Começo por dizer que concordo em absoluto com a
decisão do governo de Timor em por a andar os Juízes e mais não sei quem. Como
Estado soberano estão no seu direito e ponto final. Se a decisão é acertada ou
não isso é um outro assunto. E é mais que claro que Timor está a dar um tiro
nos dois pés, afundando-se ainda mais nas teias da corrupção que já minam as
suas instituições, ou não fosse Timor uma ex-colónia de Portugal.
Não entendo portanto o ar de enfado, quer daquela
espécie de ministro que anda pelos Negócios Estrangeiros, outra boa aquisição
do governo do senhor Coelho, cada tiro cada melro, é só qualidade. Também não
entendo o ar de enfado e as declarações dos Juízes e dos Procuradores, cá do
burgo, melindrados pobres tadinhos, com a decisão do governo timorense, que
certa e errada é a decisão de um governo soberano.
A meu ver a única coisa aqui verdadeiramente
preocupante e que denota a ainda incipiente inexperiência das instituições
timorenses e dos seus actores políticos é a falta de subtileza para de uma
forma absolutamente correcta afastar os Juízes e salvar a face, como aliás se
faz por cá, ora se Timor quer efectivamente e deve aspirar quase de certeza a
isso, ser um Estado Democrático assente no Direito, tem de primeiro aprender
com o s melhores, por isso acho que mandarem aquela rapaziada embora assim é
desperdiçar opções de aprendizagem.
Brasil e Angola por exemplo, ambos como muito bem se
sabe, ex-colónias de Portugal, aprenderam e dominam perfeitamente a arte da boa
governança, bem como a probidade de espírito que herdaram e aprimoram,
superando até o mestre, pois em termos de corrupção, bandidagem, vigarice e
falcatrua, aqueles dois locais suplantam claramente Portugal. Logo Timor tem
muito a aprender connosco e ao lidar assim tão mal com uma mera investigação,
mostra que ainda não está preparado para ser um verdadeiro Estado de Direito.
Depois também não entendo, sinceramente, os ares de
damas ofendidas dos senhores cá de Portugal. Estamos a falar de um país,
Portugal, onde a Justiça pouco mais é do que uma farsa, uma opereta bufa, com
tipos enfarpelados em farrapos negros e colares caríssimos, a fingir que
realmente servem para alguma coisa, e não falamos apenas do problema do famoso
Citius, essa famosa barracada judicial, a cara deste Governo no que toca à competência,
a Justiça está e estará sempre hipotecada, porque o seu modelo assente em bases
falaciosas e iníquas subverte completamente os seus bons princípios e desígnios.
Estamos a falar de um país, Portugal, onde a Justiça
se divide essencialmente entre a Justiça de uns, quem pode pagar, e a justiça
dos outros, quem não pode pagar. Estamos a falar de um país, Portugal, onde é
possível encomendar sentenças, onde se obtêm todos os documentos e mais alguns
recorrendo a métodos dúbios, onde até existe um Tribunal especial que consagra
a sua actividade à mera tarefa de ilibar sempre o Estado e as suas várias
instituições de acções intentadas por quaisquer cidadãos mais afoitos, por
último estamos a falar de um país, Portugal, absolutamente corrupto.
Porquanto não entendo o ar ofendido que os senhores
das leis puseram, parecendo aquelas putas já decadentes a quererem ainda ser
tomadas por meninas novas. Já sei que presunção e água benta cada um toma a que
quer, mas no caso de Portugal, a presunção torna-nos estúpidos, porque não
somos exemplo para ninguém e a água benta, estou desconfiado que mesmo vendida
a granel em bidões, toda a água benta do Vaticano, não chegaria para benzer
este paraíso do disparate.
Um abraço deste vosso amigo
Barão da Tróia
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