quarta-feira, dezembro 06, 2006

Um Pequeno Gesto

À minha frente caminhava uma menina, não teria mais de 8 ou 9 anos, aquela hora, ia para a escola de certeza, era uma manhã fria, meio lusco fusco, enevoado o firmamento e prestes a verter, caminhava decidida, degustando o famigerado Bolicoiso recheado daquele chocolate de sabor nojento e bebendo um Aisseti de pêssego, alguns passos atrás eu seguia distraído a olhar as cegonhas que incansáveis volejavam nos altos, e o que me fez reparar na miúda? Um gesto, um pequeno gesto! Parou, baixou-se e deixou a lata vazia em cima de um canteiro de relva, daqueles que ornamentam por vezes os passeios, e que estão cheios de bosta dos rafeiros da vizinhança, escarros e beatas de cigarro.
Três coisas assaltaram de imediato a minha triste e delirante cabeça, de pardal telhado avoado, em primeiro aquilo que a miúda ia a comer, certamente o pequeno-almoço. Um refrigerante cheio de açúcar, corantes conservantes e demais balhanas, que pode ser a coisa melhor do mundo mas nada próprio para uma criança daquela idade ingerir logo pela manhã, junte-se a isso o tal Bolicoiso, que mais não é, do que uma mistela infecta, afogada em açúcar, com pretensões a passar por pão recheado com chocolate. Temos pois uma brilhante associação, um cocktail explosivo propiciador de maleitas várias, da obesidade à diabetes, pobre criança.
O pensamento seguinte foi pensar, no tipo de gente que educa assim uma criança, não gostam seguramente dos filhos, pois se gostassem não deixariam que se alimentassem desta forma verdadeiramente suicida, depois não os sabem educar como vereis na terça coisa que me veio à cansada cabeça, gente desta deveria ser punida por Lei, ou fazer um curso para aprender a ser responsável e a cuidar de forma decente desse bem precioso que é um filho, fiquei irritado, apetecia-me gritar, perguntar à miúda quem eram os seus pais, ir lá bater à porta e chamar-lhes todos os nomes.
Por fim comecei a pensar, ali estava aquela criança, fartinha de ser bombardeada com mensagens para cuidar do ambiente, para não sujar o chão e demais projectos da tanga ambientalista, para ser amiga do ambiente e porque torna e porque deixa, mas nada disso surtira efeito, à primeira oportunidade a pequena comporta-se como uma digna bacorinha filha de suínos encartados.
Aquele pequeno gesto traduzia de forma simples a ruína absoluta de todos os projectos educacionais dos últimos 30 anos, sim porque os pais da criança não teriam mais de 40 anos, logo já tinham, eles também, sido bombardeados com muita informação sobre a necessidade da protecção do ambiente, da limpeza e da educação, do civismo e respeito pelos outros, parecia pois que como há 30 anos, esses mesmos projectos falhavam de novo.
Com os primeiros raios de do Sol que entretanto me ofuscaram, pensei, sem família sem educação, com os pais a demitirem-se de educar os filhos, nunca conseguiremos ser uma sociedade em equilíbrio, estamos condenados a ser uma sociedade a 2 velocidades, a da minoria, respeitadora e preocupada, participativa e empenhada e a velocidade da maioria lorpa, da carneirada boçal e cretina. Seguia a remoer estes pensamentos quando ouvi, – Sai da estrada oh palhaço!
- Pedi desculpa e saí do meio da estrada tão distraído que ia, aquele pequeno gesto deixara-me de rastos, que futuro caramba, que futuro, começava bem o meu dia!

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

34 comentários:

Anónimo disse...

Adoro os teus textos, mas gostava de te ver escrever sobre Almeirim

Leonor disse...

ola barao.
os bolicoisos como lhes chamas nao vao com os miudos nas minhas visitas de estudo. é expressamente proibido e até agora nunca tive nenhum pai ou mae a reclamar. devo ser muito convincente.

abraço da leonoreta

Andreia disse...

Pois, nao é que toda a geração seja assim, mas uma boa parte é...

Anónimo disse...

Infelizmente a maioria é assim, sim! E sinto-me antiga quando penso que no meu tempo não era assim: era pão com manteiga, mas era pão mesmo! Enfim, um bom dia para ti. Os teus textos são muito bem escritos! :)

Anónimo disse...

Anda o Barão atormentado com os problemas que todos deviam evitar mas que não é assim. São pessoas que foram educadas assim que lançam garrafas, embalagens de todo o género, frigorificos e maquinas de lavar, nas nossas serras e no meio das nossas florestas. Um abraço para o Barão

Rosario Andrade disse...

Bom dia Barao!
Mais um texto cheio de humor mas infelizmente chio de verdade também. É esta a geraçao que estamos a (deixar) criar...
Bjicos

Miguel disse...

A criança provavemlmente só aproveitou o que pais inconscientes permitem.
Relativamente às questões ambientais, até me parece que são as crianças que mais nos chamam à atenção hoje em dia.

Al Berto disse...

Viva Barão:

O teu post é oportuníssimo e verdadeiramente abençoado.
A generalidade dos pais não passam de garotos irreponsáveis que nada sabem quanto ao cuidado a prestar aos seus filhos.
Quem trata assim um filho é indigno de o ter.
Mas olha que os hamburgers e as batatas fritas com aquela "mistela vermelha" cheia de corantes e conservantes não é melhor.
Entretanto vão desprestigiando a saudável sopinha portuguesa com MODERNICES de MERDA.


Um abraço,

Anónimo disse...

Quando as escolas querem apostar na alimentação saudável, as famílias em casa dão esses alimentos Às crianças... assim não há educação

Anónimo disse...

Caro Barão,
Triste história, na realidade. Chego à conclusão, com o que contas, que vai ser preciso muito mais educação ambiental do que a que tem sido feita até agora. E, já agora, se os pais se demitiram de educar a filharada, que tal a escola para fazer este trabalho? Uma educação cívica global, total!
De qualquer forma, com o actual sistema educativo - todo de pantanas com estes "socialistas" - não vislumbro grandes sucessos...
Um abraço

A Professorinha disse...

"...digna bacorinha filha de suínos encartados." Ora aí está uma digna descrição de certo tipo de gente. Se vêm com certa educação de casa, como lha daremos na escola???

Lord of Erewhon disse...

Bem lembrado e oportuno! Esta gentalha não sabe o que fazer da democracia e da liberdade!
É por isso que qualquer dia temos as Forças Armadas outravez nas ruas... e desta vez, ninguém sabe para onde ir... nem há um caixote de políticos exilados no estrangeiro para virem ajudar a (des)governar o País!

Abraço!

maresia disse...

sabes o que costumo fazer? pego no lixo e vou dar à pessoa dizendo "deixou cair isto". uma vez, no trânsito, fui bater ao vidro de um condutor. devolvi-lhe a garafa de plástico e chamou-me de puta. assumi que seria uma saudação amistosa lá na terra dele. mas que levou a garrafa, ai isso levou. provavelmente para deitar pela janela uns metros à frente, onde não existissem putas, claro!

deep disse...

Porque trabalho com jovens, não há dia que não me indigne com a falta de civismo gritante da maioria. Vejo-me diariamente sujeita a ouvir palavrões gratuitos, a ver papéis e chicletes no chão, ao lado de um número cada vez maior de caixotes do lixo. Disciplinas como a Formação Cívica ou a Área de Projecto, entregue por norma a professores de Ciências, mais motivados, portanto, para as questões ambientais, os jovens de hoje mostram-se incapazes de transpor as teorias que aprendem e que, por vezes, debitam na ponta da língua, para a prática, de as tornar um hábito.
A questão da alimentação é também bastante pertinente. Há tempos, dizia-me uma mãe que pretendia que a filha pudesse sair da escola para poder ir à rua comer - porcarias, está visto -, porque a menina não gostava da comida da escola. Hoje, como acontece muitas vezes, comi na cantina: polvo e batatas e couve, tudo cozido, sopa de legumes e maçã assada. Mau, não é? Os bons exemplos, comos os bons hábitos, começam em casa.

Peço desculpa por tão longo "discurso".

Boa noite. Abraço.

vero disse...

Adorei o texto!!!
Beijos mil***

Anónimo disse...

Para já uma alimentação indesejável na maneira de ver como a juventude consome produtos que só conduzem a uma obesidade, afinal a juventude também tem aqueles gestos de deitar algo fora sem ser naqueles tais recipientes do lixo , mas se calhar em casa diz aos pais que tem que ter recipientes proprios para separar o LIXO, um bom exemplo.
E outra coisa , cuidado com as distracções no meio da estrada.touaqui42

Anónimo disse...

No meio de tanta porcaria,este país já é mais uma diarreia do que uma merda,os governantes destes ultimos anos,deviam de ter tomado umas capsulas de " ultra levure " para não serem iguais ás que estão agora na moda...em Inglaterra.Um abraço amigo Barão e continua.Abril

Anónimo disse...

Pois, mais uma vez a culpa é dos pais das crianças, uns verdadeiros imbecis!
A obesidade infantil está aí em cheio com o fast food e uma data de porcarias. Mas dá menos trabalho às familias! Quanto à criança, deitar a lata no chão, é uma tristeza. Vejo gente que conheço a fazer o mesmo!Não há comentários possíveis. Estou de acordo, há uma minoria(ilhas) que quer e se choca, a maioria quer é não se chatear e andar na carneirada. Muito mais fácil... mas cinzento e deprimente!

Anónimo disse...

Esse tipo de educação está ser extreminada pelo TA2 Arnold Schwaznegger na sua pátria de aoptção Califórnia.
Portugal e o mundo precisam de gente como o TA2

Anónimo disse...

Infelizmente a realidade é mesmo assim!!!
Beijinhos amigo

Prof disse...

Olá Barão! No que diz respeito à alimentação o problema eventualmente começa em casa e continua por aí fora como, por exemplo, nas escolas que estão cheias daquelas máquinas que vomitam toda a sorte de porcarias. Na minha escola é ver os miúdos a fazer fila em frente às ditas cujas. parece que se pretende averiguar a qualidade da alimentação nas escolas portuguesas, mas eu pergunto-me se essas máquinas vão deixar e existir.
A questão ambiental acaba por ir pelo mesmo caminho. Por vezes entro em salas de aulas com o chão repleto de papéis e imagino que os alunos devem ter estado sozinhos na sala porque é impensável que algum professor deixe fazer tal coisa... só se for cego! Enfim, é o estado das coisas.
Bom feriado!

Pitucha disse...

Em cheio! Grande parte dos nossos problemas deve-se a falta de educação e de civismo!
Uma tristeza.
Beijos

Araj disse...

Nitida falta de educação... da família.
Ontem ouvi uma prima dizer para o filho de 10 anos: "Faz pouco barulho que não estás na escola", ou seja, fora de casa tudo é permitido...

Casemiro dos Plásticos disse...

isto já não é o que era!

antónio paiva disse...

.................


pois é o que que conta são os choques tecnocoisos etc etc

não vivemos, passamos por cá, é isso!
.................

Abraço e bom fim-de-semana, Barão

Anónimo disse...

Passei para apreciar e desejar bom fim-de-semana, e depois de ver este agradável blogue cheio de qualidade e interesse, vou daqui satisfeito. Até breve.

Carla disse...

............♥
...........***
..........*****
.........*Bom*
........***Fim***
......*****De*****
.....***Semana***
....****************
...******************
..********************
..........****
..........****
..........****
....(`“•.¸ ¸.•“´)
.....♥ Nadir ♥ .
....(¸.•“´ `“•.¸)

Nunovsky disse...

Tão... triste. A comer porcarias, com pais que não se devem importar com o pequeno almoço dela e a deitar o lixo para onde calha... pobre criança. E a criança não é culpada, obviamente. A criança é vítima. E como esta há milhares e milhares. De facto, as minorias são cada vez menores.

Isabel Magalhães disse...

Este blogue - a mesma qualidade de sempre.

O país - vai de Mao a Piao.

O povo - foi escolhido a dedo.

(ou já nos esquecemos da anedota?) :)))


Um abraço, Caro Barão.

Mac Adame disse...

Se até a escola (local aonde se ia para aprender) se tornou num simples depósito de crianças cujos pais se demitem de educar... está tudo dito, não?

Manel do Montado disse...

Por questões de segurança redireccionei o Montado para o seguinte link:
http://montadoaltaneiro.blogspot.com/

As minhas desculpas pelo incómodo.
Obrigado

Manel do Montado disse...

Ó meu amigo Barão, creio que Justiniano, que mais tarde veio a ser imperador de Roma, dizia, quando gvernador da Aquitania e Lusitania, que "os povos bárbaros destas paragens não se governam nem se deixam governar."
Quanó à menina, os bácoros dos pais deviam era ter-lhe dado o pequeno-almoço em casa e não darem-lhem essas merdelices que,como muito bem escreves só fazem mal...e que mal.
Um abraço

Anónimo disse...

Se calhar o individuo que ia no carro e gritou palhaço, é um daqueles que enquanto conduz também come essa ou outra miscelânea qualquer e no fim atira a embalagem para a estrada pela janela...

Um abraço!

Anónimo disse...

O grande problema, Barão, é que, hoje em dia, os filhos mandam nos seus paizinhos. Claro e, felizmente, não são todos, mas são uma grande parte - a parte infeliz da história! Os meninos fazem o que querem e os paizinhos não assumem o seu papel de educadores, exemplos a seguir (nas boas atitudes e comportamentos); por isso, vemos essas e outras coisas (algumas mais graves) a inundarem todos os locais. A boa educação está em extinção! O que ganha, cada vez mais, é a irresponsabilidade, a imbecilidade e a má-educação. Estes pequenos seres, provavelmente não terão valores nenhuns, mas repara: até vão à igreja, andam nos escuteiros, frequentam outras casas e outras famílias e os pais apertam com eles para, custe o que custar, tirarem notas excelentes nas escolas, mesmo que não lhes fique nada. Portanto, estamos numa sociedade voltada para a imbecilidade, a estupidez humana e a falta de valores - os que chamamos nobres (mas alguns de nós da faixa dos trintas-a-passar-para-os-entas). É isto Portugal! :((
Parabéns pelas ideias!