quarta-feira, dezembro 13, 2006

Particularidades

Todas as localidades têm particularidades, que atestam o seu grau de civilidade e desenvolvimento, determinados traços culturais que marcam as suas gentes e que maculam mais tarde ou mais cedo, todos aqueles que não sendo indígenas, ficam por muito tempo expostos a estes comportamentos, a minha terra não foge à regra, possuidora que é de umas particularidades, particularmente particulares que transformam a vida nesta terra num nunca mais acabar de risota, o meu amigo Mário chama a isto a “mentalidade do agricultor”, o bom observador entrará em delírio com a singeleza das características locais.
Uma das características da maltinha cá do burgo é a inveja. A rapaziada desunha-se para que a dele seja maior do que a do vizinho, preocupa-se até ao tutano, como é que fulano ou sicrano conseguiu o tal carro ou a tal casa, as jantes especiais ou o telemóvel com o hino da selecção, as piquenas copiam umas das outras ou das revistecas cor de rosa os modelitos, arreadas nas lojecas da moda suburbana da Lusa cidade capital, um fim de semana de eleição é ir entupir um qualquer centro comercial de Lisboa, visitar todas as lojas de trapos, trazer uma blusa igual à da Micas, umas calças tão giras como as da Manuela ou uma echarpe igual à da Pipinha e comer hambúrgueres, é só rir.
Outra característica extraordinária é a seguinte, imaginem que contratam alguém para vos fazer uma qualquer tarefa, arranjar o telhado, o carro enfim qualquer coisa. O trabalho é pago e fica mal feito, vocês reclamam e surpreendentemente o que acontece é o tipo que contrataram, ficar de mal convosco, deixa de vos falar, simplesmente porque vocês, reclamaram, digam lá que não é divertido.
Outra que é típica cá da terra é a seguinte, imaginem que um qualquer mentecapto estaciona o carro em cima do passeio e em contra mão, a rua fica congestionada, vem o carro do lixo, sejam 2 ou 3 ou 4 da manhã e larga de buzinar, a malta acorda, irrita-se e diz ao prevaricador, que da próxima chama a polícia, o tal mentecapto ainda responde torto, toda família do dito energúmeno numa atitude de companheirismo familiar deixa de cumprimentar e de falar à pessoa que reclamou. Esta é uma situação corrente, criticar alguém abertamente aqui na terra dá direito a que quem comete cretinices deixe de falar com quem aponta a falta, se eu disser a alguém, cujo rafeiro pulgento, pespega de trampa o passeio, porque é que não apanha a trampa a resposta é imediata, - Oiça lá que é que você tem que ver com isso! – Exclama irritada a torpe criatura. Brilhante não é. Ou seja ao invés de reconhecerem o erro, pedirem desculpa e serem cordiais, as pessoas são mal-educadas e boçais, comportando-se como autênticos babuínos, numa orgia de estupidez colectiva. Um pagode é o que é.
Outra característica são as amorosas velhinhas, cuidado, é só o que vos aconselho, pois enquanto desfiam o rol das trezentas e setenta e oito maleitas que as afligem, mostrando um ar absolutamente infeliz, aproveitam a vossa distracção e sincera preocupação, com a ligeireza de um Flash Gordon ou de um Relâmpago, surripiam o vosso lugar na bicha do supermercado da farmácia ou de outro qualquer sitio sem que vocês dêem conta, quando finalmente percebem que foram levados no bico pela frágil, aparentemente, anciã, já é tarde. É de morrer a rir.
Outra característica que enerva é o estacionar em lugares para deficientes, cá na terra existe um Modelo, bem um Modelinho viso ser pequenino, onde existe um parque de estacionamento com alguns lugares, para deficientes, que curiosamente estão muitas vezes ocupados, por gente que a única deficiência que possui é intelectual, porque o seu modo pouco cívico e falta de respeito é preocupante, pois indicia um grave problema cerebral. Existe também a sui generis mania de colocar grades de madeira ou outro tipo de traquitanas a guardar lugares de estacionamento, de preferência frente à porta, local que no conceito de posse aqui da malta é dos próprios, como se a via não fosse de todos, que hilariante, não é.
Por último, uma característica que me irrita, aqui na terra não fazem absolutamente nenhuma ideia do que é guardar distâncias, do que é o respeito pela privacidade e pelo espaço dos outros, é vulgar estar numa bicha no supermercado e a criatura que está atrás, estar colada a vós, tão próxima que se lhe sente o hálito a alho, ou no Multibanco, enquanto digitam o código lá está algum emplastro coladinho, tão coladinho que visto de longe até podem pensar que vocês são gémeos siameses. Ou então num balcão de um café, que tem montanhas de espaço livre, vem pespegar-se ao vosso lado, passando à vossa frente sem sequer pedir licença, caramba é irritante.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

30 comentários:

Sofia Melo disse...

Particularidades que, no geral, flagelam todos os cantos desta horta mal-amanhada, não é?
Excelente, Barão, como sempre, muito bem apanhado.
Cumprimentos

Anónimo disse...

...essa terra que tão bem descreves, tem um nome ...que é Portugal... todos esses pormenores de suposto provincianismo, acontecem ao longo de Portugal inteiro...de lés a lés...
Portugal é mesmo pequenino...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt
(vê no que acontece nas queixas dirigidas ao provedor do telespectador... só falta as pessoas criticadas insultarem quem as critíca ...porque dizer que as criticas não têm razão de existirem...já dizem)

Anónimo disse...

Plenamente rendido à descrição.

Confesso que me irrita, quandome "pegam" pelas costas...

Anónimo disse...

...e viva o nosso Portugalzito provinciano!

Um abraço!

Anónimo disse...

é o nosso Portugalzinho com todo o seu encanto :)

Um abraço!

Anónimo disse...

Maus habitos tugas para não falar na submissão crónica aos possuidores de cargos ou que se armam em executivos são levados ao colo ou até mesmo as estrangeirada que vem sustentar a república.
Um convite para visitres oeu recanto novo no blogspot sobre os meus desabafos é o ultimo link da lista dos links

Anónimo disse...

Caro Barão

Mais um texto realista e incisivo
que revela a mesquinhez de algumas mentalidades tacanhas.

Um abraço e até breve

Anónimo disse...

Essas particularidades não são assim só da tua terra, elas existem em todo o lado cá em Portugal, é uma tristeza mas é verdade. De todas a que mais me irrita é a mania de alguns se armarem em chicos espertos e a de não guardarem a distãncia a que qualquer um tem direito, até ao espirrarem já me cuspiram o pescoço todo!

Carlos Gil disse...

parabéns Barão. mais um para recordar os distraídos

Blossom disse...

Cara lavada, amigo Barão?

Uma boa semana :)

Andreia disse...

concordo contigo, há coisas mesmo irritantes. Isso são coisas de pessoas que não são bem formadas, pessoas mal educadas! Não suporto isso!

Andreia disse...

p.s. O comment de cima é meu, não sei porque não consigo comentar com o meu login de andreia do flautim em blogs beta...

www.andreiadoflautim.blogspot.com

Anónimo disse...

Muito bom...
Mas há ainda a mania de falar alto. Desde a pastelaria que ao fim de semana às três da tarde mais parece a claque do Benfica em dia de derby... ao senhor do banco que frequento, que insiste em relatar bem alto todas as operações que eu lhe pedi para fazer (inclusive o número da conta). Aquilo mais parece uma visita guiada pelo sistema informático.

Gostei da roupa nova.
Bom fim de semana.

sandes-de-coirato

PS - Devido à dificuldade em comentar com o meu login... teve que ser assim.

Anónimo disse...

Situações levádas da breca .
Mas hoje a juventude é leváda da breca para imitações baratas.
Quem se trama mesmo é quem pretende que o serviço que já pagou fique nas devidas condições e ainda por cima ficamos mal servidos e sem um amigo , amigo de PENICHE .
BOM NATAL
touaqui42

Casemiro dos Plásticos disse...

é a vida!

Anónimo disse...

Eheheheh!
Quão mordaz, amigo Barão!

Miguel, o anónimo do Vou Ali

SA disse...

Na minha terra esses hábitos também existem: no fundo é o modo de ser português, muitas vezes no que ele tem de pior

Bia disse...

Particulariedades há em todo o lado, e algumas são comuns e irritantemente comuns também, tipo os siameses no multibanco e aqueles melgas nos cafés cheios de espaço e coladinhos a nós...
bem mas no fundo, depois de passar a neura além de ter feito um post girissimo ainda dá para dar umas valentes gargalhadas, é que ou a malta tem sentido de humor ou descabela-se toda..
beijinho e bom fim de semana

A Professorinha disse...

É a porcaria de gente que temos na porcaria de país em que vivemos... Esta gente que quer ter a casa maior e, em vez de construir uma casa grande, destrói a casa do vizinho para que a dele seja a única... assim não tem que trabalhar mais.

Enfim...

Anónimo disse...

Alturas quando me isso me acontece me passo de vez, tanta falta de educação chega a ser nojenta.
te convido a espreitar um cantinho meu, novo no blogspot.

http://insanetron.blogspot.com

mas passa no sapo, lá ha matéria fresca e quente

Kalinka disse...

Pois é Barão, muito bem apontados alguns dos estupidos pormenores que fazem parte do dia a dia dos portugueses e, acima de tudo o que mais me irrita é ainda ler comentários do género:
e viva o nosso Portugalzito provinciano!
Parece que há quem fique feliz com tanta mediocridade, sempre com a desculpa que é típico português...

Enfim...o que escreves sobre o estacionamento com alguns lugares, para deficientes, que curiosamente estão muitas vezes ocupados, por gente que a única deficiência que possui é intelectual, porque o seu modo pouco cívico e falta de respeito é preocupante, pois indicia um grave problema cerebral - 5 estrelas.

Outro assunto: guardar distâncias
...só posso dizer:
Parabéns.

Bom fim de semana.

Archeogamer disse...

Emplastros há muitos, dinheiro nem por isso, abaixo ao consumo!

Cumps!

Nunovsky disse...

Eu acho que esses hábitos estão espalhados por todo lado. Só que tudo se tornou tão banalizado que muitas vezes tudo é visto como sendo normal... que flagelo :S

Cara nova, sim senhor ;)

Anónimo disse...

Ólá Barão. Fiquei a pensar se os mentecaptos por si descritos não serão os mesmos que nos querem obrigar a saír da faixa esquerda da auto-estrada para eles não terem de desacelerar quando vamos a ultrapassar, e já em excesso de velocidade e que depois nos chamam corno fechando os dois dedos do meio da mão. Ou aqueles que comem do prato com o bico da navalha quando tem 50 garfos à disposição.

deep disse...

De repente, pensei que estavas a referir-te à terrinha onde vivo.

Bom domingo.

deep

susana disse...

Se isso fosse só na tua terra..tsst!Por ex. na póvoa tem gente PARECIDA!O passatempo favorito é falar da vida alheia!Inveja é o que mais se vê! Tens de tratar todos como doutores, principalmente os que não são!E isto é só uma pequena parte da paródia!
beijos tenho lá mais "uma bomba" no meu espaço!

Luna disse...

Enfim... que dizer, cada vez mais os valos estão a ser perdidos, não é facil viver, não é mesmo
beijos de bom natal

Miguel F disse...

Mais uma Barão.. siga a rusga!

Diabólica disse...

Nosso Barão,

Um excelente apanhado do comportamento tuga, sem dúvida.

Mas, se te servir de conforto, por aqui também se desenvolvem quadros semelhantes.

É absolutamente incompreensível o espírito tuga.
Vou cair num lugar comum ao dizer que se perderam os valores, a educação e o elementar respeito pelo próximo.

Quanto às chamadas "distâncias de segurança", essas já não existem, de facto.

A cena do multibanco então é muito, mas muito comum, mas o engraçado é que se experimentares a ter o mesmo comportamento com essas mesmas pessoas levas de imediato roda de ladrão, já para não falar de outros artefactos líguisticos, apanágio preferido do tuga.

Vá-se lá perceber isto.

Beijos.

Pitucha disse...

Eu não diria melhor! E quanto às pessoas que desfiam rosários de maleitas só posso pensar que têm uma saúde de ferro para aguentarem tanta doença!
Beijos