segunda-feira, outubro 01, 2007

Vira do Milho

Perorava a pobre maçaroca, ainda em incipiente estado, sobre a sua condição, não é fácil manter unidos todos aqueles grãos, cada um com a sua personalidade, mas a pobre maçaroca velava, agarrada ao caule, estiolava lentamente, mais uma ou duas irmãs, num caule, qual oleoduto que, transportando a seiva da mãe Terra, lhes traz o sustento, a par com o pai Sol, cujos raios benéficos muito ajudam, tempo virá que, a máquina portentosa e barulhenta a separará do seu amado caule e num supetão a engole, debatendo-se sem gloria nem esperança nas entranhas do monstro de aço, a maçaroca rodopia num bailado de morte, separada finalmente dos seus grãos, que saudades sente já daqueles rezingões, já não ouve a suas vozes, calaram-se para sempre, assim segue, quase nua, violada, sobram-lhe dois, não, cinco dos mais pequenos, que escaparam.

Ali vai ela, com outras milhentas, irmãs, por sobre o barulho do monstro troam as vozes dos milhões de filhos que agora órfãos gritam em vão pela mãe maçaroca, que é já cuspida pelo monstro e fica ali por junto com outras com os pequenos que lhe restaram, tolhidos, sem quase vida, que triste é vida de uma maçaroca, bichos e maleitas, ventos e tempestades, granizo e gelo, chuva em demasia e tórrido calor, javalis e aranhiço, tantas ameaças tão grandes e poderosas, que triste é a vida de uma maçaroca, amanhece lentamente, quando por entre lancinantes gritos de dor, a maçaroca sente, a desconfiada rola, a astuta perdiz ou o ladino pardal, debica-la arrancando-lhe os seus últimos e pobres grãos, em desfilada por entre o restolho orvalhado da manhã, bandos de inimigos alados banqueteiam-se alarvemente, com os restos da sua criação, triste é a vida de uma maçaroca.

Ainda assim fugiu ao destino dos seus amados grãos, que transportados no bojo do monstro, são já descarregados para outro ainda maior e mais possante monstro, que os leva, estrada fora param um mundo que nunca viram, sempre em frente para o desconhecido, atroz a viagem, comprimidos uns sobre os outros milhões de grãos de milho dos milhares de maçarocas, choram e gritam em desespero, que injustiça ainda ontem, estavam ao delicioso sol matinal, fortalecidos pelos nutrientes da terra, hoje ali estão completamente prostrados e indefesos, sob um mostro de aço que ronrona e bufa, ai de nós gritam, ai de nós, choram e soluçam, ai de nós, que nos pisam, e moem, pavoroso o som que anuncia a uns a morte dos outros, num sofrimento atroz enquanto poderosas mandíbulas de aço os atiram para tulhas que os canalizam para mós infernais que os desfazem, pobres grão de milho que cruel desfecho para uma vida delicada e bela, triste vida, a das maçarocas de milho, triste vida a do grão de milho, arrancando, calcado e esmagado.

Se eu fosse uma maçaroca era assim que descrevia minha vida, e agora digam lá, se é preciso uns eco-parvos, trangénico ou não, virem arrancar-me, com tanta, tanta coisa para irem boicotar, explodir e atazanar, digam lá!

Um abraço, deste vosso amigo

Barão da Tróia

25 comentários:

125_azul disse...

Com tanta coisa mais interessante para explodir, é "galo" os ecotontos irem "marrar" com as pobres maçarocas! Aposto que são os mesmos que se entopem de pipocas quando vão ao cinema...

A. João Soares disse...

Que maravilha. Aposto forte em que nunca uma maçaroca teve um defensor tão convincente. Admiro a empatia entre o eleito pela maçaroca para a representar no forum de julgamento dos vândalos trans...viados.
Parabéns pela beleza da escrita.
Aproveito que referi o seu post Geração Neanderthal num comentário
que deixei em Paz Original http://pazoriginal.blogspot.com/.
Um abraço

Ana disse...

Oi!
Lancei um desafio a este blog n meu desafio, se kiserenm participar vão até lá para ver como é!

;)

vinte e dois disse...

Bem, nunca vi uma história de maçaroca tão triste. Mas vida de maçaroca tem destas coisas, tudo é um ciclo. E tal como ela só ficou com dois ou três grãos, quando formos velhinhos será que também só nos vão sobrar dois ou três dentes?? ;D

naoseiquenome usar disse...

Que delícia de história da maçaroca! :)
Pura ou trnsgénica, o mesmo fim.
Não sei é se tal acontece com os roedores :(

ASbraço.

Andreia disse...

Olá!
Uma boa semana para ti!

Blossom disse...

Maçaroca sofre, eheheheh!

Boa semana Barão !

Aragana disse...

Ao milho verde,...milho.... eu sabia o que é que fazia com as maçarocas...

Cucagaio disse...

Isto de virar pipoca, tem muito que selhe diga. Não é para qualquer uma.

Sofia Melo disse...

eheheheh, excelente, caro Barão.
O que mais me irrita é que os eco-tótós embirram com os trangénicos, mas aposto que se fartam de encher os bolsos ao Ronald MacDonald a comer os fast foods feitos com toda a porcaria que praí há...
bah! Chumbo neles!!!

Suso Lista disse...

Escallo, pichorro, mazorca, é como pola Costa da Morte chamamos o corpo do millo, coma se o gran, fora unha das partes de ese todo. Liberdade pra o millo...je je.

BlueShell disse...

Beijo azul

BShell

Ana M. disse...

Parabéns, Barão, por este belo «vira do milho».
Os ecotontos, como tão bem lhes chama o «125_Azul» têm falta é de umas pulguitas para se coçarem.

Abraço

Jay Dee disse...

viva as pipocas

O Micróbio II disse...

Puseste os "verdes" pintados de "vermelho" com esta tua história

Francis disse...

Os trangénicos são uma invenção que os americanos estão a empurrar para a Europa.
Até agora não existe nenhum Estudo científico credível que garanta a sua fiabilidade para a saúde pública a longo prazo.
Isto preocupa-me.
A violência e a destruição nunca são a resposta para coisa nenhuma. Mas também gostaria de ouvir a opinião do agricultor sobre a ausência de garantias para a saúde pública do produto que cultiva.

Mixikó disse...

O 125_azul está certo...na volta esses são os que se entompem de pipocas...e barafustam porque é bem barafustar em nome do ambiente...

Regards

Fragmentos Betty Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Barão

Os produtos transgênicos são criados em laboratório para favorecer a produção em larga escala. São os grandes proprietários, que detém tecnologias, que podem pagar royalties às grandes multinacionais detentoras da patente e que plantam para exportação. Isso favorece o processo de concentração de terras, “expulsão” de pequenos produtores aliciados para a venda das suas terras. Para que a concentração fique nas mãos dos grandes propriétarios. O que quer dizer que existem correntes “para não chamar tentáculos” de vários intereses

Isto está a passar-se em Portugal

Por isso, não é preciso ser ambientalista para acreditar que os transgênicos não vão acabar com a fome do mundo. Os produtos geneticamente modificados aumentam o uso de agrotóxicos e podem causar riscos à biodiversidade do planeta, ocasionando danos ainda não previstos pela ciência, com consequências dramáticas para o futuro do planeta.


Todavia, não será meia dúzia de caras tapadas (com aspecto meio duvidoso) a invadir propriedades alheias para dar cabo das maçarocas do milho. Quem (devia) tem que tomar uma atitude séria será o nosso Governo o que não seria nada mau para variar. Pois tem vivido em pleno mutismo e inércia.

(o Conselho de Ministros em Abril de 2005 autorizou o cultivo de milho transgénico em Portugal)

Gostei muito da exposição (maçaroca) neste exto sobre o milho. Parabéns

Um abraço

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Tenho uma petição no "Beja". Aguardo a tua visita.

Abraço

Å®t Øf £övë disse...

Barão,
Realmente a vida de uma maçaroca pode ser muito triste. Nunca tinha pensado nela na sua perspectiva. Sou tão egocentrico...

:)

Bom fds XXL.
Abraço.

Eric Blair disse...

Maçaroca makes the world go round, benha quem bier!

antónio paiva disse...

..........

eco-parvos!!!

não seria cpaz de dizer melhor

........................

Abraço

Carla disse...

já tinha saudades de passar por aki.
bjx

Rhiannon disse...

Belo texto, Barão! :)