Preocupado
com o crescimento do turismo, que também por aqui se nota, resolvi elaborar um
pequeno guia que tem apenas por objectivo fornecer orientações genéricas que
sirvam ao insuspeito visitante aqui do burgo para uma melhor percepção da
realidade bem como das idiossincrasias locais, para que assim munido desta
ferramenta informativa, melhor desfrute das maravilhas desta reserva da
biosfera, um verdadeiro Éden terreno jacente aqui nas charnecas junto ao Tejo,
esse belo regato.
Ora
então vamos lá. No que ao trânsito concerne, importa dizer que a terra é de
fácil acesso, sendo essencialmente plana, os parques de estacionamento são
gratuitos, porém se os mesmos estiverem lotados e não conseguir um lugar
decente mesmo à porta daquele sítio onde quer ir, não desespere, na dúvida e
para ficar descansado basta fazer como os locais, estacione em cima do passeio
ou mesmo em cima das passadeiras, ligue os quatro piscas e pronto, não tema
porque ninguém lhe diz nada, tenha atenção que nesta terra os sinais que
proíbem o estacionamento são apenas indicativos, não são para levar a sério, os
parques de estacionamento servem complementarmente, para sua maior comodidade,
como casa de banho a céu aberto para pessoas e animais, local de diversão nocturna
onde pode cantar, dançar, ter sexo, drogar-se, berrar o mais alto que
conseguir, acelerar o carro, fazer peões com o carro e tudo o mais que se
lembrar.
Quanto
às regras de trânsito, o ilustre visitante deve ter em atenção que os indígenas
aqui da reserva da biosfera não têm muito apego a essas regras modernas do
homem branco, não se fie em “Sentidos proibidos”, em sinais de “STOP” ou de
“Perda de Prioridade” os indígenas locais não se regem por essas regras, tem
regras próprias, por isso é vulgar aparecerem todo o tipo de veículos a
circular em sentido proibido, nomeadamente velocípedes e motociclos, no entanto
carros, carroças e carretas são também clientes habituais, é também vulgar
gente a pé pelo meio das ruas, o que é normal porque os passeios estão a ser
utilizados para coisas mais importantes como estaciona o carro.
Desconfie
do sinal de STOP bem como da regra da prioridade, em Almeirim não sabem o que
isso seja, o vulgar “pisca-pisca” é facultativo, para dar mais emoção à
condução, quem vem atrás ou quem está à frente tem de adivinhar o que os condutores
querem fazer.
Se
andar a pé, aproveite, pois terá a oportunidade de fazer excelentes sessões de
exercício, que irão ajudar a digerir as iguarias locais, tenha porém muito
cuidado nas passadeiras, porque os indígenas, de novo, tem um conceito muito
próprio sobre as mesmas, o condutor local é raro parar, no máximo até afrouxa
mas é o limite, por isso se for a atravessar a passadeira, não pare, não volte
para trás, se cair alguma coisa no chão deixe ficar, porque se pára corre o
risco de estragar o carro ao senhor condutor.
Por
outro lado se utilizar os passeios não estranhe ter de se desviar de carros
estacionados em cima dos passeios, de motocicletas estacionadas em cima dos
passeios, de gente circulando de bicicleta por cima dos passeios, de passeios
ocupados com tudo o que se possa imaginar desde, entulho de obras, contentores
do lixo, floreiras, baldes, grades, postes de iluminação bem, como todo tipo de
caixas e caixotes, é extremamente rústica esta cidade de um exotismo impar.
Os
pontos de interesse turístico são vários e bastantes abrangentes, nos dias
certos podem os turistas ávidos de cultura desfrutar da beleza das nossas
pirâmides, sim Almeirim também possui pirâmides, apesar de serem de lixo elas
embelezam as redondezas dos contentores e ou dos ecopontos.
A
famosa vala de Almeirim é um outro excelente ponto turístico, recomendada para
passeios campestres ao longo das suas margens, o visitante poderá estranhar a
quantidade de esterco que corre naquelas águas, recordamos que opção foi manter
aquele curso no seu estado original para o visitante ter a real percepção de
quão bom é a vidada rural. Não estranhe também, o por vezes intenso cheiro a
dejectos que paira no ar, é apenas o intenso perfume do campo, o perfume da
agricultura intensiva, aproveite que nas cidades poluídas não há disto, este ar
puro e revigorante, desfrute de uma bela malga de sopa de pedra enquanto sente
o inebriante odor do campo.
O
caro turista pode também visitar os milhares de montes de trampa de cão, alguns
remontando ao século XX, que enfeitam, áreas ajardinadas, passeios, portas e
recantos de toda a cidade denotando o antiquíssimo e proverbial asseio das
gentes locais, evite porém que as suas crianças se rebolem na relva das zonas
ajardinadas pois as mesmas estão regadas de urina e fezes de canídeo e as suas
crianças podem conspurcar e ou destruir esse valioso património local.
O
visitante pode visitar zonas interessantes como a “Pequena Bombaim” ou a “Romlândia”
zonas onde pessoas de outras culturas mostram que Almeirim é um excelente foco
de pujante multiculturalismo, poderá ver cães cheios de pulgas, carraças e
sarna, cavalos e mulas de quando em vez alegremente a passear pelas ruas ou a
deambular em parques de estacionamento de grandes superfícies comerciais, no
caso dos ruminantes pode encontrá-los a pastar em terrenos baldios em plena
cidade, se os vir a correr pelas ruas, pare e aguarde que passem esses animais
são espécies protegidas.
Existem
também interessantes núcleos habitacionais antigos cujas ruas são de calhaus,
sendo excelentes locais para andar a pé, para utilizar muletas, carrinhos de
bebé ou cadeiras de rodas, aliás um desses locais, o histórico bairro da Tróia
está desenhado para ser o primeiro bairro do Mundo inteiramente concebido para
que pessoas com problemas de mobilidade se possam movimentar à vontade, o
pavimento ecológico de seixo permite à pessoa rebolar por ali afora sem mais
problemas, é local a visitar.
A
gastronomia é excelente para além da famosa Sopa da Pedra, podem sempre
escolher pratos de excelência com ou sem batata frita. As pessoas são
acolhedoras, simpáticas e especialistas na arte de bem receber, pode cuspir
para o chão à vontade, coçar as partes, falar o mais alto que conseguir,
atender o telefone aos berros, atirar lixo para o chão, mictar atrás de
qualquer coisa ou mesmo a descoberto num qualquer local que ninguém lhe dirá
nada.
Espero
que este pequeno guia, sirva para fornecer ao alegre turista umas pequenas orientações
sobre os hábitos dos indígenas, facilitando desse modo a percepção e integração
do visitante nas rotinas locais, por isso visite Almeirim verá que esta não
defraudará as suas expectativas no que toca ao exotismo das paragens remotas,
pois temos areia, temos palmeiras, temos camelos, cavalos, mulas e porcos temos
mesmo muitos porcos, de todas as cores e proveniências!
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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