Este nosso bom
Portugal, parece um episódio de uma série que passava na RTP2 há uns bons anos,
que se chamava “Twilight Zone” em português “Quinta Dimensão”, afirmo-o por
causa das várias realidades, das várias dimensões, que se vivem, convivendo
alegremente neste único plano tridimensional, Portugal, porque por incrível que
pareça convivem por cá realidades diversas, por vezes conflituantes, tantas que
são, que parece milagre que isto funcione como um país, tal é por vezes a
distância que separa estas realidades de interesses divergentes.
Desenvolvamos
então, desde logo, a realidade da diferença entre um Norte beato, por oposição
a um Sul mais libertário e humanista, com as mitologias identitárias típicas
desta dicotomia, o Norte é mais assim no Sul é menos assado e por adiante.
De seguida a
realidade oposta entre uma faixa litoral povoada em demasia, versus, uma faixa
interior literalmente desertificada, no que concerne à população, às
instituições públicas e à autoridade do Estado, que estou em crer que no último
terço deste país nem existe já.
Temos depois o país
do povo, mas nem esse é homogéneo. Existe um povo, honesto, trabalhador,
respeitador, civilizado e decente, cada vez menos, que luta em desespero contra
uma cada vez maior turba de grunhos, de parasitas, de gentalha miserável, torpe,
uma corja acéfala de biltres, de pulhas, que vivem do trabalho do povo honesto
e trabalhador, realidades incompatíveis mas que forçosamente vão convivendo.
Aparece depois o
país dos políticos, por oposição a quem tem de viver com 600 Euros ou menos por
mês, o país dos gabinetes com ar condicionado, o país do dinheiro a rodos para
despesas de representação e motorista, versus o país dos patetas desgraçados
que a meio do mês já estão falidos, o país dos empresários que andam de topo
gama de 100 mil Euros, mas que vivem a chorar cada Euro que pagam aos seus
empregados, um país de poucos com anafados rendimentos por oposição a muitos
que trabalham por migalhas.
O país dos mais
novos, sem eira nem beira, perdidos em consumos, cheios de certezas e euforias
por oposição aos mais velhos, perdidos sem esperança, agarrados a drogas
medicamentosas que os mantêm vivos, alimentando a poderosa indústria das
farmácias.
Portugal é pois uma
grande amálgama de realidades, facto que acrescenta um maior tom de surrealismo
ao modo como esta sociedade funciona, ou antes, adensa a perplexidade que se
instala em perceber como é que este concreto disfuncionalismo se torna de facto
funcional, sendo que parece que por “motu proprio” as engrenagens vão rodando
no sentido certo mesmo apesar dos muitos entraves causados pelas burocracias e
pelo faz de conta nacional que parecem desafiar a velha locução latina do “Ex
nihilo nihil fit”, pois quando menos se espera em Portugal do mais profundo
nada vem uma qualquer cretinice absurda que nos faz ficar de queixo caído e
comentar “...isto só em Portugal...”.
Entretanto a
propósito do vírus vira-se o povaréu para o demiurgo celeste, à espera do
famigerado milagre de que tanto por cá se gosta e invoca, lindo será assistir
de camarote ao que aí vai a propósito desta maleita manhosa, veremos se o
surreal não ultrapassará novamente a realidade, nesta quinta dimensão que é
Portugal!
Um abraço deste vosso amigo
Barão da Tróia
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