sexta-feira, setembro 14, 2018

Entre o claro e o escuro – Uma história real da estupidez nacional

Portugal está cada vez mais surreal, mais anedótico, mais patético, não seremos porém caso único, o Mundo parece estar à deriva, digo-o sem querer de todo parecer um alarmista, fatalista ou outro qualquer desses “istas” com que costumam rotular a malta que diz ou pensa alguma coisa contra ou diferente da corrente estabelecida como própria e oficial para a navegação da carneirada.
No entanto, os pequenos casos sucedem-se, coisas verdadeiramente anedóticas, “fait divers” dirá a turba esclarecida, concedo que sim, respondo com outro chavão “o Diabo são os pormenores”, quem gosta de Poirot, Sherlock ou Marple sabre que são sempre os detalhes mais mesquinhos, insignificantes na sua aparência que tramam os bandidos, dito isto passo a descrever a cena, que se passou comigo.
Uma pessoa minha amiga, sem que se lhe conheçam ancestrais raízes africanas próximas, tem o cabelo crespo e o tom de pele muito moreno, que nesta altura de férias fica mais acentuado por causa dos dias de praia, até aí tudo normal, nós somos um povo de miscigenação, ao contrário do que pensa essa gentalha racista, foi toda essa continuada mistura, que fez de nós aquilo que somos, um povo extraordinário do ponto de vista genético com várias origens.
Sucede que estando eu a sair de um supermercado, topo com essa pessoa amiga, paramos claro está a conversar, tínhamo-nos encontrado numa esplanada de praia estando eu na altura assim por dizer “descapitalizado”, essa pessoa amiga fez o favor de me emprestar dez Euros, com a minha solene promessa de que assim que nos encontrássemos, lhe retornaria os capitais, pagando inclusive um modesto juro sob a forma de um café, assim foi.
Ali à porta daquele supermercado, estávamos pois à conversa, cavaqueando sobre aqueles temas corriqueiros de quem regressa de férias, quando me recordei dos dez paus em dívida, peguei na carteira, arrumada que estava no bolso de trás do calçonito, de lá rebusquei uma nota de tal valor e estava a entregar a nota a essa pessoa amiga que tinha feito esse salvador favor de me emprestar os cabedais necessários para o momento de aflição, quando passaram por nós das mulheres, uma delas, olhou para o lado e atirou alto e bom som;

- Vai para a tua terra ó preta de merda!

Olhei de imediato, eram duas mulheres, vestidas de saia comprida, cabelos compridos em trança, duas senhoras pertencentes a uma pretensa etnia bem conhecida, gente que se reclama diferente, mas que afinal são mais do mesmo, iguais a muitos outros.
 O meu espanto foi tal que demorei a reagir, mas passado o espanto inicial interpelei a pessoa, porque raio estava a falar assim, respondeu-me aos berros, como fazem muitas vezes, que os pretos eram isto e mais aquilo, que lhes davam tudo, porque torna e porque deixa, tudo acompanhado por muitas poses e gestos, como fazem os perus para parecerem maiores e mais ferozes do que na realidade são, enfim uma espectáculo digno de dó.
 Virei-lhe as costas, vim embora, deixei a senhora a falar sozinha, tenho por princípio de vida que não se discute com gentalha racista, estúpida e mal-educada, a esse tipo de gente o melhor é ignorá-los, não valem o esforço, nem sequer a tentativa de pretender ter uma conversa civilizada.


Deixo-vos este episódio, caricato, anedótico deste Mundo completamente em perda, pensem o que quiserem, por mim, como já disse várias vezes, este episódio de novo o prova, a estupidez é a característica humana mais democrática que existe, porque não escolhe raça, cor ou credo, os estúpidos, os racistas boçais existem em todas as cores, para se poder ser considerado humano e respeitado enquanto tal, não basta nascer humano, temos de nos comportar como humanos, de que vale gritarmos que somos humanos quando nos comportamos pior do que qualquer besta selvagem, para se poder invocar essa qualidade, temos de começar a sê-lo, temos de agir com humanidade, temperança, com respeito pelo próximo, mas isso é o que muita gente parece não perceber, não se nasce humano, aprendemos a ser humanos, ou antes alguns aprendem, outros nunca lá chegam.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

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