sábado, março 20, 2021

Este nosso Fado da corrupção.

 ma instituição nacional que trabalha na prevenção da corrupção, o Conselho de Prevenção da Corrupção, publicou esta semana o seu relatório anual, relativo ao ano de 2020, onde estão inscritas as ocorrências relativas a actos de corrupção comunicadas a esse mesmo conselho.

Num pequeno relatório de 30 páginas, está plasmada uma parte da situação deste país no que concerne à corrupção, essa outra praga que nos assola há tanto tempo, sem vacina que nos valha, de tal maneira está instituída no mais interior âmago da sociedade, intuído desde bem cedo como um modo justificado de fazer as coisas.

O relatório apresenta 738 ocorrências, de tipologia variada, dizem respeito apenas à Administração Pública na sua vertente Central e Local, não são os únicos locais onde a corrupção existe mas são os locais preferenciais, por causa do contexto e das relações muitas vezes assimétricas e tempestuosas, do cidadão com a Administração Pública e ou do modus operandi dos agentes dessa mesma Administração.

À cabeça da bandalheira, estão as Autarquias, já havia escrito o mesmo, há uns tempos, chateia-me ter por vezes razão avant la lettre, mas neste caso, conhecendo bem o panorama das autarquias é fácil chegar a essa conclusão, agora confirmada por este relatório, as enxovias autárquicas são antros de bandalheira, ninhos de corruptos, tenho um exemplo bem próximo, onde o nepotismo, as redes de amiguismos, as clientelas e o caciquismo oligárquico são os exemplos desta miserável sociedade de gentalha corrupta, basta confirma-lo lendo este pequeno relatório.

Mas bem, ou antes, menos mal estaríamos se a corrupção grassasse apenas nos podres corredores da Administração Pública, infelizmente, essa coisa da corrupção, da cunha, do favor, extraordinariamente ilustrado no velho adágio “Uma mão lava a outra” expressão que apesar de ter origem na Antiguidade Clássica, e com outra significação, quadra aqui neste Portugal corrupto de forma extraordinária, dizia eu que a corrupção é algo que transversalmente infectou qual vírus toda a nossa sociedade.

E de tal maneira isto está instilado na génese social que até o pacato e cumpridor cidadão, quando por vezes confrontado com determinada situação não hesita em recorrer ao “untar da mão” ou ao “favorzinho” para por exemplo arranjar consulta no centro de saúde, emprego para os filhos ou escapar à multa, é esta uma realidade nacional que se pode observar de Norte a Sul do país, numa teia de interdependências e clientelas que posteriormente chegam à política, minando inteiramente a sociedade.

Ao lermos o relatório chegamos igualmente à conclusão de que a par com a corrupção, também a Justiça, quiçá também tocada pelo verme que corrompe, qual maça podre, apresenta um desempenho medíocre, dado que aparecem apenas 88 acusações e apenas 10 condenações de 738 casos reportados, o que é absolutamente medíocre, mais uma vez o crime compensa, sendo que as vítimas, somos todos.

Gostaria de saber quanto custa ao país, quanto nos custa a todos a corrupção, quantos milhões se esvaem nos bolsos fundos dos corruptos, fundos tão necessários a um país de pobretanas falcatos que vivem de mão estendida para a Europa, a ver quando caem as migalhas.

P.S. – Podem ver o relatório aqui https://www.cpc.tcontas.pt/

 

Um abraco, deste vosso amigo

Barão da Tróia

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