terça-feira, outubro 16, 2012

Portugal essa miragem!



Naquela manhã acordei, a ouvir dizer que Grândola era uma vila morena e que nela o povo era quem ordenava, foi um alvoroço, agora é que era, saímos da ditadura opressora e da guerra, – o que será do meu filho – chorava a vizinha cujo filho permanecia em Angola como soldado! Era a liberdade que aí vinha, receosos, estavam todos os que não sabiam o que isso era!
Vai estudar para seres alguém, disseram-me nesses dourados anos oitenta do meu querido século XX, a Europa está aí não tarda, não podemos perder o comboio, gritavam uns quantos a plenos pulmões, até a cançoneta “Eu quero ver Portugal na CEE”, era um sucesso nas matinés, alimentadas a cervejolas e promessas de experiências com o belo sexo, que quase sempre terminavam em solitárias sarapitolas por, as medrosas cachopas, se negarem ao acto! A Europa era agora o grande sonho libertário de um Portugalete, insalubre e de pequenez de mentalidades ainda obscurecido pelo cinzentismo de 48 anos de privações democráticas.
Um dia acordei, cumpri o meu dever, pagaram-me com desprezo, agora eram os baixos salários e a pouca formação que estavam a dar, percebia-se já um azedo de tragar nessa coisa da Europa, apesar do dinheiro jorrar a rodos, de um dia para o outro era como virar uma página, quer cem leva antes mil e comece a pagar daqui a 5, foi o fartar vilanagem os dourados anos do Oásis, do gastar a esmo, da politiquice cinzenta dos imbecis de vistas curtas, foi o vendaval dos crédito fácil, do estilhaçar do país, do alcatrão e do betão, dos modelos de desenvolvimento estúpidos, de autarcas e governantes imbecis!
Quando me fui deitar ontem percebi que tenho tudo em demasia, tenho estudos a mais, qualificações a mais, idade a mais, a Europa foi uma mentira, Portugal é uma farsa, esta democracia uma miragem e este país um embuste, a menos só tenho dinheiro, logo eu que sempre trabalhei, que sempre descontei, que sempre contribui, que nunca fui onde não podia ir nem comprei o que não podia comprar!
Bardamerda para esta terra!

Um abraço deste vosso amigo
Barão da Tróia

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