segunda-feira, julho 06, 2020

A ECONOMIA DO FÚTIL

m destes dias, tomava café com um excelente amigo, um craque destas coisas da economia, sobre as quais percebo quase nada, quando me surgiu a ideia para o artigo de hoje, estivemos ali uma boa meia hora à conversa sobre isto que temos hoje “a Economia do fútil”. Agradeço-lhe as explicações e algumas das ideias que utilizarei aqui devem-se a esse amigo, obrigado.

A ideia surgiu portanto devido à cavaqueira amistosa, quando perguntei ao meu interlocutor como é possível que em meros 3 meses, tenha a Economia mundial quase soçobrado, tendo porém as pessoas mantido o consumo dos bens essenciais, ou seja as pessoas continuaram a ter de sustentar as suas necessidades básicas, os combustíveis e a energia continuaram a gastar-se, os bens alimentares e produtos agrícolas continuaram a vender-se, a água continuou a correr nas torneiras e ou nas garrafas, mas por incrível que pareça a tal Economia mundial, de que falam os senhores engravatados, sobre a qual existem milhões de teorias, estudos, certezas e sábios, não aguentou, porquê?

- Olha à tua volta e vê o tipo de comércio que tens por aqui, por exemplo. Diz-me o meu amigo.

É verdade concluí, olhando à volta e fazendo o percurso de casa até ao local de emprego, o comércio que se vê é uma dor de alma, exceptuando um ou outro estabelecimento do ramo alimentar, o mais que se vê são elementos da “Economia do fútil”, lojas de roupa, unhas de gel, estéticas e quejandos, porcarias fúteis, que alimentam esta sociedade de indigentes intelectuais, curiosamente, nem uma única livraria, um teatro ou galeria de arte que possam alimentar um ócio saudável, nada de dança, de pintura, de escultura, nada de arte, nada de cultura, quiçá fútil mas intelectualmente desafiante e necessária, nada disso, infelizmente só vejo idiotices, patetices fúteis ocas completamente vazias e esvaziadas de contexto, afinal a Economia assenta em estacas de papel, é um gigante com pés de barro, que ao primeiro tremelique cai a pique.

Tudo parece então norteado para a futilidade, o excesso de publicidade a poluição visual e sonora daí resultante, o turismo desenfreado que ao esfumar-se lançou o caos nesta nossa “Economia do fútil”, ruiu a restauração, ruíram os bares e discotecas, começou tudo a ruir, porque fútil, porque quase desnecessário, e digo quase porque não sou um zelota ascético que apregoa a fim da humana vaidade, não nada disso antes pelo contrário, sou um convicto hedonista, no entanto este excesso pantagruélico de futilidade é confrangedor e bem exemplar da sociedade oca em que vivemos, cheia de gadgets, de nails, de penteados labregos, de redes sociais, de imbecilidade, de bricabraque e mais bugigangas que não pára um segundo para cogitar, uma sociedade que ao primeiro abanão fica como uma barata tonta, agora imaginem que o vírus actual era bestialmente letal, terrivelmente perigoso com períodos de incubação curtos, altamente contagioso e capaz de se disseminar por meio aéreo, aquático e por aí adiante, imaginem algo de filme catástrofe, como estaríamos a estas horas? Nós os dilectos filhos da futilidade.

Esta “Economia do fútil” é a mentira que nos escraviza, corremos para cima e para baixar, dia após dia, autómatos perfeitos, com soberba presumimos um arbítrio um controlo que na verdade não possuímos, somos isso sim uns pobres títeres, uns palhaços esfarrapados presos por cordéis a quem atiram de quando em vez umas migalhas para se entreterem, a melhor imagem da sociedade actual é a de um grande poço onde uma matilha esfaimada e doente, se digladia a cada osso que lá cai, num vale tudo homicida.

E vivemos esta mentira com as certezas dos pobres de espírito, importa consumir, ter, conseguir e ganhar, não importa quem temos de esgatanhar e ou atropelar, importa consumir, ostentar para parecer feliz, tentando preencher esse oco que fica depois de cada fotografia de sorriso falso, da ida à praia ou da jantarada partilhada entre os amigos e menos amigos das amizades falsas das redes sociais cibernauticas, é o triunfo maior da “Economia do fútil”.

Assenta este nosso Mundo na futilidade, pior é a angústia, o medo, o desespero e a falta de empatia que essa futilidade cria nas pessoas, para ser fútil ou mais fútil que o vizinho, matamos, odiamos, escravizamos reduzimo-nos a esqueletos de ossos ocos para ter aquela casa, aquele carro, aquele produto milagroso, almejamos tanto, que ainda não percebemos que o mais simples com doses equilibradas é o mais eficaz, o respeito pelos outros, o comedimento, o respeito pela Natureza e acima de tudo o respeito pelo próprio porque a vacuidade individual alimenta a futilidade e consequentemente arruína a Humanidade.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia


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