Há uma década que um serviço oncológico pediátrico de
um hospital público, funciona em condições absolutamente miseráveis,
dignas porém, do pardieiro de terceiro mundo que realmente somos.
Há uma década, que esse serviço funciona, sem que
ninguém, a começar pelos mais interessados, (administradores, pais das
crianças, médicos, enfermeiros, directores clínicos), tenha sequer dito
uma palavra sobre o assunto, facto que acho estranho, isto apesar de um
Primeiro-ministro ter ido a essa instituição para actuar numa das
costumeiras encenações que os políticos gostam de fazer, uma infeliz e
medíocre propaganda oca, depois chamam populistas aos outros.
Há uma década que o serviço de oncologia pediátrica do
Hospital de São João no Porto funciona no dizer da administração do
mesmo hospital, em "condições miseráveis", vários governos passaram
desde 2008, nenhum deles, fez absolutamente nada, excepto actuações
demagógicas, populistas e medíocres.
Num repente na semana passada o assunto salta para as
parangonas dos jornais, colunistas em barda criticam, uns poucos bem,
porque analisaram objectivamente a questão, a maioria porém politizou a
coisa de forma sectária, desviando do cerne da questão o problema real
que são as condições miseráveis em que se tratam crianças vitimas de
cancro, para colocarem o fulcro nas guerrinhas partidárias entre governo
e oposição.
«Em Portugal não se faz política, antes se chafurda!» O
facto de que há uma década que um serviço de oncologia pediátrica
funcione provisoriamente em contentores, é disso prova. Porém assim que o
assunto, em boa hora mas atrasado, saltou para a comunicação social,
não faltaram os do costume a aparecerem grunhindo loucamente,
chafurdando muito politicamente, sobre o tema, todos opiniosos, todos
detentores de soluções miraculosas.
Há uma década que um serviço de oncologia pediátrica,
funciona vergonhosamente desfalcado de condições, há uma década que
ninguém diz nada, há uma década que andam todos calados, agora
subitamente assim do nada, lembram-se que tudo está mal, o que é que
esta gente toda andou a fazer durante estes três mil e seiscentos dias?
Tiveram portanto pelo menos três mil e seiscentas
oportunidades de falar sobre o assunto, de denunciar aquela vergonha,
desde de 2008, tiveram tanto tempo para fazer uma denúncia porquê só
agora?
Essa dúvida persegue-me, porquê só agora. Para além
dessa dúvida, o resto é o miserabilismo normal deste pardieiro chamado
Portugal, é ver os berrões, os bácoros, as marrãs e os varrascos de
todas as cores políticas a chafurdar, as procissões dos porcos
politiqueiros a entrar pelo hospital adentro, para chover no molhado,
cercados pelas televisões, alguns deles saídos há bem pouco do poleiro,
que nada fizeram, contribuindo antes para o maior descalabro, exibem
agora o rosto da surpresa e da mentirosa indignação, cara dos biltres e
pulhas que nada fizeram nos dez anos que isto já leva, são uns
medíocres, uns pulhas mentirosos, que vivem disto.
Há uma década que um serviço de oncologia pediátrica,
funciona como um qualquer hospital do terceiro mundo, entretidas andam
as gentes a discutir futebol, a discutir energúmenos, a discutir
penaltis, as mesmas gentes que diariamente arranjam tempo para discutir
futebol, são as mesmas que em dez anos nunca se recordaram de publicar
uma linha que fosse sobre um serviço de oncologia pediátrica, que
funciona em tão nefastas condições.
Que gente é esta? Que gente somos nós? Que país é este?
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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