O ano que passou
viu desaparecer um pouco do século XX português, viu desaparecer Sousa Veloso,
Vítor Crespo, Anthímio de Azevedo, Eusébio, Coluna entre outros, com eles morre
um pouco de nós também, das nossas memórias.
De todos o que mais
me tocou, foi o desaparecimento de Vasco Graça Moura. Um excepcional cultor das
artes em especial da literatura, figura maior das letras, soberbo tradutor,
quem leu as suas traduções de Corneil, de Dante e de Petrarca percebe o génio e
a fina argúcia e a desmedida cultura daquele homem, simples e pouco dado ao
estrelato, pelo menos era assim que eu o via.
Ocorreu-me agora
que já lá vão uns anos, estava eu, assistir a um conferência, orava uma figura
execrável e chata, decidi, sair e vir à rua fumar um cigarro, logo se me juntou
um colega que por vergonha ainda não se havia levantado, escolhemos um pequeno
recanto que nos protegia das “vistas do inimigo”, estávamos ali a fumar o
cigarro e a cavaquear sobre ocorrências mundanas, quando surge Graça Moura,
pede desculpa e pergunta se algum de nós tinha lume, e ficou ali a conversar
connosco uma boa dezena de minutos, que valeram bem a ida a esse evento
verdadeiramente chato. Durante esse tempo, falámos dos temas da conferência de
igual para igual, Graça Moura, escutava e emitia as suas opiniões, sem nunca
dar aquela sensação de sobranceria com que muitas vezes somos presenteados por
algumas “Avis raras” que sabendo bem menos alardeiam a sua ignorância falando
de forma arrogante.
Apesar de não concordar
muitas vezes com as suas opiniões em termos políticos, fiquei a admirar Graça
Moura, precisamente pela excelência da sua cultura, pela forma simples que
tinha de tratar essa cultura, pela defesa intransigente que fez da língua
portuguesa contra esse vilipêndio e abastardamento que a mesma sofreu com essa
coisa infecta chamada Acordo Ortográfico.
Foi a figura
desaparecida em 2014, cujo desaparecimento mais me toca. Desapareceu um
excelente homem de cultura, um erudito, de um país tão falho de gente
intelectualmente capaz. Que descanse em paz!
Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia
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