domingo, agosto 31, 2014

Um país completamente partido



Uma das esperanças, vãs e pueris, que tínhamos com a vinda da troika, seria que essas “credíveis”, “isentas” e “honestíssimas” instituições fossem de algum préstimo, no debelar de um problema nacional que faz exaurir constantemente o erário público e à conta do qual, muito do miserabilismo em que nos encontramos hoje, talvez fosse menos incisivo.
Vãs porém foram essas esperanças. No que à corrupção concerne, as ilustres instituições, estão-se literalmente nas tintas, o que a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), pretendem é apenas assegurar que os milhões que lhes devemos por cada vez que cá põem os pés e debitam barbaridades, lhes sejam pagos, esse é o seu verdadeiro e único interesse, é assim que se alimenta a máquina de consultores que faz estudos e folhas de Excel para ditar políticas que apenas arruínam os países, mas não é disso que aqui queremos falar hoje.
A corrupção é o verdadeiro móbil deste pequeno artigo. Porque a corrupção que mina este país é um dos seus maiores problemas. Basta alias ver os serviços noticiosos dos vários canais televisivos ou folhear os diários para verificarmos que rara é a semana em que algum caso envolvendo, políticos e a corrupção não apareça em grandes parangonas, para grande gáudio da populaça que logo aponta o dedo a mais um galfarro que se abotoou com os dinheiros do erário público.
No original latino “corrupto” significava literalmente completamente destruído. O termo terá sido primeiramente utilizado por Aristóteles e mais tarde pelo grande orador Cícero, que desse modo expunha a dissolução, ética, moral e cívica dos homens públicos de Roma, sabe-se que César o grande “general” e conquistador romano era useiro e vezeiro em utilizar o suborno como forma de servir os seus fins, infelizmente parece que a romanização deixou em terras lusitanas os mais feéricos dos emuladores desse Imperador Romano, «estes lusitanos são doidos» diria o devorador de javalis mais famoso de toda a Gália, e de facto não andaria longe da razão.
Os nossos políticos são corruptos, porque nós enquanto sociedade somos corruptos, vivemos de pequenas manhosices, de esquemas e do inefável Chico-espertismo nacional, essa verdadeira escola de corruptos, sempre a tentar perceber como damos a volta ao assunto, como contornamos a situação, em suma somos um país corrupto, miseravelmente corrupto e sem escrúpulos, senão vejamos, o merceeiro rouba no peso, o lojista foge ao fisco, o polícia aceita um bacalhau e perdoa a multa, quem é multado procura logo o tal amigo para o livrar da coima, no centro de saúde ou no hospital convém sempre ter “conhecimentos” e claro está o político finca as unhacas aos milhões e abifa-se à tripa forra aos dinheiros públicos que depois distribui pelos amigos, criando desse modo uma rede tentacular que se espalha pela administração, onde os pequenos mangas-de-alpaca, são verdadeiros reis, assenhoreando-se de todas as possíveis negociatas e distribuindo sempre uma parte do saque para que o jogo sujo possa prosseguir, Portugal poderia até mudar o nome para Piratal, tal é a quantidade de flibusteiros, corsários, bucaneiros e piratas que infesta o seu território, ocultos pelas várias ilhas, enseadas e penínsulas. 
E somos de tal maneira um povo corrupto, que a própria legislação, consagra absurdos legais e especificidades técnicas arranjadas quase a pedido para que os mega corruptos e as suas redes de compadrios fiquem sempre a salvo, ainda que a coberto da fábula que se conta sobre Portugal ser um Estado de Direito, por vezes até se gastem milhões para construir casos, que um qualquer causídico estagiário desmonta, a prova-lo estão os vários espaventosos e onerosos “mega-processos”, novelas jurídicas quixotescas que vão enchendo páginas de jornais e de onde raramente alguém sai condenado, sendo porém certo que o dinheiro desaparece, Portugal é alias um caso daquilo que podemos chamar “corrupção-fantasma”, dado que ficam sempre provados os actos de corrupção, fica sempre provado o desaparecimento de milhões, mas curiosamente nunca esses factos são atribuídos a alguém, somos portanto um país curioso e digno de uma cuidada investigação, porque por cá, as actividades ditas de paranormais, não perdem tempo com vulgaridades demoníacas, como vomitar matérias viscosas de cor esverdeada ou rodar a cabeça a 380, nada disso, o ectoplasma lusitano é muito mais precavido, não vá a vida do Além entrar em crise, e deita as garras aos incautos milhões do erário público e a todas as negociatas e falcatruas que se podem fazer, daí concluirmos que Portugal não necessita de tribunais nem de Juízes, Portugal necessita isso sim de caça-Fantasmas.
Da corrupção dos pequenos nadas, à corrupção das elites politiqueiras, é um nunca mais acabar de esquemas de bandalhice dos quais pouca gente sai incólume, e onde muito pouca gente pode apontar o dedo. Quando ouvimos falar “deles” dos políticos como sendo os grandes sacripantas malévolos, devemos pensar que “eles” somos todos nós, é toda uma sociedade que se perfila na senda da corrupção endémica, culturalmente aceite e enraizada, nos caciquismos, nos amiguismos e nas redes informais de uma mão lava a outra e enquanto assim forma continuaremos a ter um país corrupto, um país imprestável um país verdadeiramente todo partido aos bocados e do qual muito pouco se aproveita.

Um abraço deste vosso amigo
Barão da Tróia

Sem comentários: