Uma das esperanças,
vãs e pueris, que tínhamos com a vinda da troika, seria que essas “credíveis”,
“isentas” e “honestíssimas” instituições fossem de algum préstimo, no debelar
de um problema nacional que faz exaurir constantemente o erário público e à
conta do qual, muito do miserabilismo em que nos encontramos hoje, talvez fosse
menos incisivo.
Vãs porém foram
essas esperanças. No que à corrupção concerne, as ilustres instituições,
estão-se literalmente nas tintas, o que a Comissão Europeia, o Banco Central
Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), pretendem é apenas
assegurar que os milhões que lhes devemos por cada vez que cá põem os pés e
debitam barbaridades, lhes sejam pagos, esse é o seu verdadeiro e único
interesse, é assim que se alimenta a máquina de consultores que faz estudos e
folhas de Excel para ditar políticas que apenas arruínam os países, mas não é
disso que aqui queremos falar hoje.
A corrupção é o
verdadeiro móbil deste pequeno artigo. Porque a corrupção que mina este país é
um dos seus maiores problemas. Basta alias ver os serviços noticiosos dos
vários canais televisivos ou folhear os diários para verificarmos que rara é a
semana em que algum caso envolvendo, políticos e a corrupção não apareça em
grandes parangonas, para grande gáudio da populaça que logo aponta o dedo a
mais um galfarro que se abotoou com os dinheiros do erário público.
No original latino
“corrupto” significava literalmente completamente destruído. O termo terá sido
primeiramente utilizado por Aristóteles e mais tarde pelo grande orador Cícero,
que desse modo expunha a dissolução, ética, moral e cívica dos homens públicos
de Roma, sabe-se que César o grande “general” e conquistador romano era useiro
e vezeiro em utilizar o suborno como forma de servir os seus fins, infelizmente
parece que a romanização deixou em terras lusitanas os mais feéricos dos
emuladores desse Imperador Romano, «estes lusitanos são doidos» diria o
devorador de javalis mais famoso de toda a Gália, e de facto não andaria longe
da razão.
Os nossos políticos
são corruptos, porque nós enquanto sociedade somos corruptos, vivemos de
pequenas manhosices, de esquemas e do inefável Chico-espertismo nacional, essa
verdadeira escola de corruptos, sempre a tentar perceber como damos a volta ao
assunto, como contornamos a situação, em suma somos um país corrupto,
miseravelmente corrupto e sem escrúpulos, senão vejamos, o merceeiro rouba no
peso, o lojista foge ao fisco, o polícia aceita um bacalhau e perdoa a multa,
quem é multado procura logo o tal amigo para o livrar da coima, no centro de
saúde ou no hospital convém sempre ter “conhecimentos” e claro está o político
finca as unhacas aos milhões e abifa-se à tripa forra aos dinheiros públicos
que depois distribui pelos amigos, criando desse modo uma rede tentacular que
se espalha pela administração, onde os pequenos mangas-de-alpaca, são
verdadeiros reis, assenhoreando-se de todas as possíveis negociatas e
distribuindo sempre uma parte do saque para que o jogo sujo possa prosseguir,
Portugal poderia até mudar o nome para Piratal, tal é a quantidade de
flibusteiros, corsários, bucaneiros e piratas que infesta o seu território,
ocultos pelas várias ilhas, enseadas e penínsulas.
E somos de tal
maneira um povo corrupto, que a própria legislação, consagra absurdos legais e
especificidades técnicas arranjadas quase a pedido para que os mega corruptos e
as suas redes de compadrios fiquem sempre a salvo, ainda que a coberto da
fábula que se conta sobre Portugal ser um Estado de Direito, por vezes até se
gastem milhões para construir casos, que um qualquer causídico estagiário
desmonta, a prova-lo estão os vários espaventosos e onerosos “mega-processos”,
novelas jurídicas quixotescas que vão enchendo páginas de jornais e de onde
raramente alguém sai condenado, sendo porém certo que o dinheiro desaparece,
Portugal é alias um caso daquilo que podemos chamar “corrupção-fantasma”, dado
que ficam sempre provados os actos de corrupção, fica sempre provado o
desaparecimento de milhões, mas curiosamente nunca esses factos são atribuídos
a alguém, somos portanto um país curioso e digno de uma cuidada investigação,
porque por cá, as actividades ditas de paranormais, não perdem tempo com
vulgaridades demoníacas, como vomitar matérias viscosas de cor esverdeada ou
rodar a cabeça a 380⁰, nada disso, o ectoplasma lusitano é muito mais precavido,
não vá a vida do Além entrar em crise, e deita as garras aos incautos milhões
do erário público e a todas as negociatas e falcatruas que se podem fazer, daí
concluirmos que Portugal não necessita de tribunais nem de Juízes, Portugal
necessita isso sim de caça-Fantasmas.
Da corrupção dos
pequenos nadas, à corrupção das elites politiqueiras, é um nunca mais acabar de
esquemas de bandalhice dos quais pouca gente sai incólume, e onde muito pouca
gente pode apontar o dedo. Quando ouvimos falar “deles” dos políticos como
sendo os grandes sacripantas malévolos, devemos pensar que “eles” somos todos
nós, é toda uma sociedade que se perfila na senda da corrupção endémica,
culturalmente aceite e enraizada, nos caciquismos, nos amiguismos e nas redes
informais de uma mão lava a outra e enquanto assim forma continuaremos a ter um
país corrupto, um país imprestável um país verdadeiramente todo partido aos
bocados e do qual muito pouco se aproveita.
Um abraço deste vosso amigo
Barão da Tróia
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