terça-feira, outubro 27, 2020

Era um simples professor…

França assistiu com horror, novamente, a mais um acto de barbárie perpetrado por um doente religioso, a mais perigosa das doenças, uma patologia das mui terríveis a que este Mundo assiste desde há muito. Foi um acto miserável, um acto cobarde que atenta não contra apenas a França, não apenas contra a Europa, mas atenta contra a civilidade, contra o respeito, contra o laicismo, contra o direito de não acreditar, contra o direito de pensar, contra o direito de questionar, em suma, aquele acto de barbárie foi um atentado contra a Humanidade .

Pessoas, é com dificuldade que classifico quem mata outros por ninharias religiosas, aliás se querem que vos diga este tipo de gente dificilmente se pode enquadrar no género humano, terão de ter um género próprio, porque este tipo de comportamentos revela uma demência, uma distorção mental que não se coaduna com o termo genérico «Humano», se consigo de certa forma entender, à luz dos tempos históricos mais da arrogância e da ignorância, actos semelhantes, fundamentados nas questões religiosas, actos hediondos cometidos em séculos mais recuados, as guerras religiosas, os “pogroms” contra os Judeus ou a Inquisição entre outros, demasiados, infelizmente, são os exemplos da barbárie com fundamentação religiosa, tais actos neste século em que vivemos, numa era de globalização quase plena, numa era de informação ao alcance de quase todos, parecem-me absolutamente odiosos tais comportamentos anacrónicos.

A minha condição de ateu, ainda turva mais a objectividade e a imparcialidade a que me devo obrigar na análise destas coisas, isso mais a minha veia libertária, tudo isso conjugado, impede-me de ter sequer empatia por este tipo de criaturas, reparem que não lhes chamo humanos, e recuso-me a fazê-lo, pois duvido que o sejam, criaturas que matam em nome de um qualquer deus, de um qualquer conceito estuporado, de uma nuvem etérea de nada feita, não podem ser humanos ou se o são estão doentes, mesmo muito doentes. Não consigo de todo entender esta rapaziada.

Infelizmente, os tempos que vivemos estão propícios ao reverberar deste tipo de criaturas, vemo-las por aí constantemente, sempre, ou quase sempre ligadas a coisas menos boas, professem eles a confissão que for, sejam evangélicos, católicos e ou muçulmanos, uma coisa parece unir este tipo de criaturas dementes, uma insana motivação para cometer atrocidades, o que nega por princípio a suposta sagrada devoção com que agem, reparem que o acto de que primeiramente vos falei não aconteceu num qualquer “absurdistão” deste infeliz Mundo, nem numa aldeola perdida dominada por superstições de um qualquer estado sulista americano prenhe em gente preconceituosa, o miserável, cobarde e infausto evento aconteceu em França, bem próximo da capital do país da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade, da ética republicana e do laicismo, facto grave, seria sempre grave, seria sempre algo demasiadamente grave, mas o simbolismo disto tudo ainda o torna mais grave.

O miúdo que cometeu a atrocidade, foi instigado pelo seu progenitor, esse sim a verdadeira besta cobarde, imbecil mentecapto, por detrás do hediondo crime, este tipo de criaturas cobardes, alimenta-se da nossa Liberdade e do nosso dinheiro para à primeira oportunidade nos degolarem sem apelo nem agravo, mas porque são incapazes, cobardes e medíocres conseguem sempre ficar impunes e levar os mais frágeis a cometer estas barbaridades em nome de crendices racistas, porque na verdade é disto que se trata, terrorismo, racista de índole religiosa.

Samuel Paty, aquele simples professor de História que apenas queria mostrar aos seus alunos que a tolerância, o respeito pelos outros e a Liberdade são pilares essenciais de um Mundo moderno, caiu vítima das tenebrosas forças da demente mediocridade religiosa, a sua morte é a morte de um pouco de todos nós, e se não entendermos isso como tal, estamos condenados. Esperava uma reacção veemente e assertiva da Europa, infortunadamente, apenas vi, li e ouvi, incómodos silêncios, exceptuando as reacções dos franceses, como se aquele problema fosse apenas de França, aquele bárbaro e cobarde acto foi contra todos nós os que ainda acreditamos na Igualdade, na Liberdade e no Respeito e Tolerância, e é contra isso que deveríamos estar a erguer a nossa voz e a mostrar o nosso desagrado, contra essa gentalha que aqui chega, que não nos respeita e exige respeito, mas isso era numa Europa livre, não nesta em que hoje infelizmente vivemos, esta está condenada, é um corpo doente…

Sentidas condolências à família de Samuel, Requiescat in Pace. 

 

Um abraço, deste vosso amigo

Barão da Tróia

 

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