segunda-feira, outubro 02, 2006

Pobre o Meu País!

Primeiro, amordaçaram-nos, fizeram de nós pobres indigentes, miseráveis iletrados e incompetentes, haviam polícias internacionais, bufas e bufos e outros que tais, pois porque Salazar não o foi sozinho. A modorra do estado novo que antes de o ser, era já velho de mil anos e desgraças, de atropelos e desvarios, não fenecia porém o sonho no peito dos afoitos, antes brilhava a aurora da liberdade, que muitos nem sabiam o que era, e passaram anos e chuvadas e Tarrafais e Aljubes e nos quintais e trigais cantavam cigarras e pardais, cantavam a liberdade, que não soía aparecer, por assim dizer.
E veio a fera belicosa lança de Marte cravar a sua ponta nos lusos costados, chamados a defender o Império que mais não era que uma já anedótica quimera, e dos que foram não vieram todos, mesmo estando muitos por cá a alma o espírito por lá ficou, sujo e a tremer daquele medo que só quem sentiu o cheiro da pólvora sabe, da boca a saber a metal, dos tímpanos que ribombam a cada disparo dos gritos dos camaradas que rizam de vermelho, as verdes velas do mato. O império caiu numa madrugada de desespero, o Estado que velho de podre caiu. E era pobre o meu país!
Segundo, nessa manhã era a primeira do mundo novo, abraços, cânticos e vivas à liberdade, o país voltava a acreditar, voltava a respirar o ar puro das noites de liberdade que por não saberem o que era os intoxicava e inebriava, pois o tomavam em golfadas imensas como aquele mar que dantes os via parir e navegar para o Império que era já só sonho, cravos sorriam onde antes a chama da metralha assestava o tiro certeiro ao alvo negro, à sombra que se movia ao longe. Irmanados numa camaradagem que rescindia à primeira idade do homem, eram como crianças à solta num país inteiro, sem eira nem beira, veio a liberdade, a imprenssa, o teatro, a reacção e a oposição, a revolução a música de intervenção e a contra a revolução, os povos e o mê fê à, mas veio o PREC, e a direita má, e os contra tempos golpistas, o dinheiro a luta e a crise mais a esquerda oportunista, depois disseram que éramos livres como a gaivota.
– Mas mãe para onde vão as gaivotas livres?
– Não sei filho, não sei!
- E tínhamos perdido a inocência.
Eles não sabiam nem sonhavam que a liberdade era um machado de um e outro gume os dois afiados, apontados à jugular do mundo, deste nosso mundo pequenino, que era livre e começava já a deixar de o ser, sem saber, que a liberdade é uma areia de grão fino que se tem de lutar e porfiar para agarrar e que por vezes para manter é preciso deixar de respirar e morrer, e largava-se bombas e comícios e FP’s e MDLP’s e todos a querer a sua parte daquilo, pelo qual só alguns haviam lutado. E era pobre o meu país.
Terceiro, era a loucura porque alguém descobrira que estávamos na Europa e de repente tudo seria diferente, toca o alegre hino da pompa e da circunstância em que se assinavam papéis importantes, éramos da Europa, tudo seria diferente agora que para trás estava o pesadelo e a liberdade era só nossa, já não tínhamos Império, tínhamos agora roubos e crimes e carros e poluição e alcatrão, pejado de arvores aqui e além.
Planos de formação, rios de ouro rolavam pelas cascatas da governação, esquecidos que estávamos dos outros tempos ou não, era a salvação os rios de mel e leite da nossa Canaã, nunca mais sofreríamos dos males de antanho, atrofiados pelo tamanho, a loucura da inacção a corrupção o facilitismo e analfabetismo eram as miragens de tempos bárbaros passados, afinal éramos Europeus.
Crescia a loucura da integração, o peso da imigração que ora migrava, ora imigrava ora emigrava, o interior fundia-se na costa, o subúrbio o bairro da lata, o crime a barafunda a poluição, mas estávamos na Europa. E era e continuava pobre o meu país.
Quarto, e veio o multiculturalismo e linguismo e a globalização e a Europa estava aqui tão perto do outro lado da fronteira, e disseram-nos que era bom, tantas cores, e aumentou o crime com novas formas nunca vistas, trazidas de fora, era o progresso, e cada vez mais éramos como canários encerrados em pequenas gaiolas, liberdade, para não sair à noite para rezar que o carro não fosse assaltado ou a casa, e disseram-nos que nos integrasse-mos, que todos iguais todos diferentes, mas era já a torpeza da libertação que nos prendia a conceitos novos e nós velhos de analfabetismo, já nem lutávamos e perecíamos sobre a opressão das minorias, da minoria dos que não trabalham, dos que roubam, dos que não pagam, dos que tudo exigem e nada dão em troca, e veio a imagem e o sms, e tantos bens como os cartões Express, e veio toda a malta e contínua pobre o meu país. E contínua cada vez mais sujo e anárquico e analfabeto, velejando num mar de cinzas, alguém esquece a natureza e cultiva o cimento e o casario em desvario por toda a costa e arriba, perdeu-se o respeito pelo próximo se é que chegou a existir, perdeu-se o civismo a idoneidade, a alegria e caridade, mas somos Europeus. E contínua pobre o meu país, tristemente pobre.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

40 comentários:

Francis disse...

... e somos nós, povinho ignorante, que lhes damos o poder! A Direita vive no pavor de ver um dia, o país cair nas mãos da Esquerda. No entanto, desde que começaram as eleições livres em Portugal, sempre foi a Direita que ganhou. Parece que estamos melhor assim.

A Sonhadora disse...

Olá...bom dia
também passei para isso.....
beijão

Andreia disse...

Eu acho que podemos ver as coisas do lado positivo: Se estivessemos num governo comunista era bem pior!

Anónimo disse...

ola, obrigada pelo comentario dixado no meu blog. o teu esta muito giro. vou voltar

musqueteira disse...

...o único meio de superar o distanciamento dos índices económicos deste País aos restantes, é através do Mar!e ainda não entendi...porque continuamos pausadamente de costas viradas para ele.Há coisas que não fazem sentido. E, este facto, ou realidade,é deveras gritante.poderiamos ter cá, dos melhores Portos da Europa, modernizados e actualizados às actuais exigências...mas continuamos preocupados a mal dizer do vizinho.É assim.Aguardamos o Dom de aguardar.
hoje pensei nisto;)

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Que riqueza de texto para descrever como pobre continua o nosso país. Continuamos embalados nas melodias que nos querem impingir e nada faz este povo que continua pobre porque a tal meia dúzia de antigamente já se assenhoreou de novo de tudo que é produtivo.

Um abraço

deep disse...

Por vezes, tenho a sensação de que evoluímos apenas no que é exterior. Na essência, continua tudo igual... senão pior.

Boa semana. Gostei do teu texto.

Anónimo disse...

Posso dizer que gostei do teu blog, sou um dos que sofreu na pele de ex.combatentes (os mal comprendidos) a razão de ser dos tais libertadores que se diziam combatentes da liberdade, mas que hoje ocupam lugares chaves com bons vencimentos enquantos os ex-combatentes lutam pelo seu dia a dia neste país que se esquece dos seus idosos e que penso tenham a maneira de pensar do antigamente que só olham para eles e não para o zé povinho.
Não poderei dizer que estou satisfeito á maneira em que este país vai no caminho do poço sem fundo sem se pedir responsabilidades aos responsáveis de tais desgraças, obrigam-nos a pagar tudo e mais algo que as suas cabecinhas pensadoras pensam, esquecendo que um dia serão idosos mas com uma compensação da vida que foi ter altos cargos com bons vencimentos que lhe aparou a velhice a si e aos seus.touaqui

Anónimo disse...

Estamos assim porque houve pulhas que roubaram o país, enriqueceram à conta dos fundos sociais europeus e outros do género, foi o triunfo dos porcos e da mediocridade, na nova reforma da justiça do bloco central até se esqueceram da corrupção, esqueceram digo eu, foi preciso andar um deputado do PS a falar para os jornais para considerarem as propostas por ele apresentadas sobre o tema.

É este o país que temos, onde a mediocridade e a desonestidade são carreira politica, temos todos juntos, sem medo do sistema mudar isto.

Está aqui um comentário que diz “Se estivessemos num governo comunista era bem pior!” eu só queria dizer que os comunistas já não comem criancinhas ao pequeno almoço.

vero disse...

Não querido, nao tou de férias... a praia de S,Pedro é perto de Leiria e sempre k posso "todos os dias"...lol, vou ver o mar...lol
Beijinhos*****

Anónimo disse...

Uma passagem por "Tróia II" para fazer uma leituras e desejar uma óptima semana.
Abraço.

O Micróbio II disse...

Esqueceste-te de mencionar que o pessimismo tipicamente luso tb não dá para mais, senão chorar as amarguras do passado, as actuais e as do futuro... :-)

Anónimo disse...

é assim dizem que ficámos civilizados... parvoíces!... que se dizem... e antes é que havia analfabetos...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt

eu mesma! disse...

pois é! contuamos pobrezinhos, mas as moscas vão mudando...

Anónimo disse...

E nós pobrezinhos...um povo feito de maiorias conformistas, parece que só sabemos sonhar!...(Que nos roubem também os sonhos, talvez o "rebanho", questione o "pastor" nesse dia!)

Subscrevo...assino e tudo o mais, este teu post.

Um boa semana para ti e...Obrigada!

Um beijo daqui.

Klatuu o embuçado disse...

Lembra-te de D. Duarte de Almeida, o Decepado! Lembra-te!
Esses que agora envergonham Portugal... ainda uma dia serão chamados aos pés da Pátria... a prestar contas!
Acredita!... o resto é apenas um dia mau, este dia mau, e Portugal há-de cumprir os seus mil anos de existência como uma das Nações mais importantes do mundo... nós não veremos esse dia, mas eu acredito nesse dia... e quero deixá-lo aos Portugueses... que um dia virão...

Abraço.
Viva El Rey!
Viva Portugal!!http://gothland666.blogspot.com/2005/11/um-homem-ao-vento.html

ALG disse...

Tristemente pobre, Caro Barão essa é que é a (triste) realidade)!
Um abraço!

Mixikó disse...

Olá, voltei...
já vi que tenho muito para ler...
Voltarei entonces com mais calma, pois gosto sempre de "te ler".

Prof disse...

Olá Barão! Mais um texto terrivelmente bem escrito na sua forma e essência. Entristece-me que um país com uma tão longa história, que teve meio mundo aos seus pés, esteja na cauda da Europa. Pode ser que um qualquer Dom Sebastião dissipe o nevoeiro que parece ensombrar Portugal!
Fica bem!

Bel disse...

Pobre mas nosso.
Boa semana

Anónimo disse...

Da direita ou da esquerda, venha o diabo e escolha !
Tachos é que há muitos, isso sim!

Bj**

Anónimo disse...

Deveria haver outra revolução, mas sem cravos. Podia ser que esse Socrates e Lda, parasse de roubar tanto ao povo,que já anda de tanga.

Barão, eu adoro as suas crónicas.

Bj**

de Matos disse...

Pois é amigo, mais uma vez cheio de razao, e enquanto este país ignorar as pequenas empresas, que sao as unicas que pagam impostos, enquanto ignorar a pesca e a agricultura e continuar com ideias absurdas em construir TGV's e aeroportos novos... nao vamos la, disso tenho a certeza...

Anónimo disse...

Não se pode ler este post sem ler alguns dos comentários. É verdade, foram rios de dinheiro do fundo social europeu e continuamos a ser um país de marinheiros sem barcos porque parte desses fundos subsidiaram o abate da nossa frota. Resta-nos a consolação de que somos europeus ainda que, já que tudo tem uma cara e um cu, nós sejamos o cu da Europa eheheh.
Um abraço.

Anónimo disse...

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_________Beijinhos!!!_______

isabel mendes ferreira disse...

tão triste...este país...que afinal amamos....!


Francisco....obrigada.


(pelas leituras constantes...:))))
beijo.

Anónimo disse...

Gostei muito deste retrato do nosso país. A descrição do PREC fez-me reviver esses tempos de alegria e esperança. Só que... Durou pouco: o realismo impôs-se e perdeu-se a utopia. Dos nossos tempos, triste é o retrato. No entanto, pelo meu lado, recuso-me a baixar os braços perante este capitalismo impante, arrogante. A luta continua!
Um abraço

125_azul disse...

Adoro ler-te, que texto maravilhoso!
Repito-me quando venho aqui, mas a culpa é tua. Pois, para onde vão as gaivotas livres? Triste é perder a inocência...

Cucagaio disse...

Portugal gosta de admirar o resto da Europa e até o resto do mundo pelos progressos que tem. E para justificar alguma mudança no nosso sistema, utilizamos sempre a Europa como modelo, infelizmente na tradução perdesse sempre alguma coisa, e normalmente é a honestidade. Porque será que lá fora resulta, mas aqui em Portugal nunca produz os mesmos efeitos, o que temos de tão diferente?

Anónimo disse...

Olá kero a gradecer o comentario e a visita ao meu blog, tb gostei muito do teu por ixo prometo voltar espero k voltes ao meu tb...

Pitucha disse...

O que é triste, Barão, é ver que temos quase tudo para estar bem. Falta o quase! POr inépcia? Por incompetência? Por corrupção? Ou apenas porque sim como dizem os fatalistas?
Beijos

BlueShell disse...

Hoje estou cansada! Muito!
Beijos azuis
BShell

Elise disse...

Não deixo de culpar o Estado providência por todas as tensões sociais que resultam da imigração, já que alimenta a dependência dos subsídios (para quê trabalhar?) e da habitação social (quantos bairros sociais se tornam rapidamente em ghettos?).

lobices disse...

...grato pela visita que retribuo com gosto...
...um abraço

Anónimo disse...

´´´´´´ ¸.•“´..--^--..`“•.¸
´´´´´´ ______Beijos_____
´´´´´´ `“•.¸._____..¸.•“´

Anónimo disse...

Viva Amigo Barão!! Vim deixar um Abraço, sei ke estou em falta com as visitas, mas tenho tido pouco tempo até para publicar!! voltarei para pôr a leitura em dia!! Abraço...Carlos.

Leonor disse...

mas sabes... eu conheço muita gente que tem consciencia dessa pobreza material e espiritual, que ate nem sao pobres mas ha qualquer coisa que lhes trava os movimentos quando se mexem, obrigando-os a serem pobres que nao sao. percebes o que eu disse?

abraço da leonoreta

Å®t Øf £övë disse...

Barão,
Antes estavamos amordaçados. Agora convencem-nos que não estamos, deixam-nos falar, mas a verdade é que ninguém nos dá ouvidos... falamos sozinhos.
Ou seja, mudam os metodos, mas de resto matém-se tudo na mesma.
Abraço.

Mixikó disse...

Excelente...escreves maravilhosamente bem...acho que já te tinha dito..

Conceição Paulino disse...

as palavras escorrem como lágrimas pelo rosto, ou gotas de chuva pelas vidraças.
É próprio das tristezas.
Bjs.
Luz e paz