quarta-feira, abril 13, 2011

Pinóquio! Um conto português.

Pinóquio, divertia-se a soprar o seu bafo quente contra o vidro frio da janela, desenhando depois com o seu pequeno dedo de madeira, figuras engraçadas, um coelho, uma flor, um sol, sentado numa velha cadeira de baloiço desengonçada, que rangia a cada movimento, Geppeto, o pai de Pinóquio, ia acenando negativamente com a cabeça, plena de flocos de neve dos cabelos brancos.
-O que se passa pai – perguntou Pinóquio.
-Ora meu filho, este país é uma corja de aldrabões, vem um mente, vem outro mente ainda vem outro que mente mais que os dois anteriores, haja paciência!
-E não lhes cresce o nariz – perguntou o pequeno boneco articulado de madeira, sentando-se aos pés do pai.
-Não meu filho, a estes infelizmente não lhes cresce o nariz!
Pinóquio ficou a olhar para a televisão, vinha o ministro e mentia, vinha o chefe da oposição e mentia mais ainda, mentiam todos desde o mais insignificante e reles cidadão ao mais endinheirado e importante dos cidadãos. A mentira era tão grande que os outros países já não confiavam naquele paraíso de aldrabões, que mentiam nas declarações de IRS, mentiam sobre os carros, as casas e o dinheiro que tinham, em resumo, aquele era o paraíso dos mentirosos.
A mentira era moeda corrente, Pinóquio, estava de olhos muito abertos a absorver aquilo tudo e a racionar toda aquela farsa, toda aquela grande aldrabice, ele que era tido por um grande mentiroso, comparado com aqueles senhores engravatados, todos doutores, sabe-se lá de quê, talvez doutores da aldrabice, comparado com eles Pinóquio era um pobre pateta, e as suas mentiras, não passavam de brincadeiras de criança travessa.
Pinóquio dormia profundamente, sentiu porém uma presença, talvez fosse a Fada, a sua fada, desde que adormecera que pedira para que ele o viesse visitar, pois já decidira o que queria ser, tomara a decisão acertada.
-Acorda Pinóquio, estou aqui, acorda meu pequenote – disse a Fada, num tom meigo, calmo e seguro.
Pinóquio abriu os olhos lentamente, a aura de luz que saía da Fada, dificultava-lhe a visão, esfregou os seus olhitos, sentou-se na cama e olhando para a Fada disse.
-Fada, vieste, finalmente!
-Sim meu querido, ouvi as tuas preces e cá estou, diz o que me queres!
-Olha Fada, acerca do meu desejo, de me poder tornar naquilo que quiser, já decidi!
-Sim, ponderas-te bem, sabes que depois de concluído o desejo, não podemos voltar atrás – perguntou-lhe a Fada com ternura.
- Sim - disse Pinóquio saltando para o chão e abraçando a Fada – pensei bastante e estou decidido, será o melhor para mim!
- Então meu pequeno diz-me o que queres ser!
- Olha Fada, quero ser português e político, não há aldrabões maiores e nunca lhes cresce o nariz!
O desejo cumpriu-se e há quem diga que Pinóquio, hoje veste fatos de seda, hoje é português, há quem diga que é ministro, que é líder da oposição ou que é presidente da república, há quem diga que é autarca, deputado, médico ou empresário, ninguém sabe bem ao certo, certinho, certinho é que sendo português é um valente aldrabão.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

2 comentários:

São Canhões? Sabem mesmo a manteiga... disse...

valia 5 euros Um conto português

em 2020 valerá em cêntimos dez

E o político quando tange

Sorri suplica suspira

E quando o voto se tira

O seu som morre e plange

No seus gorgeios de mágoa

a palavra de um nobre

vez e meia a do pobre

que nã bebe dessa água

Unknown disse...

hoje em dia bem que podia ter outra nacionalidade, sim porque o mundo está cheio de pinóquios!