Durante o fim-de-semana tive uma crise de insónia, que normalmente curo com uma ida à minha tasca de eleição, degustando uns petiscos e regando tudo a branco ou tinto conforme esteja a maré, até um ocasional palheto ou uma supimpa água-pé.
Na roda de amigos, enquanto a chouriça rechinchava, esqueimaçada por uma excelente aguardente vínica de 70º, discutia-se o provincianismo, o que é ser provinciano ou não e por aí adiante, temas de provincianos. O meu amigo Zé, no uso da palavra, batia no maltedo da capital, por serem uns nabiças avoados, por andarem de carro para todo o lado, de encherem os passeios de carros de não usarem as toneladas de transportes públicos que têm e depois se queixarem do preço da gasolina.
Aparentemente isto não tinha nada que ver com provincianismo, mas tem. Tem porque ser provinciano não é falar com sotaque regional, ser provinciano não desconhecer que metro apanhar para o Cais do Sodré ou qual é o número do autocarro para o Rossio, isso é simples desconhecimento.
Ser provinciano é viver numa terreola, como Almeirim e andar de carro para todo o lado, quando a terreola se atravessa bem de ponta a ponta em 20 minutos, ser provinciano é construir prédios de 4 andares quando há espaço de sobra para fazer moradias, ser provinciano é querer ser uma coisa que não somos e malbaratar a excelente terra que aqui existiu, uma ilustre Almeirinense, que aqui exerceu a sua profissão médica, pessoa sobejamente conhecida por cá, disse um dia, … Almeirim como Vila era uma Vila bonita, como cidade é uma merda…
Não posso estar mais de acordo. Ser provinciano é adoptar modas imbecis como esta de entupir de carros uma terreola, que até chateia de tão plana que é, sendo que os únicos obstáculos que quem circula a pé encontra são as bestas dos automobilistas e motociclistas locais, que pouco ou nada respeitam a sinalização, e os carros nos passeios que as mesmas bestas estacionam em local proibido, para irem tomar café, para estar a falar com a vizinha, entre outras coisas de extrema urgência.
Este modelo de progresso que entrou no imaginário do povaréu ignaro, não cessa de me espantar, como não cessa de me espantar a capacidade, que os Portugueses têm de só copiar os maus hábitos e as imbecilidades, raras são as vezes em que vi serem adoptados bons hábitos de civilidade e de verdadeiro progresso, que ao contrário do que pensam estas alimárias asininas se mede pela qualidade de vida e não pelo betão. De que lhes valerá deixar, por vergonha, de dizer o “mê pai” e a “nha mãe” bem como outras expressões bem típicas da minha terra, para passar a falar à lisboeta, coisa que não tenho nada contra em Lisboa ou em alfacinhas, excepto nas séries portuguesas de época, onde falam todos à lisboeta é só rir, trabalho de actor, de composição de personagem zero, nadinha de nada.
Dizia eu que, de muito lhes vale abandonar as suas raízes e cultura, para adoptar a mentalidade do subúrbio, isto sim é ser provinciano, mas isto meus amigos os meus conterrâneos não percebem nem que lhes entre pelo olho do cu adentro, mas como dizia o outro …felizes dos ignorantes porque deles é o reino dos céus…
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
30 comentários:
Terem uma vila/cidade com qualidade de vida e estarem a estragá-la com pseudo imitações de comportamentos citadinos, não lhe chamo provicianismo mas sim estupidez! mas é a vida...
enfim, uma "corja"...
excelente texto. abraços
lindo....indo..lindo...
"os carros nos passeios que as mesmas bestas estacionam em local proibido, para irem tomar café, para estar a falar com a vizinha, entre outras coisas de extrema urgência"
"Dizia eu que, de muito lhes vale abandonar as suas raízes e cultura, para adoptar a mentalidade do subúrbio, isto sim é ser provinciano, mas isto meus amigos os meus conterrâneos não percebem nem que lhes entre pelo olho do cu adentro, mas como dizia o outro …"
Mas, sabes às x não é por mal ou o raio...eu mesma, sou do Algarve e não falo à Algarvia...tenho expressões ainda, como "ma que jeito" entre outras...mas, quando vou /estou lá em baixo de fds, falo a cantari...deixo-me levar...e quando cá chego continuo...mas aos poucos o cantar desaparece...não faço de propósito...acontece-me naturalmente...beijos
Completamente de acordo.
Obrigado pela visita.
E o reino dos céus vai-se enchendo. Só à custa dos nossos conterrâneos não tarda estará sobrelotado!
Agora eu aqui cheia de fome e tu a falares de chouriças e tal, oh maldade!!! beijinhos
a malta diz o que pensa
e vão cinco da matina
São cinco da matina. Levantei-me pra fumar um cigarrito - sim eu fumo! - e deitei uma vista de olhos a este blog (Barão da Tróia II). Não tanto ao blog em si mas mais aos comentários suscitados pelo escrito "Triste e Indignado" que vale a pena ler e vivamente aconselho. Agora já não tenho pachorra mas amanhã penso falar sobre este assunto. É que 25 comentários deste calibre merecem bem duas ou três linhas. Pelo menos para dizer que o Governo só não percebe o "sentir" do povo que o elegeu se de facto sofrer de autismo.
Durmam bem. Eu, tem dias, não consigo. Não, depois de ver coisas destas.
in "heresias consentidas"
a malta diz o que pensa
e vão cinco da matina
São cinco da matina. Levantei-me pra fumar um cigarrito - sim eu fumo! - e deitei uma vista de olhos a este blog (Barão da Tróia II). Não tanto ao blog em si mas mais aos comentários suscitados pelo escrito "Triste e Indignado" que vale a pena ler e vivamente aconselho. Agora já não tenho pachorra mas amanhã penso falar sobre este assunto. É que 25 comentários deste calibre merecem bem duas ou três linhas. Pelo menos para dizer que o Governo só não percebe o "sentir" do povo que o elegeu se de facto sofrer de autismo.
Durmam bem. Eu, tem dias, não consigo. Não, depois de ver coisas destas.
in "heresias consentidas"
Tem absoluta razão.
Eu sou um “provinciano” convicto. Não dos que se envergonham e nos causam vergonha mas daqueles orgulhosamente Almeirinenses. Daqueles da “nha terra”, do petisco e da matança do porco. Daqueles que gostam de sair de casa de manhã e entrar pela cidade adentro pelo meu próprio pé.
Almeirim é uma cidade pequena mas ainda assim é muito maior que certas cabeças que andam por aí. Isso é que é pena. Belo texto.
Nunca fui a Almeirim... Mas conheço a Joaninha, que é flautista como eu:)
Se calhar querem crescer à pressa...
Eu cá não gosto de viver num sitio escondido no meio do nada, mas muita confusão também é demais. Cá na minha terra estamos bem:)
Excelente, excelente, excelente!
Se servir de conforto, garanto-te que não é só em Almeirim que vais encontrar esse provicianismo desenfreado.
Há tanto peixe neste mar!...
Um abraço!
Aqui no Alentejo a isso chama-se paneleirices.
Um abraço.
Estou de acordo co que nos contas. En Galiza tamén pasa algo do que dis. Pero os da capital, polo noso acento, tratan-nos de analfabetos. Mesmo eu que son actor, non podo falar en Madrid co acento Galego, se é que quero traballar. Ou falalo, e traballar de criado, ou camareiro nunha serie da T.V. Bicos
ola, passei para agradecer o teu comentario mas nao deixarei de ca passar, pois axo-te uma pexoa com capacidade para escrever muito bem e gosto de ler o que escreves, pois é simples, esclarecedor e muito bem escrito. continua pois eu voltarei. fica bem
É verdade sim senhora é uma paneleirice crer viver-se numa cidade que depois de se pensar na reforma foge-se para o interior.
Nem queiram saber o sacrificio que é viver numa cidade cheia de carros, de fumo, de gente que se só andam bem aos encontrões uns aos outros.touaqui
sim somos provicianos em relação a espanha
Caro Barão,
SUBSCREVO!
assina uma alfacinha emigrada no campo ao pé da praia não longe da cidade grande e que só não anda sempre de bicicleta porque na ida é a descer mas na volta é a subir... muito!
Deixo tb um abraço.
«uma ida à minha tasca de eleição, degustando uns petiscos e regando tudo a branco ou tinto»
Obrigaste-me a ir contrariadamente à cozinha!
Olá Barão! Não conheço Almeirim, mas não será certamente a única "cidade" a sofrer desse mal. Parece que a elevação a cidade não depende de infra-estruturas e outras coisas que tais, mas sim de conveniências políticas.
Fica bem!
Ola barão...gostei do seu post... aborda tema diferente e deveras interessante...Concordo plenamente com seu texto...
Grata pela visita ao meu recanto deixo
Beijo suave___Maresi @
Plenamente de acordo.Mas foi em Almeirim, que eu desconhecia, que no fim de semana passado comi fantástica sopa da pedra e me «vacinei», in loco(!), esotadas que estão as vacinas por encomenda na capital.Vou passar a ir a essa farmácia Central!
Errata: escrevi as letras todas mas sumiram ao ser publicadas! «esgotadas»
belo post ó barão!
abvraço
É vir até ao estrangeiro e ser servil e trabalhador e claro que se faz, sábados e domingos incluidos e chegar aí a arrotar postas de bacalhau, a falar aos gritos para que se repare no carro último modelo e a usar muitos palavrões para que se note que está mesmo à vontade.
É isso, tens razão.
Beijos
"........
de muito lhes vale abandonar as suas raízes e cultura, para adoptar a mentalidade do subúrbio, isto sim é ser provinciano, "
Parabéns pelo texto. Soberbo.
Bom fim de semana
Bjs
Bom fim-de-semana Barão
Olhe sabe que mais, nao trocava a minha linda e sossegada terrinha por nada...
E que se lixe quando dizem que tenho sotaque ou que em Lisboa é melhor...
abraço e bom fim de semana
Bem, eu vivo numa aldeola e até fico irritada qd decidem transformar alguns dos caminhos de pedras em estradas alcatroadas.
A rua onde vivo está agora a ser alargada e vão poder cruzar-se dois carros. Uma chatice: vão circular mt mais rápido e com menos cuidados.
Enfimmmmmmmmm, por mim acho que não passávamos da idade da pedra.
Um beijo e bom fim de semana.
Mais merda aconteceu na provincia da espanha
Provincianos? Que mal é que tem? Sempre quando vou por razões profissionais para Lisboa digo com orgulho que sou de Beja e nunca era capaz de viver em Lisboa. Além disso, só me sinto feliz vendo a capital no meu espelho rectovisor....
Nem os teus conterrâneos nem os meus, porque essa moda anda por todo o país. Moro a cinco minutos da fronteira de Lisboa com Odivelas, onde há autocarros de cinco em cinco minutos para o metro. Mesmo assim tenho que gramar os engarrafamentos que desde as seis da madrugada se formam à minha porta, com provincianos sozinhos dentro de um carro de cinco lugares.
Como o meu prédio tem um café e a rua não tem saída, tenho de aturar a toda a hora os tipos que se deslocam 300 metros de carro para beberem uma bica e que se dão ao trabalho de andarem 70 metros em marcha atrás para estacionarem ao molho à porta do dito café.
Acho que se a teoria da evolução estiver correcta e estes saloios não acabarem com o planeta com tanta poluição, dentro de uns milhões de anos o ser humano vai evoluir para um ser com rodinhas e volante incorporado à nascença.
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