São
sete da manhã de um ensolarado Domingo, lá fora tudo é calma e sossego, trinam
os pardais telhado e o tirititiu do melro desconfiado ecoa pelos ares, o
povaréu dorme na paz dos justos, cá dentro entretenho-me a folhear o jornal de
ontem, enquanto degusto a sandocha e o belo chá quente, no meu colo sua Graça
Dom Patinhas Marques de Mafarrico, para os amigos M&M, ronrona satisfeito
com a vida.
Entretanto
vindo lá do fundo da rua, vejo-o a acelerar, eis que chega sua alteza o
burgesso, chega à rua e faz marcha atrás em sentido proibido, manobra que o
burgesso típico adora, para quê ir dar a volta se pode fazer marcha atrás em
sentido proibido, se os senhores da polícia vierem ele está em correctíssima
posição.
Antes
de parar a viatura uma aceleração, umas buzinadelas, são sete da manhã de um
ensolarado Domingo, lá fora tudo era calma e sossego, o burgesso chegou, ele é
dono da rua, dono do Mundo e dono do sossego dos outros.
O
burgesso sai do carro aos berros, aos berros continua enquanto bate num portão,
lá de dentro respondem igualmente aos berros, a “burgessice” parece
hereditária, povoa a génese do ser vivo por ela afectado como uma mancha de gordura
que se espalha numa folha de papel empapando-a, é uma impressão digital
genética fantástica. São sete da manhã de um ensolarado Domingo, lá fora tudo
era calma e sossego, calaram-se os pardais e o melro esse, bem avisado deu às
de Vila Diogo, só a berraria que o burgesso insiste em fazer se ouve além do
carro que continua com o seu trabalhar sincopado mais o rádio que debita
sonoros decibéis das musiquetas palonças da época, lá se foi o sossego de
muitos dos que ali vivem por perto.
Esta
cena que acabo de descrever é a cena típica do burgesso lusitano, neste caso da
sub espécie Burgesso de Almeirim (Burgessum Lezirianus) de seu nome científico,
que habita aqui a zona, esta espécie tem como características principais e
peculiares o mais completo desprezo pelos outros, a arrogância e a labreguice,
o burgesso tem uma agenda só sua, os seus interesses sobrepõem-se a tudo, ele é
dono do Mundo, dono das ruas, todos os outros existem na imediata possibilidade
que lhe servem para algo, quanto mais não seja para achincalhar, actividade que
o burgesso adora, na sua pequenez patética de medíocre intelectual adora
achincalhar os outros, todos aquelas que consideram seus inferiores, quanto aos
que considera superiores, poucos, tem para com eles a atitude clássica da
subserviência do verme sem coluna que é, confirmado lambe-botas o burgesso
desvela-se em atenções, em encómios e louvores aos seus superiores, sempre na
esperança de ser agraciado.
O
burgesso é umbiguista, que interessa toda aquela gentalha, a palavra “EU”
domina quase sempre o léxico do burgesso, no fundo é um pobre diabo, sobre quem
muitos; por vezes maldosamente, devo acrescentar, contam anedotas que o cobrem
de ridículo, soubesse ele que se tem em tão grande conta que é olhado como um
lorpa patético, talvez mudasse, mas não o burgesso não muda, aquilo vem nos
genes, nem sequer percebe que não é por conduzir um carro de marca conceituada,
um topo de gama, que é melhor que ninguém, não percebe que não são os
“modelitos” o fato e gravata, o empregozeco de sector terciário, as modas, os
gadjets e os ares modernaços que lhe desfazem a “burgeirisse”, infelizmente
para ele o facto de ser um burgesso não se atenua com as fatiotas, os modelitos
e os cortes de cabelo, aqui o “hábito serve mesmo para fazer o monge” dado que
as suas escolhas de indumentária denotam de imediato a espécie a que pertence,
sendo fácil identifica-los como burgessos.
E se
não servirem esses indícios, a forma como trata os outros, como não respeita os
direitos dos outros é sintomático da sua condição de burgesso. Infelizmente,
fosse aquele que vi naquela manhã ensolarada de um Domingo quando eram sete da
manhã, caso único, seria mau mas não seria catastrófico, o dianho é que esta
terreola está cheia de burgessos, um cataclismo de “burgessaria” abateu-se
sobre esta terra, o burgesso espécie que prospera a olhos vivos, está por todo
o lado, estacionados em cima dos passeios, a circular de bicicleta por cima dos
passeios, estacionados nos lugares para deficientes, a berrar e a fazer barulho
altas horas da madrugada, a berrar ao telemóvel, eles estão no emprego, na
vizinhança, na escola, eles estão infelizmente em todo o lado, pespegados atrás
de ti na bicha do supermercado, são a maior das pragas e parece não haver nem
cura nem controlo eficaz que contenha este tipo de parasita.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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