quinta-feira, janeiro 18, 2007

Pequeno Tratado da Cavalgadura Lusitana

A Cavalgadura, “Iumentum Lusitanum” é um animal que bem longe de estar extinto, conhece em terras Lusas um franco progresso demográfico, existem vários tipos, cores e feitios de Cavalgadura, sendo que existem também vários graus de Cavalgadurice, um facto porém é insofismável, a Cavalgadura em Portugal, prospera.
A Cavalgadura, conduz a sua carripana, a toda a velocidade, ultrapassa pela esquerda ou pela direita, nem as procelas ou as névoas a fazem abrandar a marcha, a Cavalgadura não se detém por nada, insulta quem anda mais devagar, buzina, acende as luzes, solta impropérios e acelera, de quando em vez a Cavalgadura, marra de encontro a uma árvore e morre, outras vezes, infelizmente, ceifa a vida de inocentes na sua louca corrida.
A Cavalgadura estaciona em cima dos passeios, à frente de garagens ou portas das casas, estaciona em lugares para deficientes e em todo e qualquer sítio, a Cavalgadura tem uma máxima, pela qual rege toda a sua vida, “Primeiro Eu, depois Eu outra vez.” A esta máxima junta o bom senso de um gnu da savana, o gnu como todos sabem é dos animais mais inteligentes do universo.
A Cavalgadura, abre a janela da carripana para deitar lixo para a estrada, cuspir escarros verdes e soltar ranhocas, quando apeada a Cavalgadura exibe o mesmo comportamento porcino, quando dá o aperto na bexiga, a Cavalgadura micta onde calha, mesmo quando existe um urinol próximo, ombreiras das casas, entradas de prédios, caixas de electricidade, caixas Multibanco, árvores, atrás dos contentores do lixo e dos ecopontos, enfim qualquer sítio serve, para alívio da Cavalgadura.
A Cavalgadura, fala aos berros, entra num comboio, num autocarro ou numa repartição pública e toda a gente sabe que ela entrou tal é o berreiro que faz, e se por infeliz acaso recebe uma chamada no telemóvel, aí sim a Cavalgadura faz ouvir alto e bom som a sua edificante voz de Cavalgadura, incomodando toda a gente. A Cavalgadura não sabe ler, finge que sabe, pois nunca lê as informações que estão nos locais de acesso público, depois com o ar mais inocente do mundo diz – Ah desculpe não sabia!
A Cavalgadura, chega sempre atrasada, ao teatro, ao cinema, à escola, bem a todo o lado, assim tem mais hipótese de chatear quem chega a horas, além disso deixa o telefone ligado para que lhe possam ligar, e o agradável som polifónico, pois claro, de uma qualquer músiqueta irritante e estapafúrdia, invada os tímpanos de quem só quer estar em silêncio. A Cavalgadura fala sempre aos berros a qualquer hora do dia ou da noite, o sossego e paz de espírito alheios nada dizem à Cavalgadura, a música lá em casa é sempre em altos brados e os berbequins podem ser ligados à uma ou duas da manhã, sem problema, quem não quiser ouvir tape as orelhas.
A Cavalgadura, tem-se por ser esperta, para ela as bichas para o que quer que seja servem para exercitar a sua esperteza, tentando papar uns lugares, ser atendido primeiro, alias a Cavalgadura é a única que tem pressa, que trabalha e que tem obrigações a cumprir.
A Cavalgadura adora animais, em especial cães, e é ver o desvelo com que a Cavalgadura trata o rafeiro, passeando alegremente pelos jardins, passeios e ruas de Portugal, conspurcando com grossas poias todos esses locais, enchendo de mijadelas as jantes dos carros dos vizinhos e as entradas das casas, é uma alegria.
A Cavalgadura é de todas as cores, sendo porém de notar que, existem Cavalgaduras que por serem de uma ou de outra suposta etnia ou classe profissional, fazem da arte de ser Cavalgadura uma arte superior, são uma espécie de versão de luxo da Cavalgadurice, selvagens, incivilizados, ladrões, sanguessugas, boçais e estúpidos, mas como são Cavalgaduras minoritárias, são o supra sumo da Cavalgadura, vivem acima da Lei da Nação, regem-se por leis próprias, são uma espécie de pequenos estados dentro do estado.
Em resumo a Cavalgadura vai de vento em popa, sosseguem todas as vozes da brigada do reumático de Belém, que se cale Baco e Zeus do trovão ardente, e vós oh musas dos antigos, preclaras anunciadoras das artes e virtudes, lavrem novas loas às Tágides do Tejo, coitadas com as carradas de merdum que o rio tem devem estar lindas, porque no horizonte desponta a Cavalgadura Lusitana, que dará brados ao mundo, tão latos que nem o fero Boreas a fará fracassar.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

19 comentários:

Ana M. disse...

Há, ainda mais um pequeno pormenor:
Quando se desloca, com o carrinho de supermercado, na passadeira rolante, a Cavalgadura coloca-se sempre à esquerda, ou bem no meio, a fim de evitar "ser ultrapassado".
Durante as compras, desloca-se, bem devagar, tendo o cuidado de impedir a passagem ao maior número de pessoas.
Uma vez na caixa, só retira as compras depois de conferir, exaustivamente, as cinco parcelas, de dobrar, vagarosamente o recibo, abrir a carteira, guardar, fechar e olhar para trás, com ar de gozo. Aí, no regresso, volta à posição inicial na passadeira rolante, mas para baixo.

Carlos Gil disse...

linkei!!!

Shakra disse...

Olá, nós somos os Shakra, uma banda de covers da margem sul do Tejo (Montijo) e convidamos-te a visitar o nosso blog e comentar!!!
Obrigado!

SoNosCredita disse...

ui, é o que mais há por aí...

;)

Anónimo disse...

Deste-lhe forte, e penso que trataste todas as variedades de cavalgadura que abundam por este país. 1 abraço

Casemiro dos Plásticos disse...

ganda post fogo mas tas lá!

Diabólica disse...

Conheço, infelizmente, bem o "especimen" a que te referes.

Mas, confesso que nunca havia lido um retracto tão fidedigno e com um humor ilariante como este que fizes-te!

PARABÉNS! 5 ESTRELA!

Isabel Filipe disse...

".......
outras vezes, infelizmente, ceifa a vida de inocentes na sua louca corrida.
"

Soberbo o teu texto e adorei a expressão que foste buscar "cavalgadura" ...

Bfds
Bjs

Sofia C. disse...

Barão da Tróia,

Que inspiração!! O texto está genial, nada genial, claro, é a realidade que descreve. A dita cavalgadura tem várias estirpes (espécies, raças, não sei). Eu conheço a belga. Também um caso digno de estudo e em franca expansão. Agora mesmo para estacionar o carro foram 20 minutos de espera para que quem estacionou à frente da minha garagem se dignásse sair;-)Sofia:-)

RCataluna disse...

Espectáculo!

Bom fim-de-semana!

Al Berto disse...

Viva Barão:

Essa "Cavalgadura" é bem conhecida de todos nós.
Precisa que lhe coloque "o freio nos dentes".
Os meus votos de que passe um óptimo fim de semana.


Um abraço,

ALG disse...

Estamos rodeados destas criaturas, infelizmente!

Bom fim de semana, amigo Barão

AnaCristina disse...

Vinha desejar bom fim de semana mas fizeste-me lembrar de umas cavalgaduras que vi hoje e com as quais estou furiosa...

:d

Bel disse...

Gosto do nome cavalgadura.
bj e bom fim de semana

Crystalzinho disse...

Tiraste-lhes bem o retrato!!
Cada vez existem em maior número, esta é uma raça que não entra em extinção mas que vai conseguir acabar com os nossos nervos.
Gostei muito.
Bjs

Francis disse...

Caramba! Lá estás a tentar destruir o património cultural português!!! Já pensaste que, caso os portugueses começam a se portigal civilizadamente, os camones terão que viajar até Africa para observar comportamenteos terceiro-mundistas? Até o preço da National Geographic sofrerá incremento!
Deixa estar assim que está bem!!!

Francis disse...

Onde se lê: "Portigal" deverá ler-se "Portar".
Nem me perguntem de onde isto veio!

Anónimo disse...

A minha opinião sobre o tema já foi dada na conversa que tivemos numa manhã destas...juro que não sabia o "assunto"em questão....Mas há cada UMA.Um abraço

Anónimo disse...

Ainda bem que nenhuma Cavalgadura, que tão bem descreveste, apareceu por aqui para ler o seu próprio retrato...

Um abraço deste amigo "burro Ibérico"!