Pronto, está feito, temos mais um santinho. Continuamos pobretanas, analfabetos e quasi mortos de fome, mas temos mais um santinho. Nem me chateia que santifiquem Nuno Álvares Pereira, não me chateia nada. Irrita-me é que lembrem o homem só por essa minudência papalva, quando o homem foi um insigne militar e combatente, que espadeirou a espanholada gananciosa.
Irrita-me que um Estado pretensamente laico, vá quase de malas aviadas cheirar os saiotes dos de Roma, quando nas escolas se esquece de dizer quem foi esse valente, ensinar o quanto devemos a esse homem, para além do pretenso milagre da treta.
Convém dizer que Álvares Pereira foi um homem do seu tempo, próximo do fim da vida, e como era usual e fizeram muitos senhores nobres da sua época e doutras a seguir, após o falecimento da esposa, contava o Condestável 71 anos, envereda pela religiosidade dos Carmelitas, claro. Tendo vivido pela espada o medo do purgatório sobrepunha-se a tudo o mais no homem medieval, naturalmente convinha ficar de bem com o patrão lá de cima, para assegurar que apanharia o coche certo.
O patético disto tudo é que o grande homem e o grande militar que foi Álvares Pereira, seja agora e apenas lembrado por beatices questionáveis, lembrado por 8 anos de vida monástica, esquecendo os 71 anos anteriores de feitos gloriosos em nome desta parvónia.
Otelo, o demónio de uns, não percebi ainda porquê, recebeu a justa promoção. Enquanto militar, o denodo e valentia com que defendeu a mentira do solo pátrio do ultramar, ficou registado, como Abrilista, à que reconhecer-lhe os excelentes préstimos de estratego, que montou a famosa Abrilada do século XX, antecâmara ainda de todos os sonhos e de todos os pesadelos de reaças e vermelhos.
Nessa duplicidade de herói trágico, preso à dicotomia do odiado e do amado, vilipendiado pelas hostes mais trauliteiras da direita sacrista empedernida, referenciado pelo esquerdelho extremista, Otelo, foi o homem certo num momento fantástico e delirante da história contemporânea deste pequeno Portugal, dele se disseram, ainda dizem, os maiores impropérios e rasgados elogios, de terrorista a oportunista, de comunista a líder de um bando de facínoras, Otelo é a figura de proa da nau “25 de Abril”
Uma só crítica lhe faço, foi pena, muita pena, não ter efectivamente enchida as várias praças de toiros de Portugal com a merda que tínhamos por cá, porque esses castanhos de passeio, já deram crias, que agora já ocupam os lugares dos papás, perpetuando a cultura laxista e inepta do antigamente. Foi promovido e muito bem!
Jaime Neves, a sobriedade em pessoa, o comedimento, maluco até ao tutano, dificilmente seria difícil recordar alguém que personifique o que é ser militar. Essa personificação é Jaime Neves. Eu conhecia o mito Jaime Neves, pela boca do meu tipo que foi seu comandado, a reverência com que passado tantos anos o meu tio falava desse mítico homem e as histórias que contavam embeveciam os meus primos e a mim, tanto ou tão pouco que o meu primo acabou por ser Comando, um dos “meninos” de Jaime Neves, que adorava os seus homens como seus filhos.
Foi um pai duro e austero, mas justo e destemido, merece inteiramente a promoção que esta democracia que ajudou a salvar lhe conceda a distinção que ora lhe faz, tal como o Otelo, é de inteira justiça. Pena é que como Nuno Álvares e Otelo, este país continua a não ensinar aos mais novos, que temos exemplos destes, que curiosamente já não existem, porque os mais são Santanetes, Barrozetes, Cavaquetes, Louçanetes, Jeronimetese Socratetes.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
1 comentário:
Meu caro Barão de Tróia!
Eu posso até não concordar plenamente consigo, como aliás é o caso (digamos que concordo no geral excepção feita a alguns pormenores que tendo para mim o seu valor nem por isso me impedem de o visitar, bem pelo contrário)!Mas tenho que confessar que sempre que por aqui passo raramente saio indiferente!
Esta visita valeu uma boa gargalhada e só por isso Obrigado!
Além do mais e sem deixar de reconhecer o valor do Condestável (de seu nome D. Nuno Álvares Pereira) enquanto homem de armas e sem mesmo ousar pôr em causa a sua opção (ainda que tardia) pela via religiosa pergunto-me:
Será que elevar a santo um Homem que se destacou pelo seu lado essencialmente militar não equivale àquela prática muçulmana que premeia com 70 virgens(salvo erro) e o título de mártir/santo os combatente que se auto-imolam levando consigo os inimigos de Ála/Deus???
Curioso como as "práticas" das diferentes religiões se podem assemelhar... para o bem e para o mal!!
Por favor não se ofendam... foi só uma pergunta? Quem quiser pode responder! Desde já Obrigado!
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