar com bolinhas de tinta atentando contra a dignidade dos senhores ministros, curiosamente o único que vi “defender” o acto foi sua excelência o senhor Presidente da República que a esse propósito disse, “que a contestação dos jovens demonstra que estão preocupados com as alterações climáticas e que essa não é uma realidade nova em Portugal”.

Pois meus caros, pessoalmente tenho a dizer-vos que muita sorte tem os nossos politiqueiros, por cá levam com bolinhas de tinta, noutros países, é certo que menos civilizados que o nosso, o habitual são os ovos, os tomates, os legumes podres e até sacos com estrume.

Pessoalmente, apesar de a ideia de ver a escumalha politiqueira levam com sacos de estrume pelas trombas me seja gratificante, eu aconselharia ao invés o tijolo de burro, mesmo partido ao meio, parece-me um muito melhor argumento que meras bolitas de tinta, nada como levar com um tijolo de burro nos cornos, para que se abra a pestana e se perceba que tem de respeitar as pessoas, mas claro que isso nunca vai acontecer, a contestação, estará sempre a cargo de meia dúzia de miúdos e ou miúdas, por que o resto do povaréu, continuará, manso, capado, cooperante e sabujo. Curiosamente aquelas miúdas mostraram ter mais bolinhas, que 99% da boiada capada que compõem o poveco deste pardieiro.

Um abraço, deste vosso amigo

Barão da Tróia

 

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