A ditadura de antanho, de vários
desconhecida, ainda que muitos outros por ela suspirem, habituou-nos aos
tristemente conhecidos três “F”, (Futebol, Fátima e Fado), durante
esses anos doirados da nacional carneirice, a maltinha viveu sobre esse
signo, que continha intrinsecamente encerrado dentro, aquela coisa muito
nacional do destino, da sina, dos pobretes mas alegretes, mais a
alegria no trabalho, felizes os que ignoram, ámen.
Nesses tempos a coisa era muito mais
simples, havia respeitinho, velavam os da DGS mais a bufaria, mais que
muita, que sempre fomos um país de bufos reles, as massas andavam
entretidas e oravam, abençoadas.
Primeiro, entretiveram-se com o evitar a
guerra, (a Segunda Mundial), cheios de fome, que o de Santa Comba,
fazia marchar as viandas para os teutões que pagavam em oiro judeu,
passada a desgraça guerreira, hossanas ao filho do “Manholas” o
providencial santo salvador, quilos de velinhas e ave-marias, vela
Cerejeira pelas ovelhas mansas, é pois tempo de ir à pressa criar um
Império, para o qual, nos quatrocentos anos anteriores não houvera nem
cabedais nem ensejo para fazer, assim passa década e meia, o Mundo porém
como diz a canção «pula e avança», nós por cá entretidos a tirar cotão
do umbigo, fazendo de conta que não é nada connosco.
Entretanto os indígenas do Império,
perceberam que eram no Mundo os últimos a sacudir a canga, é tempo de
ir, “pra Angola e em força”, as massas estão agora entretidas na guerra
salvadora do Império, pois porque quando já mais ninguém tinha impérios
nós que nunca o tivemos insistíamos, pronto lá se entreteve a malta,
dando-se vazão ao oiro com que os germânicos nos tinham pagos os
presuntos mais as orelheiras de fumeiro.
Mansa ia a coisa, Cerejeira continuava a
velar pelas mansas ovelhas, Oliveira velava pelos assuntos mais
profanos, em África matava-se ou morria-se, em Portugal as elites,
enchiam-se alarvemente, até dava para balets cor de rosa com meninas
menores, para bertliets e unimogs mais a CUF, tudo a bem da Nação claro
está, quanto ao Zé, esse andava por aí entretido a ver a bola, a ouvir o
faduncho, a excelsa mocidade portuguesa cuidava da alma e do corpo dos
futuros guerreiros enquanto que os pais muito de longe em longe iam numa
excursão a Fátima para acender velas à santinha, se o Manel escapasse
às minas e ao paludismo era certo, um fardo de velas à santinha,
agradece Cerejeira.
Pelo meio vinha o aerograma, nós por cá
todos bem e adeus até ao meu regresso que muitas vezes se fazia em
primeira classe de porão com o corpinho acomodado num lindo sobretudo de
pinho acolchoado, paga a famelga que o de Santa Comba prefere gastar o
oiro dos teutónicos a comprar balas, e esses eram os sortudos, os que
vinham cá parar, porque muitos ficaram para sempre com os ossos a
branquear nos sertões austrais roídos por bichos estranhos ou a enfeitar
cemitérios regimentais que hoje definham engolidos pela selva, pela
incúria do país que os enviou para morrer e de seguida os abandonou.
Aos vivos chegados da guerra, a essas
pobres campónios que para lá foram mandados, restava-lhes voltar à
servitude do campo, trabalhando para os senhores donos da terra. Ora ao
fim de treze longos anos de morticínio sem que se vissem melhorias, os
campónios continuavam de canga, substituída por camuflado e G3 em
comissões de 24 suaves meses, com direito a assistir na primeira fila às
maravilhas que o continente africano tinha para oferecer, pitorescos
safaris, aldeias indígenas, comidas tropicais, malária, disenteria, sede
e fome, tudo pontuado com magníficos fogos de artificio, com maços de
tabaco para alegrar a alma distribuídos pelas matronas gastas do MNF,
isto a bem da Nação claro está, ámen.
Dizia eu que ao fim dessa quase década e
meia, o oficialato subalterno, farto de ir morrer longe, de apanhar
doenças venéreas e de ser encornado (casos pontuais de certo, assunto
aqui referido apenas para criar ambiente de anedota de caserna), além de
se ver ultrapassado por paisanos milicianos, resolve produzir o
excelente evento, aqui sou sincero, continuo a acreditar que a Revolução
de Abril de 1974, foi benéfica, o grandioso 25 de Abril, que libertará
Portugal da guerra, da ditadura e de mais uma coisita ou outra, foi
efectivamente um evento benéfico para esta tropa fandanga que por aqui
habita, ainda que a maioria dos asnos assim não entenda.
Quarenta e quatro anos passaram desde
essa data mítica para alguns, uma merda para outros, ainda que os que
dela menos gostem tenham sido muitas vezes os que com ela mais lucraram,
mas isso fica para outro dia, nestas quase quatro décadas e meia o país
sem dúvida que melhorou, os três “F” da Ditadura foram quase
abandonados, ou antes foram substituídos na importância pelos três “B”.
Aquilo que foram os três “F” da
Ditadura, são os três “B”, para a Democracia, para esta democracia em
que dizem que vivemos. Pior, não só o povaréu não abandonou os “F”,
continuamos pobretes e alegretes, analfabrutos e cada vez mais mal
educados, como juntamos os “B”, a saber, somos cada vez mais um país de
Bandidos, Biltres e Bandalhos, disso cada vez que abrimos um jornal
diário, que escutámos notícias na rádio ou que vemos um noticiário
televisivo, temos as provas às centenas.
A nossa grande conquista do 25 de Abril,
foi a liberdade para sermos um grande país de Bandidos, Biltres e
Bandalhos, actividade que estava no tempo da Ditadura circunscrita a uma
elite que enxameava à roda da candeia do poder que alumiava o caminha
da amada Pátria, ámen.
Foi a democratização e a multiplicação
da possibilidade de qualquer um poder aceder à ilustre e proveitosa
carreira de ser um Bandido, Biltre e ou Bandalho, a grande conquista
desta Democracia, em que dizem que vivemos, um qualquer farroupilha
nascido nas berças, pode perfeitamente cursar engenharia, ou fazer de
conta, tornando-se um grande bandido, um qualquer pelintra do barrocal,
pode tornar-se num professor e vir a ser um grande Biltre, como pode um
indigente das ilhas tornar-se um excelente Bandalho, outra conquista
desta Democracia são as hordas de parasitas madraços que vivem na mais
absoluta indulgência e subsídio-dependência, uns e outros, impunes,
acima da Lei e fazendo tábua rasa de tudo quanto são regras.
Juntemos a tudo isto os três “I” da
Impunidade, da Incompetência e da Inércia, que parecem nortear este
país, a caldeirada está quase pronta, falta o sal da guerra civil das
estradas, onde morrem como tordos os imbecis, a pimenta da violência
doméstica que mata sem explicação, mais uma pitada de Justiça miserável,
outra pitada de Educação medíocre finalizando com uma dose generosa de
Saúde falhada, o prato está pronto, toca o hino, distribuam-se as
comendas mais as medalhas, mais os afectos aos montes, cuidado que
“estrala a bomba, arrebenta, fica tudo queimado”, polvilha-se tudo com
muito “Zeca”, força companheiro e tal, voa gaivota, romarias e cravos,
que uns usam outros não como se a liberdade não os tivesse a todos
libertados aos parvos, arrumado está o arraial da Democracia e da
Liberdade, uma vez por ano, viva isto mais aquilo e aqueloutro,
ram…tam…ram…tam… batem as botifarras no asfalto, esboroa-se a pintura e
cai a cor, por baixo é só salitre, muito bolor, muita trampa, viva, viva
a Democracia e tal, para o ano logo se vê, há eleições? Então é de
arromba, que fica bem.
Isto meus caros e excelentes leitores,
foi sem margem para dúvida a maior conquista de Abril, esta
diversificação social do acesso à bandalheira, à falta de ética, à falta
de honra e de decência. Ainda assim viva o 25 de Abril, viva o povinho
dos três “P”, que caminhando, felizmente, para a extinção, aqui
continuam, Pelintras, Parvos e Patetas!
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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