E novas de Portugal? – Pediu El’Rei. Que não há disse o arauto, escudando-se atrás do antigo pergaminho que declarava isento de culpas o portador das mensagens, ainda que fossem as mesmas de muito mau tragar. Como não há, redarguiu o Rei, cansado, como era possível não haver novas do reino do faz de conta.
- Bem Majestade – disse o arauto, a medo – o relato que trago diz assim!
Os governos desgovernam!
Os Juízes, julgam pouco, mal e a desoras!
Os médicos, medicam que se fartam!
Os trabalhadores mandriam!
Os polícias, é saber onde andam!
Os professores, ensinam?
Os alunos pouco aprendem!
- E continua o relato desta guisa:
Por outro lado,
Os ladrões roubam.
Os vigaristas vigarizam.
Os assassinos matam.
Os bandalhos são livres.
Os bandoleiros estão activos.
Os caloteiros não pagam.
- E o povo – pergunta El-Rei – já enfadado.
- Esse – diz o arauto – sei-o bem, o povo, vegeta, num “dolce fare niente” de opiáceos, entorpecido, por futebolices, beatices e crendices, viaja embarcado na nau Catrineta no longo rio do Deiaxa-andar! As velas rotas, o casco com buracos, a mezena deitada abaixo e o gurupés sem cordame, o timão solto, sem governança, mas placidamente embalados, oram às santinhas milagreiras, gastam os soldos nas velinhas e nos bazares da moda e sem mais aquele fazem de conta que estão a fazer sem nada feito!
- Estranho reino – desse El-Rei – estranha gente, serão destituídos de tutano, não tem espinha nem espinhela que os sustenha, vivem assim vergados, sem nada fazer!
- É mercê de estranhar, vossa majestade, que se afogam em álcoois e fumos mágicos, por isso vivem nessa dolência dos pobres de espírito, dando apenas valor a biscates e meios patacos.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
Sem comentários:
Enviar um comentário