A recente vitória
do Syriza, na Grécia, veio despertar a Europa para a triste realidade de uma
União que cada vez menos existe. E é tanto mais triste, que ultimamente cada
vez que a Europa fala da Grécia as notícias começam invariavelmente por “…a
Alemanha declara que…”, “… a chanceler alemã não concorda…” ou ainda “…o
ministro da economia da Alemanha…”, mas esperem lá, a Europa é a Alemanha? Onde
andam os líderes da dita União Europeia?
Um destes dias, um
amigo, apontava-me, e muito bem, que a Alemanha é o motor da Europa. Pois claro
que é, alias desde 1990 que a Alemanha, acolitada pelos franceses e pelos
ingleses, fez da Europa o seu couto privado, pagando aos países periféricos
para não produzir, estagnando as suas estruturas industriais e concentrando
tudo isso na Alemanha, e depressa a Alemanha se tornou hegemónica, primeiro
porque Cameron cada vez mais enredado em problemas, voltou à velha reserva
insular dos conservadores “tories”, a velha desconfiança que isola a velha
Albion do continente, em segundo porque a França depois de um Sarkozy inepto
veio a confrontar-se com um Hollande ainda pior, os gauleses tentam não
afundar, mas não está a ser fácil, e se porventura existisse algum grama de honestidade
nesta Europa, a situação francesa seria exposta tal como verdadeiramente está,
um caos.
Ora assim
desembaraçada dos seus dois directos contendores, a Alemanha ficou com o
caminho livre para fazer o que quer, a Comissão Europeia, que com Barroso era
um espécie de extensão das políticas decididas em Berlim, com Juncker, passou a
ser efectivamente uma embaixada alemã, e o pior é da Europa, da tal Europa que
deveria ser uma união.
Não isentos de
culpa, os gregos, uma consumada latrocinocracia, onde todos roubavam quanto e
como podiam, vêem-se agora a braços com uma grande tarefa, e na minha modesta
opinião o grande problema do Syriza não é pagar dívidas, nem arranjar quem
financie o país, o grande problema do Syriza é moralizar um país completamente
imoral, não riam os que nos acham diferentes, não somos, nunca fomos diferentes
da Grécia, somos igualmente um país de moral e ética duvidosas, com elites
políticas de rebotalho, com vigaristas, trafulhas e aldrabões que se esforçam
apenas, diariamente, por malbaratar o erário público, a única diferença está
que por cá a ladroagem e o parasitismo está instalado apenas nas elites
políticas e na súcia dos profissionais da pedincha, de resto sofremos dos
mesmos problemas dos gregos, falta de moral, falta de ética, falta de
liderança, falta de chefias de qualidade e falta de honestidade.
A Alemanha quis o
melhor de dois mundos, produzir muito e ter quem compre, e não se importou em
utilizar a União Europeia para manipular essa pretensão, que conseguiu de forma
brilhante e impavidamente consentida. Aos países periféricos iam-se dando uns
subsídios para manter os indígenas pacificados, bem ao estilo colonialista do
século XIX, enquanto se produzia e incentivava o consumo de bens, alguns
supérfluos, que a Alemanha produz e precisa de vender para que o seu “statu
quo” se mantenha, e ainda foi mais brilhante ao assegurar o seu poder negocial,
através do investimento estratégico em países de mão de obra barata, por
exemplo em Portugal, onde existem mais de 300 empresas de capital alemão, todas
em sectores chave, só as 10 maiores representam cerca de15 mil postos de
trabalho, número bastante apreciável que não pode ser negligenciado por nenhum
governo.
O que não estava
nos planos era um governo que se dispusesse a questionar a União (alemã)
Europeia, o que não estava nos planos era que mal dos seus pecados esse governo
surgisse num país sufocado por uma dívida impagável e assassina, e sim os
primeiros culpados são os próprios gregos, mas convém não esquecer que por
exemplo 26% do que a Grécia gastou em armamento nos últimos 5 anos, foi pago à
Alemanha, que lhe vendeu submarinos, de que tal como nós a Grécia não precisa,
aviões e blindados. E o pior de tudo é que esse governo seja ideologicamente de
esquerda, uma esquerda trauliteira e extremista, veremos se o é, estando eu em
crer que não.
Ora o aparecimento
de tal governo veio estragar o arranjinho alemão, claro que a Grécia está à
partida condenada, terá poucos ou nenhuns apoios dos governos de países
igualmente sufocados por dívidas colossais e juros mercenários, cobrados pelos
“amigos” da Troika, esse verdadeiro bando de meliantes.
Será pois de
esperar que o grupelho de países lacaios subservientes onde claro está,
Portugal e o seu actual governo abjecto pontuam, não apoiem a Grécia,
sinceramente discordo, não concordando com tudo o que o actual governo grego
está a tentar fazer, acredito que esta Europa precisa de se reinventar, deixar
de ser a Europa da Alemanha para passar a ser um Europa verdadeiramente unida e
solidária, que ocupe o seu papel no mundo, deixando de ser uma espécie de
apêndice dos Estados Unidos. A Europa necessita de reavaliar os seus tratados,
precisa de voltar a ser uma Europa humanista e centrada nos europeus, ao invés
de ser isto que é agora, uma dependência bancária alemã.
Faz este mês anos
que a divida alemã foi perdoada em 60%, os alemães têm memória curta, ou então
não lhes interessa recordar, até porque a sua dívida resultou não de comprar
mais do que podiam, mas de assassinar barbaramente milhares de seres humanos!
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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