quarta-feira, dezembro 20, 2023

O senhor João

                                                                            Fonte da imagem: https://www.dicionariodesimbolos.com.br/lagrima/

 

Há cerca de uns vinte anos desde que mudei de casa, que me habituei a ver o senhor João. Não éramos amigos mas havia amizade, feita de simples trocas de cumprimentos, um bom dia ou um boa tarde, um como é que vai isso, ou como está a saúde, foi assim que se foi construindo ao longo destes vinte anos a nossa amizade, mas não éramos amigos, eu não conhecia o senhor João, não sei se era bom ou mau para a família, nem isso me interessa, não sei se era bom ou mau para os amigos, também não sei se era bom ou mau para os vizinhos, para mim era uma pessoa extraordinária.

Habituei-me a vê-lo passar na sua carrinha, logo pela manhã, ou assim mais para o fim das tardes, pela manhã ia colher frutas e legumes que produzia, para vender numa banca improvisada situada na garagem da casa onde habitava, à tarde fiquei a saber que por vezes ia – por o motor a regar – claro senão as plantas ademais em tempo de estio corriam o risco de morrer sequiosas.

- Bom dia! Então vizinho como vai – perguntava-me o senhor João, com um sorriso, num rosto onde até os olhos riam. Era um enorme prazer começar o dia cumprimentado por uma alma tão bondosa, ou ouvir um boa tarde vizinho ao fim da tarde. Era assim o senhor João, um sorriso fácil, que nos cativava, nunca, nestes vinte anos o vi, e via-o quase todos os dias, com uma má cara ou má atitude, não, o senhor João era uma nobre alma, com uma luz que iluminava quem com ele falasse.

O senhor João era um homem simples, um homem produto de um tempo em que se tinha de trabalhar bem cedo na vida, os seus dedos das mãos, grossos, mostravam isso mesmo, a dura vida de trabalho que carregava, que saudades vou ter do senhor João, que saudades vou ter do seu sorriso luminoso que aquecia as manhãs frias, mais o seu genuíno – bom dia – que trazia calor a quem com ele trocava esses cumprimentos, que saudades deixam as pessoas boas quando desaparecem, que saudades terei do senhor João uma verdadeira nobre alma.

Adeus amigo senhor João!


Um abraço, deste vosso amigo

Barão da Tróia

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