quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Diário do desempregado – O fado da mentira!

Nos dias que vão lentamente esgotando a paciente e proverbial resistência das lusas gentes, estar na situação de desemprego é por demais corriqueiro, aliás já nem sequer é novidade, tantas são essas situações e tão graves algumas delas, casos verdadeiramente dramáticas aos quais ninguém dá resposta, num país do faz de conta que perpetua a mentira. Sinto-me usado, violado, violentado, espoliado de tempo recursos e vida, enquanto no meu lugar ficam energúmenos incapazes que sempre ganharam o dobro e o triplo do que eu ganhava e faziam um terço do que eu fazia.
Sempre ouvi os nossos governantes, propalar a virtude, urgência e necessidade da formação académica e profissional, assim fiz, trabalhei, estudei à noite, fiz das tripas coração, licenciatura, pós-graduação, CAP, RVCC, e um mestrado quase a concluir, essa foi a primeira das mentiras, deveria antes ter ficado pelo 9º Ano e enveredado por uma opção mais simples como electricista ou canalizador e hoje estaria bem, mas não fui imbecil o suficiente por acreditar naqueles vigaristas todos, alguns deles, muitos, com qualificações académicas muito abaixo das que fui conseguindo com o meu esforço, mas todos com bons empregos, apenas porque possuem uma qualquer ligação partidária, não sendo necessária qualquer réstia de competência ou capacidades.
Fui trabalhando e descontando, sempre precário, nos últimos 20 anos nunca ganhei mais de 700 Euros, sempre me contaram patranhas, assegurando-me que mais tarde ou mais cedo transitaria para um vínculo laboral mais estável, mais uma mentira, ou antes várias, porque foram várias as vezes que tal me foi dito, mentira, mais uma vez fui atraiçoado pela súcia de vigaristas incompetentes que finge gerir este país!
Sempre me disseram para ser cumpridor, ser pontual e assíduo, ser proactivo e produtivo, pois foi isso que fui, nos últimos 12 anos, fui mesmo pau para toda a obra, concebi e produzi muitas actividades, muitas horas gastei a aprofundar matérias, poupei rios de dinheiro ao erário público a dar formação e a ser pago ou antes a não ser pago como formador, trabalhei para toda a gente, SEF, Finanças, Segurança Social, fiz tradução, dei aulas de português, eu sei lá o que fiz, por uma trampa de ordenado, tudo a bem da produtividade, da defesa do posto de trabalho e da proficiência e da miragem de um dia ter um vínculo menos precário, mais uma mentira, porque ninguém valoriza nada, ou antes valorizam apenas para se apropriarem do trabalho por outros desenvolvido, para colherem dividendos.
Nesta teia de mentiras, enredos e trapaças, hoje aos 42 anos estou no desemprego, vítima de mim próprio, por ter sido ingénuo e ter acreditado nestes imbecis, vítima da globalização e da mudança de paradigmas de desenvolvimento, mas sobretudo vítima de uma classe política nojenta e asquerosa. Dói ver que lá ficam de traseiros anafados a mesma súcia de energúmenos e incapazes a quem muitas vezes cobri a incompetência, ficam lá certinhos de terem trabalho e carreira, a corja de incompetentes, promovidos por cunhas e compadrio, por isso viva a mentira, viva o culto da inverdade e da mais absoluta falta de competência.

Um abraço, deste vosso desempregado amigo
Barão da Tróia

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