Não sei se estão
familiarizados com um insecto, que muito se via por aqui, nos quentes Verões do
antigamente, o pirilampo, também apelidado de vaga-lume ou “caga-lume” epíteto
que lhe davam aqui nas redondezas, isto claro antes da agricultura intensiva ter
morto tudo com os pesticidas, está até a matar-nos mais directamente, poluindo
as águas o ar e a comida, mas isso são contas de outro rosário, comam produtos
ditos “biológicos” e façam de conta que estão a comer coisas saudáveis.
Mas voltando ao tema
de hoje, o “Caga-passeios” é uma espécie de pirilampo, mas não emite luz pelo
rabo, emite outra coisa, uma substância castanha que se cola às solas dos
sapatos. Apesar dos constrangimentos ambientais, é uma espécie em franca
expansão, um simbionte, produto da relação simbiótica entre duas espécies de
mamíferos, um canídeo e um humano, numa estreita colaboração em que um passeia
e o outro caga.
Pelas frescas manhãs
ou rente à tardinha, o “Caga-passeios” invade as ruas de todas as cidades deste
paraíso, infelizmente para o mar, à sua beira pespegado, é vê-los saltitando de
roda em roda, qual versão estragada de colibri, dos carros estacionado nas
redondezas do covil do “Caga-passeios” ou dos carros estacionados nos parques
de estacionamento, local de eleição desse tipo de animal, onde é possível
observar as várias sub-espécies do “Caga-passeios” de seu nome científico “Homo
Suinus et Rafeirus”.
Entre as várias
sub-espécies, destacarei o “Homo Suinus Rapidus”, especializou-se em cagar e ou
mijar em andamento, desloca-se rápido de forma quase furtiva, desponta lá ao
fundo e num repente dobra já a esquina, depois de consistentemente ter mijado
em cinco ou seis jantes de carros estacionados e arreado mais duas cagadelas
que ficam quase sempre a enfeitar o local.
Destaco também o
“Homo Suinus Desconfiadus” conduz o rafeiro sempre em alerta, olha para todo o
lado, sabendo que mais tarde ou mais cedo vai sair uma cagadela, que não vai
apanhar, olhando em redor para ver se ninguém o vê enquanto deixa o rafeiro
mijar as esquinas, os carros e por vezes as portas, destaca-se pela esmerada
educação, cumprimentando toda a gente à esquerda e à direita, tenta ser
circunspecto quase invisível.
Outra sub-espécie
intressante é o “Homo Suinus Fingidus “, tão ou mais porco que todas as outras
espécies, este é adepto do lema “vou mas é cagar longe”, é o rei da simpatia,
dá-se ao trabalho de percorrer grandes distâncias, para nunca ser apanhado a
cagar e a mijar as ruas, passeios, portas e ou carros no seu bairro, usa
essencialmente as ruas dos bairros adjacentes ao seu para efectuar as
descargas, nunca ninguém o verá a cagar e ou a mijar a porta ou o carro do
vizinho, porque ele é civilizado e conhecedor dos mais avançados conceitos da
higiene pública.
O “Homo Suinus
Imundus”, surge sempre a horas certas; é de todos o mais porco, ar boçal,
complementa as cagadelas que o rafeiro distribui pelos passeios com escarros
repuxados é um exemplo excelente da espécie.
São também de
admirar as muitas versões femininas do “Homo Suinus” da avozinha badalhoca,
passando pela porca da cabeça oca ou a porquita do jet set, é enternecedor ver
as suas interacções no seu ambiente natural.
Nas suas múltiplas
manifestações o “Caga-passeios” é um animal gregário que gosta de socializar,
vê-los aproximarem-se, ver a sua linguagem corporal, o esticar e recolher das
trelas, o ritual de cortejamento é extremamente interessante, trocam-se
cheiradelas, cumprimentos, beijinhos e apertos de mão, sorrisos fingidos e
gargalhadas patetas, trocam-se experiências sobre os melhores locais para cagar
e mijar em sossego, informam-se e queixam-se uns aos outros sobre vizinhos
malévolos, gente medíocre e mal intencionada, que detesta ter o passeio frente
à porta de casa cheio de merda ou os pneus do carro sempre ensopados em mijo de
cão ou sobre cretinos insensíveis que escrevem artigos medíocres em jornalecos
da Internet, são gente que lhes merece todo o desprezo, gente que odeia os
animais, monstros que não sabem apreciar o prazer do merdum colado ao sapato ou
da urina fétida a escorrer pela porta de casa.
Os “Caga-passeios”
prosperam, olho aqui para os passeios da terreola onde resido e bem se vê o
desvelo que põem nessa actividade, então mas não são proibidas essas
manifestações de porcalhice? Parece que sim, até pelo bom senso, mas como
estamos num país onde bom senso pouco existe, respeito pelos outros menos
ainda, um país onde os hábitos de higiene continuam fraquinhos e onde os
representantes da autoridade do Estado nem numa prisão de alta segurança
conseguem impor a dita autoridade do tal Estado o que dizer das actividades dos
“Caga-passeios”, ninguém liga, a começar pelos próprios, que vão continuar
alegremente pelos passeios deste tal paraíso a espalhar os seus belos
troçulhos, para que qualquer incauto palerma encha a sola do sapato com aquela
matéria viscosa e ande o dia inteiro a cheirar a merda de cão, tão bom!
Confidenciaram-nos
em exclusivo que o grande Sir David Attenborough prepara um safari a terras
lusitanas para documentar o fantástico e maravilhoso mundo do “Caga-passeios”,
importa pois ficar atento a esse documentário que será mais um excelente
documento sobre a vida selvagem em ambiente urbano.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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