(...continuação...)A conversa seguia animada, o costume, futebol, gajas e coisas do género, até que descambou para a crise para os salários e para os impostos. O Barrigana, lamentava-se de pagar montanhas de IRS de receber pouco, o orelhas de rato do Tentilhão idem, dizia-se esmagado pelos governantes e pelos patrões sanguessugas, explorado por ordenados de miséria, piscara o olho e acenara a cabeça para o lado do barbaças Ezequiel.
O outro fizera de conta que não percebera. – A si a vida corre bem. – Atirara o Tentilhão ao Ezequiel, vieram aqui traze-lo ao comboio numa carripana que não custa menos de 30 mil dele, sim que eu topei, alias eram duas iguais e novas em folha, em cima de si tem mais ouro que algumas ourivesarias que conheço, sim senhor, vender camisas sarrubecas e CD pirata é que tá a dar! – Os outros desmancharam-se a rir.
Visivelmente irritado, o Ezequiel, virou-se para o outro, e rispidamente respondeu-lhe. – Atão o senhori nã sabe que a sueca é pra jogari calade? – E riram todos mais ainda. – Pois aqui o doutor também não se safa mal, fatinho e gravata de seda, relógio de ouro, assim dá gosto. - Retorquira o Barrigana em jeito de vergastada no Fataça, este acusando o golpe, esboçara um sorriso cínico de circunstância e redarguira. – Pois é verdade, e os sacrifícios meu amigo e o trabalho, esse ninguém o vê. – É verdadi sim sinhori o dotori tem toda a razão, o trabalho ninguen no quer. – Ezequiel fazia ouvir a sua voz rouca de vendedor ambulante queimada por incontáveis cigarros e litradas de bagaço ordinário.
Ali iam aquelas quatro alminhas espelho desta nossa sociedade, ao Fataça conheço-o bem, é médico tem dois consultórios, trabalha ainda numa clínica privada e eventualmente faz serviço no hospital público lá da terra, já foi deputado, agora está também como vereador na Câmara. Tem casas no Algarve e na Serra da Estrela, um grande carrão e vive à grande, dizem à boca cheia que foge aos impostos, que por exemplo para pagarem os setenta e cinco euros que cobra por consulta, se for por cheque a pessoa que paga tem de passar 2 cheques um de cinquenta outro de vinte cinco. Os filhos enquanto andaram na escola tiveram sempre direito aos apoios sociais, nunca percebi porquê, o meu nunca, uma questão de rendimentos, disseram-me uma vez, que diacho de rendimentos, então o gajo é médico, deve ganhar dez vezes mais que eu?
Aos outros não os conheço mas é fácil perceber quem são, o barbaças, vendedor ambulante, lá se foi confessando, é o exemplo típico da sua laia, casas em três distritos carrinhas de quarenta mil Euros, rendimento mínimo e isenção de tudo e mais alguma coisa, isto só porque é de uma etnia não sei das quantas, naquilo que é um exemplo, das mais rematadas palhaçadas que se fazem por cá, como se não fossemos todos homens, pois parece que não, há uns mais homens que os outros.
O Tentilhão era um pobre desgraçado, a mulher era doente viviam todos eles, esposa e mais três filhos num T2 no subúrbio, passava, dificuldades, ele trabalhava 12 horas e ganhava pouco mais de quinhentos euros, queixava-se e com razão dos descontos, dos preços dos bens, do roubo nos medicamentos, enfim era o típico trabalhador por conta de outrem, explorado até ao tutano por um desses excelentes empresários que conduzem carros desportivos de alta cilindrada e fumam charutos de Cuba, representante dessa grande massa de trabalhadores para os quais a tal da flexisegurança não é novidade, porque é assim que vivem há muito tempo.
O Barrigana apesar do ar tresloucado e do canudo, era outro triste, este ano tinha trabalho para o ano logo se veria, entre concursos, colocações, papeladas e reuniões, novas políticas e modelos finlandeses, esta rapaziada gastava meio ano em cretinices, sem nada ensinar aos alunos, correndo o país de lés a lés, país esse que ia ficando cada vez mais pequeno, tal era o afã de fechar escolas.
Dentro deste compartimento vai espelhado o país dos parasitas e dos escravos, dos cidadãos de primeira e dos cidadãos de terceira, vergados ao peso do sistema que os esburga dos míseros cabedais, para que possam outros bem mais espertos engordar e fazer vida de estadão. Assim vai a viagem deste Portugal, que teima em separar os passageiros entre primeira e segunda classe, como se a viagem não fosse a mesma, como se o sangue de uns não fosse igual ao dos outros, como se tudo isto fizesse sentido…
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
15 comentários:
Eles comem tudo...
Um abraço para ti!
.................
Genial Amigo Barão!
Abraço
ola barao.
e o que é que eles tinham a ver com a vida uns dos outros?
ai que raiva. almas pequeninas.
grande contitozito barão
abraço da leonoreta
ora ai está!
abraço
Distinções sempre as houve na sociedade, o que a mim me surpreende é que conforme disseste no teu texto, os mais necessitados são aqueles que menos ajudas têm, quanto aos outros, vão enriquecendo cada vez mais, alguns graças aos apoios que "lhes oferecem" quando são os que menos precisam...
Enfim... é a politica da "em terra de cego, quem tem olho é rei!" o resto... o resto que se dane... quem tem moralidade, honestidade e escrúpulos normalmente nunca passa de um triste, a desdobrar-se para sobreviver numa selva cada vez maiores, e com predadores com os dentes mais afiados, o que não é de admirar, dão-lhes ferramentas para afiarem cada vez mais os dentes....
By the way...
Tb o meu filho, por um rendimento que ultrapassava em 5euros o valor estipulado por lei para se obter apoio, ficou sem ele... nem que 5 euros fosse uma grande fortuna e desse para colmatar todas as suas despesas de educação durante um ano inteiro, enquanto outros que vão buscar os filhos à escola em carros de grande cilindrada são subsidiados... vá lá se perceber porquê...
Os pobres são ladrões, os ricos desviam... talvez seja essa a diferença, que pelo andar das coisas tende a instaura-se definitivamente na politica do país...
os mortos de fome, vão presos por roubarem um bocado de pão num supermercado, os que fazem grandes desvios foi tudo um engano e ficam em liberdade...
A haver liberdade que haja para todos, principalmente para aqueles que são vitimas da sociedade que temos... mas isto claro sou eu a divagar...
Beijinhos
Nâo é por nada, mas é preciso uma manhã inteira só para ler o teu post. Obrigado pela visita, volta sempre, um abraço
Desenlace perfeito... :) Beijinhos
A eterna injustiça social.
Mas há gente para tudo, em todos os meios: há gente com dinheiro,grandiosa; e gente sem posses, verdadeiros trastes... e vice-versa.Não sou sectária.
Quanto ao nosso país, não é só uma trapalhada, é uma palhaçada e mais não digo.
A injustiça social anda por todos os lados. Apenas fala em línguas diferentes.
Abraço
Parabéns.
Foi agraciado pelo Do Mirante com o prémio Blog de Tomates
Um abraçogqkqu
Mas este é o país real... e não vai deixar de ser tão cedo, meu caro. Infelizmente. É um mal que já vem de longe...
Um abraço
Bela continuação. Ele há os muito, muito privilegiados, que são muito, muito poucos, e os muito, muito pobres, que são muitos! E o governo deste país a alargar o fosso, indiferente.
Um abraço anarquista
Assim é, Barão!
Vi-te a trabalhar o dia inteiro, muita força por pouco dinheiro... do Sérgio Godinho, associada à do Zeca Afonso, sugerida pelo capitão merda, acompanham o seu conto.
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