segunda-feira, novembro 05, 2007

Et Tu Marcelus

Marcelo esse comediante residente da RTP, onde faz concorrência aos Gatos, tal é a qualidade e quantidade de anedotas que conta em tão pouco tempo, lembrou-se de mais uma, o Cheque Ensino. Oh maravilhosa mente que, tão grandiloquentes obstipações intelectuais produz! Oh esclarecido e iluminado, douto e sapiente criatura, com o qual, os deuses abençoaram este ignaro e miserável país, o que seria do nosso pobre mundo sem este verdadeiro Einstein do verbo fácil, este grilo da consciência nacional.

Não bastas as vezes que me tenho sentido apopléctico com algumas das bojardas, proferidas pelos fazedores de opinião nacionais, esta é mais uma, que raio de ideia mais desenxabida, mais sem sentido, até o faria noutros moldes que mais à frente explicarei. Diz o camarada que; «…O cheque-ensino consiste em dar aos pais um cheque no valor que custa actualmente o ensino numa escola estatal. As escolas estatais deixariam, assim, de ser "gratuitas", passando o seu financiamento a ser assegurado através das propinas pagas pelos alunos, como acontece com as escolas particulares.»

Meu caro amigo, o senhor e os seus acólitos não bastas vezes machadaram o ensino público, muitas vezes a coberto de preceitos legais aprovadas por camarilhas parlamentares e governativos, o que conduziu o ensino público a este estado de miséria em que actualmente se encontra, seria o primeiro a ergue-lo aos ombros caso o ouvisse pedir, não, exigir mais meios, mais investimentos e mais seriedade nas políticas educativas, mais empenho e qualidade nas escolas, mão de ferro na disciplina mais e melhores programas de verdadeiras políticas de integração dos mais desfavorecidos. Aplaudiria vossa excelência de pé caso o ouvisse declarar semelhantes coisas, caso ou sentisse indignado.

Curiosamente não, curiosamente veio mais uma grossa bojarda, claro que prontamente os tais acólitos se apressaram a glorificar a sua pretensiosa pretensão, uma tal de Associação de famílias numerosas veio logo gritar hossanas, ao seu santo salvador, claro que têm de o fazer, a intenção de vossa excelência é por demais fácil de atingir ao pouco e limitado entendimento de um labrego campónio como eu, resume-se a isto, quer vossa excelência que o meu filho vá estudar para a escolinha pública, enquanto o dinheiro dos meus impostos sirva para pagar os colégios de elite para onde vossa excelência e outros milhares de representantes das elites ociosas e pagas em demasia, enviam os seus fedelhos.

Brilhante caro senhor, é com certeza um génio vossa excelência, representa em toda a grandeza a clarividente, classe poderosa que fez do nosso povaréu o miserável, ignorante e empobrecido, rebotalho de sociedade que somos, recorda-me até uma história da minha mãe, oriunda de uma família numerosa, naquele tempo eram quase todas e rapavam fome que doía o canelo, sucedeu um dia que uma menina das finas, de uma respeitável família partiu o aparo, logo a senhora professora cheia de denodo olhou para a minha mãe, instando-a para desse o seu aparo à menina fina, a minha mãe, por feliz coincidência tinha um aparo reluzente, dado pela senhora para quem a minha avó trabalhava, que era uma rica proprietária rural, a minha mãe com o orgulho de uma pequena pobretanas tinha o maior desvelo com aquele insignificante objecto igual a tantos outros objectos insignificantes com que naquele tempo os poderosos compravam a lealdade dos humildes, aos quais o ofertório de uma côdea seca de pão escuro valia uma lealdade canina.

A minha mãe disse que não dava, que o aparo era dela, recebeu uma saraivada de chapadas, da senhora professora, acto contínuo a pequena cheia de fomita, cravou o aparo na carteira de madeira com tanta força que o entortou, ficou sem ele mas a outra também ficou sem escrever, ria-se ainda hoje a minha mãe, a bom rir, nos serões de família enquanto conta a história.

História que ilustra bem o tempo dos senhores e dos pobres do antigamente, hoje ao que parece, estes senhores parecem de novo querer rever as mordomias de antanho. Caro Marcelo, permita-me que assim o trate, assim de forma informal à europeia, reformule o cheque ensino, ao invés de o atribuir às dondocas, atribua cheques ensino para o ciganito do Bairro do Cerco ir frequentar o Colégio D. Duarte, ou para pretito da Cova da Moura ir frequentar o São João de Brito ou os Maristas, assim seria bem aplicado o cheque ensino, providenciando modelos de excelência a gente que carece de modelos de comportamento civilizado e de oportunidades, promovendo assim uma real politik de integração.

Claro que tapar o sol com a peneira, destruir o que resta do ensino público e engordar os colegas é muito mais proveitoso, sabe senhor Marcelo ao cheque ensino faço um grande:

Um abraço, deste vosso amigo

Barão da Tróia

13 comentários:

Jay Dee disse...

Beijo para tu

Rynaldo Papoy disse...

Cheque-ensino é invenção de brasileiro, o camarada Senador Eduardo Suplicy, que gera polêmica há muitos anos no Brasil.
Em Esparta, as crianças estudavam ou morriam, aqui são orientadas a ir à escola para ganhar dinheiro.

Obrigado pelo comentário no c5p.

Abraço!

Meg disse...

Não vi a "missa" toda. Não há paciência que aguente tantas ideias mirabolantes. Será que pensam que somos débeis mentais?
Acho mesmo que sim.
E na televisão publica!!!

Um abraço

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Barão

________os deuses devem estar loucos!!! é de facto uma afronta determinadas charadas
que “esta gente” vai para a televisão vomitar________para o “rebanho”

Um beijo
BS

Anónimo disse...

Nem me atrevo a comentar. Boa exposição, sim sr!
Aliás eu por acaso também gostava de ver os resultados desses colégios se lá entrasse toda a população que frequenta as escolas públicas e funcionassem com a verba das mesmas. Ui ui

É que os cozinheiros fazem exclentes omeletas... quando têm ovinhos

Diogo disse...

Também partilho do seu entusiasmo pelas teorias do prof. Marcelo. E que bem que ele fala!

Anónimo disse...

Boa, Barão! É mesmo assim!
O ensino público com qualidade, com dignidade, com disciplina é mais do que um objecto de estatísticas e um pretexto para demagogias. É uma escola de civilidade e de cidadania.
É mau demais para ser verdade esta espécie de apartheid escolar, em que os filhos dos ricos e da nomenclatura do regime pagam um ensino de qualidade privado e os novos servos da glebaficam com uma versão miserável de ensino público.
O Marcelo sabe isto tão bem como nós e, por isto, são justas as bordoadas que lhe deste.
Que não te doa a mão!
Parabéns!

Odele Souza disse...

Passando pra te deixar um abraço.

Wellvis disse...

Ainda não votei no vulcaão activo mas... jogaria muita gente que não consta da lsita !

Abraços.

Cucagaio disse...

Agora há cheques para tudo, é o ensino, é os dentistas, é as cirugias, etc...
Só queroi saber uma coisa, onde está o cheque para mim?

C Valente disse...

Passei para cumprimentar
saudações amigas

SCruz disse...

Olá Sr. Barão.

Mirabolices sem dúvida. Será que vão inventar o cheque-explicação????
Quantos de nós sabemos que se o petiz/a deseja uns "certos e determinados cursinhos", ou aprendem espanhol ou pagam-se fortunas em extra-ensino?
Quem sabe, homo marcelus pense nisto!!!

sorrisos.
S.

Carla disse...

Toma lá oh marcelo que já almoçaste!

Bom fim de semana.
Beijos