“Que povo é este,
que povo
Que vende os rios que tem,”
Que vende os rios que tem,”
Excerto do fado “Que
povo é este, que povo”, popularizado por António Mourão, letra de Vasco de Lima
Couto.
Bem difícil é a
resposta a esta questão, “Que povo é este, que povo?”, quem afinal somos nós
enquanto povo, enquanto sociedade quase milenar? Que é isto de ser português?
É com muita
perplexidade que olho para isto que aparentamos ser, para lá do eterno Fado, da
Sina, que nós faz há 600 anos correr as partidas do Mundo, em busca de sabe-se
lá o quê, esquecendo-nos de aqui fazer para melhorar. “Que povo é este, que
povo?”, que se insurge contra isto aquilo e aqueloutro que no Mundo se passa
mas tolera o quase diário martírio de mulheres às mãos dos bois capados e
mansos dos homens nacionais, “Que povo é este, que povo?”, que se resigna com
tal obscenidade e que permite a existência de Juízes que fazem alusões a
lapidação da mulher adúltera, como em qualquer bom regime ditatorial talibã.
“Que povo é este,
que povo?”, que continua a deixar as suas crianças à mercê de tudo e mais
alguma coisa, que as maltrata, que as não defende, antes pelo contrário,
menoriza o seu sofrimento, as suas dores e desventuras, parecem não colher a
atenção dos poderosos e menos ainda dos patetas que os elegem, “Que povo é
este, que povo?”, que maltrata velhos frágeis! Que gentalha medíocre é esta,
que rebotalho é este que por aqui habita e encolhe os ombros, procrastinando a
sua própria existência para as calendas do finamento quando se dirão da praxe
os “améns” e se acende a socrassanta velinha à santinha, “Que povo é este, que
povo?”, que assim procede sempre à espera que outros se levantem para lhe
defender as partes.
“Que povo é este,
que povo?”, tão lesto sempre a achincalhar quem pensa de modo diferente da
maralha. Sempre tão lesto a opinar sobre a vida dos outros, a impor regras e
moral bafienta, que nem é sequer capaz de lidar com as misérias que tem. Que
ralé é esta que se acomoda aos fogachos da moda, às partilhas de frases
patetas, às fotografias do pezinho na areia e do cãozinho mais do prato de
rúcula comida com fastio num qualquer ermo pateta em que se paga um preço
obsceno por um fugaz momento prandial que mal apreciam na ânsia da “la minute”
tirada com o aparelhómetro que custa os olhos da cara e do qual nunca se
separam, parecendo uns tristes patetas cibernáuticos, sempre ligados ao Mundo
esquecidos as desgraças ao seu redor que insistem em não ver, preocupados com
minudências e futilidades.
“Que povo é este,
que povo?” que se insurge, discute, ralha e se maltrata por causa de um jogo
onde empurra bolas demasiado bem pagos a par de outros mafiosos e trânsfugas
vigaristas se entretêm num faz de conta que enlouquece os patetas, o mesmo povo
que lânguida e mansamente assassina as suas mulheres, viola as suas crianças e
espanca os seus velhos sem sequer parar um segundo a pensar nessas atrocidades
diárias, que interessa chegando a Maio acende-se mais uma velinha e paga-se uma
promessa e tudo é lavado.
“Que povo é este,
que povo?” que se assassina nas estradas onde andam podres de bêbados, drogados
qual bestas perdidas a acelerar como toupeiras cegas doidas “Que povo é este,
que povo?”
“Que povo é este,
que povo?” que poluiu à água de que precisa para viver, que deixa envenenar o
chão onde planta o que come, que mata os animais preciosos da natureza sem
sequer nisso pensar, um poveco que se deixar ludibriar por gente medíocre e
trafulha, “Que povo é este, que povo?
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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