Miríades de borboletas pintalgadas de borbotões de corres, voejavam aos magotes pelo Prado Verde. O ar do mar, este prado ficava à beira mar, num rincão esquecido do fim do mundo, o ar do mar refrescava os sobreiros e as giestas, os eucaliptos e a murta, os pinheiros e o azevinho, bem pelo menos o que restara dos últimos anos de incêndios que assolaram o Prado Verde. Isto porque se gastavam rios de dinheiro para nada pois as florestas acabavam sempre por arder aos milhares de hectares.
A menina C, vamos assim chama-la para salvaguardar a sua identidade, estava debruçada na janelinha do seu T2, suspirando e cantarolando uma alegre musiqueta.
– Quem quer casar com C que é rica e bonitinha?
Mas ninguém parecia querer assumir esse compromisso, passara o valente senhor do Apito Prateado, todos os senhores da Casa Fria, da ponte dos rios, enfim parecia que ninguém queria assumi-la por consorte, nem o tio do taxista lá da Sóissa, C desesperava, era triste, que terra esta onde uma menina prendada como ela continuava solteira.
- Ai quando virá o meu príncipe encantado… ai …ai! – Suspirava C, no seu belo T2 a pagar a 30 anos cuja taxa de juros subira já 4 vezes e ainda íamos a meio do ano, mas isso era irrelevante, no Prado Verde, tudo podia acontecer, por exemplo o nome Prado Verde, não fazia nenhum sentido, pois décadas de governantes imbecis e incêndios tinham colorido o Prado Verde, de cinzento das cinzas e preto do alcatrão das auto-estradas e Itinerários principais e complementares, e do castanho e cinza rato do betão que cada vez mais cobria aquela terra, até parecia que os seus governantes estavam apostados em entrar para o Guiness, fazendo do Prado Verde o único sitio do mundo inteiramente coberto de alcatrão e cimento.
- Talvez o Nobre me tome por esposa, ai que bom seria. – C falava do Príncipe Nobre da Herdade dos Sobreiros da Raiz ao Sol, sim esse era um bom partido, C estava à espera, o Príncipe teria de passar na sua rua. - Quem quer casar com C que é rica e bonitinha? – Trauteava C, sem cessar, na esperança de que o Príncipe Nobre a ouvisse e com ela fosse casar.
Mas não! O malvado Príncipe passara, na rua da mernina C e até ouvira a canção de C mas, virara as a costas desagradado e até dissera que ia processar o Estado por o entregar, aquela criatura com voz de cana rachada, realmente C não cantava lá muito bem.
Desesperada, C, arrepelava os cabelos e num acto de loucura, voara da janela do T2, aterrando no alcatrão frio, exalara o seu último suspiro numa ambulância tinonim a caminho do Hospital de Santa Maria Arrependida.
No outro dia todos comentavam, a sua morte. – Sabes quem morreu? – Não, quem? – Foi a Culpa e morreu solteira tadinha. – De facto a Culpa morrera solteira, alias como tantas outras culpas antes dela, no Prado Verde vá-se lá saber por quê as Culpas morriam sempre solteiras e os Culpados nunca apareciam.
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
26 comentários:
A agência funerária que trata do enterro da Culpa, nunca irá ter falta de trabalho.
Mas isso é mesmo assim, seu BARÃO... Nesta aldeia de global imcompetência vs mafiosa, tudo isso está interligado. Por isso, a festa continua, até quando??? Je ne sais pas... Boa sorte.
Grande abraço tambem para ti, Barão. É a 1ª vez wu visito o teu espaço. Muito bem escrito ;)
Voltarei
umas boas ferias barão!
É a verdade, nunca ninguem ker a culpa!
A culpa não tem culpa!
A culpa é da estimada mãe que a pariu!
Já ouvi essa história na queda de uma qualquer ponte ali para o Norte e realmente tens razão as culpas morreram solteiras ou quase.touaqui
É verdade, caro Barão. Este Prado Verde bem se podia chamar o reino dos "Metenojo" pois são eles (os metenojo) que todos os dias dão mais uma machadada no verde das plantas, no azul do céu e no "cordemerda" dos nossos rios. Todos os dias arrasam mais meia dúzia de árvores que levaram décadas a crescer e todos os dias é mais um posto em liberdade (isto se estiver preso, o que é coisa rara). Todos os dias há mais um processo arquivado, como se os tribunais não tivessem mais do que fazer que perder tempo e dinheiro com esta gente. E ainda há gente que acredita na justiça. Pudera! gente ligada a processos de pedofilia ou a atentados contra tudo e contra todos que se vê em liberdade, têm mesmo que acreditar e agradecer os bons serviços que a justiça presta à Nação.
Há que malhar neles.
Já me esquecia: cuidado com estas histórias de encantar, não vão as criancinhas acreditar que o mundo tem mesmo de ser assim ehe ehe ehe.
Existe, sem dúvida, um remédio para cada culpa: reconhecê-la. O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros.
:)*
esta engraçada esta nova versão da Carochinha :)
so agora reparei que te chamas francisco. chamar-te barao nao era mau...
assustei-me com o telemovel pela goela abaixo, de quem o inventou, suponho... tambem nao gosto. antigamente nao os havia e a felicidade era possivel.
abraço da leonoreta
parabéns! mais um texto excelente! grande imaginação sempre cheia de verdade!
boa semana***
Quando comecei a ler desconfiei logo que a vitima era essa feiosa, repelente e abandonada por todos os patifes e indignos deste mundo: A CULPA. Um abraço para o Barão
Culpa, palavra sem significado para tão boa gente...
Culpa??? A culpa é sempre do outro!!
Beijocas
A Culpa morreu fodida pela vida toda ela feita num oito...
E de quem é a Kulpa?
Vai perguntar ao Camões....
Verdade, verdadissíma Caro Amigo Barão!! A Culpa morre solteira porke faltam pessoas na Terra com os testículos no sítio!! As palavra Hombridade, Honestidade e Seriedade, existem cada vez menos!! Este teu excelente Post vem muito a propósito (de certo modo) do ke escrevi no meu último, só ke esses Bandidos a única culpa ke lhes atribuo é terem nascido!! Grande Abraço...Carlos.
Ambulancia tinonim??? achei DEMAIS :=) hhahahahahah
Adorei a história, cheia de alusões riquíssimas à realidade. Claro que acabo por acreditar que esta realidade em que vivemos não passa afinal de um mau conto, urdido por aqueles que bem conhecemos... Um abraço
safa...podiamos lhe chamar:
- feliz desencontro no asfalto;)
Ninguém é inocente!Todos somos culpados de alguma coisa.....
beijos
A Culpa????
É sempre do outro... e que venha o próximo...
Beijos
Eu Não Eu não. Nem que fosse o João Ratão.
boa semana
Nada como sacudir a agua do capote...
A história está deliciosa, parabéns.
A culpa teria um consorte nesse mundo de meu Deus? Quem poderia ser ele? O arrependimento, talvez?
Um abraço,
(de uma simples plebéia para o nobre Barão)
Barão, barão, barão... a tua escrita é absolutamente genial. Esta da culpa está demais. PARABÈNS!!!!!!
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