quinta-feira, abril 22, 2021

Pobres como nós…

 

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, FFMS, publicou no início desta semana mais um documento de excelência, que desta vez versa sobre a pobreza em Portugal, os resultados desse estudo, só serão surpresa para aqueles que não conhecem a realidade deste país e ou que vivem alienados dessa mesma realidade alcandorados nas suas inacessíveis «torres de marfim» imunes portanto ao contacto com o povinho, esse mesmo povinho que sofre e que em última instância paga isto tudo, e como «quem paga adiantado acaba mal servido», assim vai a realidade desta mui pouco nobre gaiola de malucas a que chamamos Portugal.

Aponta este trabalho para que 28% das pessoas pobres referidas no estudo, residentes em Portugal sejam reformados. Pessoalmente acredito que o número peca por defeito, fundamento essa opinião com números de 2014 que diziam que dois milhões de portugueses tinham reformas inferiores a 364 euros, ainda assim o número apontado no estudo da FFMS é atroz.

Nada que de antemão já não soubéssemos, a velhice em Portugal é uma pena severa, às maleitas próprias da idade e à consequente velhice juntam-se a miséria, a fome, o abandono, a solidão, o isolamento, os maus tratos e as deficientes condições de acesso a cuidados de saúde, por outras palavras e recorrendo a um chavão recorrente, este país não é para velhos.

Depois, aponta o estudo que quase 60% das pessoas referidas, indiciadas como pobres são pessoas que trabalham, o que mostra bem a importância que as elites governeiras e económicas dão ao trabalho e à sua justa recompensa, é pavoroso.

Esta realidade indiciadora da base onde assenta a economia deste país, uma base perversa, obscena, quase equiparada a servidão que se viu em tempos medievos. Daquele total, 32% dessas pessoas pobres, são pessoas que possuem trabalho certo com salários certos e contratos de trabalho, ora sabendo nós os salários miseráveis que se pagam neste país, de novo nada disto é de espantar.

Mais, de novo dos que trabalham, identificados como pobres, 27% são precários, gente que está sujeita aos neo esclavagistas do sector empresarial, tanto do sector privado como do sector público, que aí a coisa dá igual, estes números são bem reveladores da realidade terrível que assola este país, ainda assim, para quem anda atento a estas coisas, são números que voltam a não trazer qualquer surpresa, tendo eu a convicção de que estes números pecam por defeito, talvez eu esteja a ser demasiado pessimista, mas tendo estado ligado ao sector social nesta última década, tenho a percepção de que a coisa é bem pior, se calhar estou errado claro está.

A todos os verdadeiramente pobres que atrás aludimos, ainda se junta mais uma percentagem de «pobres de espírito» representados pelas várias súcias parasitas, daquelas que vivem em bairros ditos sociais mas que se deslocam em veículos topo gama, são os pobres «profissionais» vivem disso,vivem de ser tidos como pobres, alimentam e justificam uma grande teia de profissionais, de instituições e de burocracias, componentes de uma grande máquina que vive da pobreza, mas apenas deste tipo de pobres, pois não querem nada com os outros descritos mais acima, esses, reformados, precários e trabalhadores pobres que se desenrasquem.

Temos então uma larga fatia da população que vive em pobreza, que passa dificuldades, que não consegue pagar todas as contas, que não se alimenta decentemente, que não vai de férias, que se deita muitas vezes sem saber como será o dia de amanhã, mata-os a fome, as carências e mata-os a pressão psicológica em que vivem, um permanente estado de alerta que lhes vai arruinar mas a saúde.

No entanto temo bem que a actual conjuntura, se vá traduzir numa situação ainda mais perversa, onde os mais frágeis e desamparados, ficarão ainda pior, tenho esperanças ainda de estar errado nesta análise, enquanto a trama avança, seráficos e impávidos, como bons carneirinhos sacrificiais, continuamos a ver os politiqueiros a esbanjar, a desbaratar o nosso dinheiro, a enterrar capitais em bancos falidos, em processos judiciais megalómanos e em empresas públicas que há muito deveriam ter sido alienadas, assim vai este pardieiro.

P.S. - Se quiserem consultar o documento da FFMS aqui fica a ligação: https://www.ffms.pt/publicacoes/grupo-estudos/5364/a-pobreza-em-portugal-trajectos-e-quotidianos

 

Um abraço deste vosso amigo

Barão da Tróia

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