O
frio era descomunal, apesar do sol que despontava tímido aquecendo, pouco, as
aves madrugadoras, cada vez menos porque a agricultura intensiva está a matar
tudo, mas andando que isso não interessa para nada. Pousado singelamente junto
ao contentor do lixo, um saco cheio de lixo, jazia ali abandonado, privado da
companhia dos seus amigos, outros sacos do lixo, que dentro do caixote se
divertiam à grande, tudo porque uma alma malvada, achara que levantar a tapa do
caixote e depositar o pobre saquinho lá dentro era tarefa demasiado hercúlea,
pode parecer pouco comum mas aqui em Almeirim, famosa capital dos javardos é
normal.
Ali
estava aquele pobre saco, prenhe de todas aquelas imundices que os sacos do
lixo contém, para além das embalagens, que deviam ir para a reciclagem, mas de
novo, como isso dá muito trabalho vai tudo ao monte para dentro do saco e de
seguida para o contentor e às malvas com a reciclagem.
Por
ele, pobre saco de lixo por todos desprezado foram passando algumas personagens
cá da terra, a primeira foi um “cheira-caixotes”, uma espécie que campeia cá
pelo burgo, uns são casos sociais de pessoas que deviam estar
institucionalizadas por serem casos concretos de falta de saúde mental, outros
são profissionais da recolha de objectos que aparentemente são lixo, mas que
servem para negócio, outros ainda são apenas casos de imbecis, porque com a
quantidade de instituições de ajuda e de coisas à borla para os ditos
“carenciados” que existem por aqui, não consigo perceber porque é que alguém
ande a remexer em caixotes, mas posso estar errado claro está e pode haver quem
o faça por miséria.
Ora
como disse a primeira criatura que se aproximou do saco foi um desses
“cheira-caixotes” empedernidos que o faz por vício, abriu o saco espalhou algum
do seu conteúdo pelo chão e seguiu o seu caminho rumo a outros caixotes mais
promissores. O pobre saco ficou ali a sofrer de barriga aberta com algumas das
entranhas espalhadas pelo chão, uma garrafa de plástico, uma casca de banana
mais um saco de plástico daqueles transparentes com qualquer coisa lá dentro,
triste cena aquela, pouco edificante mas habitual aqui pelo burgo, habitat
preferido dos suínos.
Seguiram-se
outras personagens, o caminhante dominical, com o seu chapéu de feltro e ar
apatetado, pessoa sempre melindrada com tudo e com ar de que todos lhe devem e
ninguém lhe paga, passou também a passeadora de cães mais o seu rafeireco
imundo, a jovem ambientalista modernaça, daquelas que vai à missa e faz
voluntariado no Mali, que é contra a poluição e assim, mais a senhora muito
importante sempre ocupada, sempre muito ocupada que passa apressadamente sem
sequer olhar, mais uns quantos que me dispenso de trazer o exemplo por receio
de enfadar o leitor, certo é que toda esta maralha, passou ali por aquele pobre
saco do lixo ferido sem sequer lhe deitar um olhar quanto mais ajudar
colocando-o dentro do contentor, nem mesmo a velha porca, que não usa sacos do
lixo e despeja os baldes cheios de porcaria directamente no contentor deixando
sempre a tampa aberta, até um cão abandonado por ali rondou cheirou e partiu
sem mais aquela.
Várias
foram pois as pessoas e pelo menos um cão, que por ali passaram, sem sequer
olharem para aquele degradante espectáculo. No entanto nem toda a esperança
está perdida, pois uma senhora, pessoa de visíveis posses limitadas, caminhando
com dificuldade, passou por ali, colocou o conteúdo espalhado no passeio de
novo dentro do saco, colocando depois o saco dentro do contentor, fechando o
contentor que a velha porca deixara aberto como sempre faz. O interessante de
toda esta “estória” é que o bom exemplo veio de alguém de quem à partida
pessoalmente não esperava, o que prova que o ser humano pode sempre surpreender
pela positiva e que apesar de Almeirim ser uma terra de gente muito porca com péssimos
hábitos de higiene ainda existem pessoas decentes.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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