quarta-feira, dezembro 03, 2014

Prenderam o filósofo



Esta semana o país foi surpreendido, com a detenção e custódia preventiva depois das inquirições, do senhor Sócrates. As figurinhas do costume vieram carpir a sua estupefacção, entre lágrimas de crocodilo e pesares de contentamento. Entre as declarações espectáveis, de apreço e verdadeira consternação, da parte de camaradas da mesma camarilha política e declarações mais ou menos intelectualmente indigentes como a de um conhecido, e costumeiro, fazedor de disparates políticos, que disse que era um momento triste e que devia fazer os portugueses sentirem-se tristes, de tudo um pouco se ouviu.
Pessoalmente a única coisa que verdadeiramente me espanta é o facto de ter a Justiça tardado tanto e de ser apenas o senhor Sócrates a estar detido, quando se sabe perfeitamente que nessa prisão em Évora onde aguarda em prisão preventiva, falta lá imensa gentinha, dessa súcia política, que nesta última trintena de anos se tem empanturrado com o esbanjar do erário público, esfalfando-se nas negociatas, nas falcatruas, no mais torpe e sem vergonha aproveitamento de um país miserável e de um povinho reles e carneiro.
Descontando esse facto, acima mencionado, nada mais me surpreende na detenção do senhor Sócrates. Seria fastidioso enumerar as muitas escandaleiras e falcatruas, as muitas vigarices e descarada roubalheira, que amigos de políticos, empresários ligados a políticos, banqueiros, autarcas, deputados e ministros têm efectuado nestes últimos trinta anos de suposta Democracia e de um verdadeiro Estado de Direito, direito ao bolso deles, diga-se “en passant”. Mas são muitos casos, demasiados para um país tão pequeno.
A tal Justiça, tem andado, digamos que, anestesiada, sem rumo nem sorte, talvez porque ela própria minada pela politiqueirice rasteira, veja-se em abono desta opinião o modo como os juízes do Constitucional são nomeados. Existem demasiadas pontas soltas neste pretenso Estado de Direito. Infelizmente ninguém me tira da cabeça que esta perseguição ao senhor Sócrates é uma mera vingança, isto claro está, descontando o facto, de por acções, o dito ter de ser efectivamente julgado, não estou aqui para o defender, e até concordo que se meteu a pata no poça, seja efectivamente punido, no entanto tudo isto me cheira a podridão, não sei porquê.
Porque se usarmos as mesmas questões que se usaram para indiciar o senhor Sócrates, como explicarão, muitos políticos da actualidade, fedelhos mimados com pouco mais de 50 anos de idade, que nunca trabalharam uma única hora da sua vida, as fortunas colossais que detêm, como explicarão os carros, as casas, as viagens, as obras arte e as contas recheadas?
Existe demasiada podridão, o cheiro a esgoto inunda os corredores do poder, PS e PSD são dos bons exemplos da podridão institucional, em 30 anos não conseguiram fazer aprovar legislação sobre enriquecimento ilícito, sobre métodos indiciários que obriguem as pessoas a privar de onde vem a sua fortuna, Cravinho até tentou, foi digamos que “deportado” para o Parlamento Europeu e a legislação que tinha preparada enterrada num qualquer canto escuro e esquecido.
Realmente os políticos não são todos iguais, o senhor Sócrates está preso, mas faltam lá outros, os das falcatruas das tecnotrapalhadas, os das acções da SLN e casas da praia, dos submarinos, das herdades, dos bancos vigaristas e dos banqueiros ladrões, enfim faltam lá tantos, que PS e PSD ficariam provavelmente sem mais de metade dos seus representantes, e falo apenas destes dois partidos porque são os mais emblemáticos do triste espectro partidário nacional, porque se quisermos ser mais correctos, da esquerda à direita, o que não faltam são exemplos de vigaristas!

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

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