terça-feira, fevereiro 17, 2015

O segredo da Acrópole



A recente vitória do Syriza, na Grécia, veio despertar a Europa para a triste realidade de uma União que cada vez menos existe. E é tanto mais triste, que ultimamente cada vez que a Europa fala da Grécia as notícias começam invariavelmente por “…a Alemanha declara que…”, “… a chanceler alemã não concorda…” ou ainda “…o ministro da economia da Alemanha…”, mas esperem lá, a Europa é a Alemanha? Onde andam os líderes da dita União Europeia?
Um destes dias, um amigo, apontava-me, e muito bem, que a Alemanha é o motor da Europa. Pois claro que é, alias desde 1990 que a Alemanha, acolitada pelos franceses e pelos ingleses, fez da Europa o seu couto privado, pagando aos países periféricos para não produzir, estagnando as suas estruturas industriais e concentrando tudo isso na Alemanha, e depressa a Alemanha se tornou hegemónica, primeiro porque Cameron cada vez mais enredado em problemas, voltou à velha reserva insular dos conservadores “tories”, a velha desconfiança que isola a velha Albion do continente, em segundo porque a França depois de um Sarkozy inepto veio a confrontar-se com um Hollande ainda pior, os gauleses tentam não afundar, mas não está a ser fácil, e se porventura existisse algum grama de honestidade nesta Europa, a situação francesa seria exposta tal como verdadeiramente está, um caos.
Ora assim desembaraçada dos seus dois directos contendores, a Alemanha ficou com o caminho livre para fazer o que quer, a Comissão Europeia, que com Barroso era um espécie de extensão das políticas decididas em Berlim, com Juncker, passou a ser efectivamente uma embaixada alemã, e o pior é da Europa, da tal Europa que deveria ser uma união.
Não isentos de culpa, os gregos, uma consumada latrocinocracia, onde todos roubavam quanto e como podiam, vêem-se agora a braços com uma grande tarefa, e na minha modesta opinião o grande problema do Syriza não é pagar dívidas, nem arranjar quem financie o país, o grande problema do Syriza é moralizar um país completamente imoral, não riam os que nos acham diferentes, não somos, nunca fomos diferentes da Grécia, somos igualmente um país de moral e ética duvidosas, com elites políticas de rebotalho, com vigaristas, trafulhas e aldrabões que se esforçam apenas, diariamente, por malbaratar o erário público, a única diferença está que por cá a ladroagem e o parasitismo está instalado apenas nas elites políticas e na súcia dos profissionais da pedincha, de resto sofremos dos mesmos problemas dos gregos, falta de moral, falta de ética, falta de liderança, falta de chefias de qualidade e falta de honestidade.
A Alemanha quis o melhor de dois mundos, produzir muito e ter quem compre, e não se importou em utilizar a União Europeia para manipular essa pretensão, que conseguiu de forma brilhante e impavidamente consentida. Aos países periféricos iam-se dando uns subsídios para manter os indígenas pacificados, bem ao estilo colonialista do século XIX, enquanto se produzia e incentivava o consumo de bens, alguns supérfluos, que a Alemanha produz e precisa de vender para que o seu “statu quo” se mantenha, e ainda foi mais brilhante ao assegurar o seu poder negocial, através do investimento estratégico em países de mão de obra barata, por exemplo em Portugal, onde existem mais de 300 empresas de capital alemão, todas em sectores chave, só as 10 maiores representam cerca de15 mil postos de trabalho, número bastante apreciável que não pode ser negligenciado por nenhum governo.
O que não estava nos planos era um governo que se dispusesse a questionar a União (alemã) Europeia, o que não estava nos planos era que mal dos seus pecados esse governo surgisse num país sufocado por uma dívida impagável e assassina, e sim os primeiros culpados são os próprios gregos, mas convém não esquecer que por exemplo 26% do que a Grécia gastou em armamento nos últimos 5 anos, foi pago à Alemanha, que lhe vendeu submarinos, de que tal como nós a Grécia não precisa, aviões e blindados. E o pior de tudo é que esse governo seja ideologicamente de esquerda, uma esquerda trauliteira e extremista, veremos se o é, estando eu em crer que não.
Ora o aparecimento de tal governo veio estragar o arranjinho alemão, claro que a Grécia está à partida condenada, terá poucos ou nenhuns apoios dos governos de países igualmente sufocados por dívidas colossais e juros mercenários, cobrados pelos “amigos” da Troika, esse verdadeiro bando de meliantes.
Será pois de esperar que o grupelho de países lacaios subservientes onde claro está, Portugal e o seu actual governo abjecto pontuam, não apoiem a Grécia, sinceramente discordo, não concordando com tudo o que o actual governo grego está a tentar fazer, acredito que esta Europa precisa de se reinventar, deixar de ser a Europa da Alemanha para passar a ser um Europa verdadeiramente unida e solidária, que ocupe o seu papel no mundo, deixando de ser uma espécie de apêndice dos Estados Unidos. A Europa necessita de reavaliar os seus tratados, precisa de voltar a ser uma Europa humanista e centrada nos europeus, ao invés de ser isto que é agora, uma dependência bancária alemã.
Faz este mês anos que a divida alemã foi perdoada em 60%, os alemães têm memória curta, ou então não lhes interessa recordar, até porque a sua dívida resultou não de comprar mais do que podiam, mas de assassinar barbaramente milhares de seres humanos!

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

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