terça-feira, janeiro 13, 2015

O Senhor Graça Moura



O ano que passou viu desaparecer um pouco do século XX português, viu desaparecer Sousa Veloso, Vítor Crespo, Anthímio de Azevedo, Eusébio, Coluna entre outros, com eles morre um pouco de nós também, das nossas memórias.
De todos o que mais me tocou, foi o desaparecimento de Vasco Graça Moura. Um excepcional cultor das artes em especial da literatura, figura maior das letras, soberbo tradutor, quem leu as suas traduções de Corneil, de Dante e de Petrarca percebe o génio e a fina argúcia e a desmedida cultura daquele homem, simples e pouco dado ao estrelato, pelo menos era assim que eu o via.
Ocorreu-me agora que já lá vão uns anos, estava eu, assistir a um conferência, orava uma figura execrável e chata, decidi, sair e vir à rua fumar um cigarro, logo se me juntou um colega que por vergonha ainda não se havia levantado, escolhemos um pequeno recanto que nos protegia das “vistas do inimigo”, estávamos ali a fumar o cigarro e a cavaquear sobre ocorrências mundanas, quando surge Graça Moura, pede desculpa e pergunta se algum de nós tinha lume, e ficou ali a conversar connosco uma boa dezena de minutos, que valeram bem a ida a esse evento verdadeiramente chato. Durante esse tempo, falámos dos temas da conferência de igual para igual, Graça Moura, escutava e emitia as suas opiniões, sem nunca dar aquela sensação de sobranceria com que muitas vezes somos presenteados por algumas “Avis raras” que sabendo bem menos alardeiam a sua ignorância falando de forma arrogante.
Apesar de não concordar muitas vezes com as suas opiniões em termos políticos, fiquei a admirar Graça Moura, precisamente pela excelência da sua cultura, pela forma simples que tinha de tratar essa cultura, pela defesa intransigente que fez da língua portuguesa contra esse vilipêndio e abastardamento que a mesma sofreu com essa coisa infecta chamada Acordo Ortográfico.
Foi a figura desaparecida em 2014, cujo desaparecimento mais me toca. Desapareceu um excelente homem de cultura, um erudito, de um país tão falho de gente intelectualmente capaz. Que descanse em paz!

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

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