terça-feira, agosto 01, 2006

Quem quer casar com Carochinha?

Miríades de borboletas pintalgadas de borbotões de corres, voejavam aos magotes pelo Prado Verde. O ar do mar, este prado ficava à beira mar, num rincão esquecido do fim do mundo, o ar do mar refrescava os sobreiros e as giestas, os eucaliptos e a murta, os pinheiros e o azevinho, bem pelo menos o que restara dos últimos anos de incêndios que assolaram o Prado Verde. Isto porque se gastavam rios de dinheiro para nada pois as florestas acabavam sempre por arder aos milhares de hectares.
A menina C, vamos assim chama-la para salvaguardar a sua identidade, estava debruçada na janelinha do seu T2, suspirando e cantarolando uma alegre musiqueta.
– Quem quer casar com C que é rica e bonitinha?
Mas ninguém parecia querer assumir esse compromisso, passara o valente senhor do Apito Prateado, todos os senhores da Casa Fria, da ponte dos rios, enfim parecia que ninguém queria assumi-la por consorte, nem o tio do taxista lá da Sóissa, C desesperava, era triste, que terra esta onde uma menina prendada como ela continuava solteira.
- Ai quando virá o meu príncipe encantado… ai …ai! – Suspirava C, no seu belo T2 a pagar a 30 anos cuja taxa de juros subira já 4 vezes e ainda íamos a meio do ano, mas isso era irrelevante, no Prado Verde, tudo podia acontecer, por exemplo o nome Prado Verde, não fazia nenhum sentido, pois décadas de governantes imbecis e incêndios tinham colorido o Prado Verde, de cinzento das cinzas e preto do alcatrão das auto-estradas e Itinerários principais e complementares, e do castanho e cinza rato do betão que cada vez mais cobria aquela terra, até parecia que os seus governantes estavam apostados em entrar para o Guiness, fazendo do Prado Verde o único sitio do mundo inteiramente coberto de alcatrão e cimento.
- Talvez o Nobre me tome por esposa, ai que bom seria. – C falava do Príncipe Nobre da Herdade dos Sobreiros da Raiz ao Sol, sim esse era um bom partido, C estava à espera, o Príncipe teria de passar na sua rua. - Quem quer casar com C que é rica e bonitinha? – Trauteava C, sem cessar, na esperança de que o Príncipe Nobre a ouvisse e com ela fosse casar.
Mas não! O malvado Príncipe passara, na rua da mernina C e até ouvira a canção de C mas, virara as a costas desagradado e até dissera que ia processar o Estado por o entregar, aquela criatura com voz de cana rachada, realmente C não cantava lá muito bem.
Desesperada, C, arrepelava os cabelos e num acto de loucura, voara da janela do T2, aterrando no alcatrão frio, exalara o seu último suspiro numa ambulância tinonim a caminho do Hospital de Santa Maria Arrependida.
No outro dia todos comentavam, a sua morte. – Sabes quem morreu? – Não, quem? – Foi a Culpa e morreu solteira tadinha. – De facto a Culpa morrera solteira, alias como tantas outras culpas antes dela, no Prado Verde vá-se lá saber por quê as Culpas morriam sempre solteiras e os Culpados nunca apareciam.

Um abraço, deste vosso amigo
Barão da Tróia

26 comentários:

Cucagaio disse...

A agência funerária que trata do enterro da Culpa, nunca irá ter falta de trabalho.

Anónimo disse...

Mas isso é mesmo assim, seu BARÃO... Nesta aldeia de global imcompetência vs mafiosa, tudo isso está interligado. Por isso, a festa continua, até quando??? Je ne sais pas... Boa sorte.

Nunovsky disse...

Grande abraço tambem para ti, Barão. É a 1ª vez wu visito o teu espaço. Muito bem escrito ;)

Voltarei

Casemiro dos Plásticos disse...

umas boas ferias barão!

Andreia disse...

É a verdade, nunca ninguem ker a culpa!

desculpeqqc disse...

A culpa não tem culpa!
A culpa é da estimada mãe que a pariu!

Anónimo disse...

Já ouvi essa história na queda de uma qualquer ponte ali para o Norte e realmente tens razão as culpas morreram solteiras ou quase.touaqui

Anónimo disse...

É verdade, caro Barão. Este Prado Verde bem se podia chamar o reino dos "Metenojo" pois são eles (os metenojo) que todos os dias dão mais uma machadada no verde das plantas, no azul do céu e no "cordemerda" dos nossos rios. Todos os dias arrasam mais meia dúzia de árvores que levaram décadas a crescer e todos os dias é mais um posto em liberdade (isto se estiver preso, o que é coisa rara). Todos os dias há mais um processo arquivado, como se os tribunais não tivessem mais do que fazer que perder tempo e dinheiro com esta gente. E ainda há gente que acredita na justiça. Pudera! gente ligada a processos de pedofilia ou a atentados contra tudo e contra todos que se vê em liberdade, têm mesmo que acreditar e agradecer os bons serviços que a justiça presta à Nação.
Há que malhar neles.
Já me esquecia: cuidado com estas histórias de encantar, não vão as criancinhas acreditar que o mundo tem mesmo de ser assim ehe ehe ehe.

sem-comentarios disse...

Existe, sem dúvida, um remédio para cada culpa: reconhecê-la. O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros.

:)*

SA disse...

esta engraçada esta nova versão da Carochinha :)

Leonor disse...

so agora reparei que te chamas francisco. chamar-te barao nao era mau...

assustei-me com o telemovel pela goela abaixo, de quem o inventou, suponho... tambem nao gosto. antigamente nao os havia e a felicidade era possivel.

abraço da leonoreta

Carla disse...

parabéns! mais um texto excelente! grande imaginação sempre cheia de verdade!
boa semana***

Anónimo disse...

Quando comecei a ler desconfiei logo que a vitima era essa feiosa, repelente e abandonada por todos os patifes e indignos deste mundo: A CULPA. Um abraço para o Barão

Totoia disse...

Culpa, palavra sem significado para tão boa gente...

Elisheba disse...

Culpa??? A culpa é sempre do outro!!


Beijocas

José Leite disse...

A Culpa morreu fodida pela vida toda ela feita num oito...
E de quem é a Kulpa?

Vai perguntar ao Camões....

Anónimo disse...

Verdade, verdadissíma Caro Amigo Barão!! A Culpa morre solteira porke faltam pessoas na Terra com os testículos no sítio!! As palavra Hombridade, Honestidade e Seriedade, existem cada vez menos!! Este teu excelente Post vem muito a propósito (de certo modo) do ke escrevi no meu último, só ke esses Bandidos a única culpa ke lhes atribuo é terem nascido!! Grande Abraço...Carlos.

_+*Ælitis*+_ disse...

Ambulancia tinonim??? achei DEMAIS :=) hhahahahahah

Anónimo disse...

Adorei a história, cheia de alusões riquíssimas à realidade. Claro que acabo por acreditar que esta realidade em que vivemos não passa afinal de um mau conto, urdido por aqueles que bem conhecemos... Um abraço

musqueteira disse...

safa...podiamos lhe chamar:
- feliz desencontro no asfalto;)

susana disse...

Ninguém é inocente!Todos somos culpados de alguma coisa.....
beijos

Carla disse...

A Culpa????
É sempre do outro... e que venha o próximo...
Beijos

Bel disse...

Eu Não Eu não. Nem que fosse o João Ratão.
boa semana

Unknown disse...

Nada como sacudir a agua do capote...
A história está deliciosa, parabéns.

Leticia Gabian disse...

A culpa teria um consorte nesse mundo de meu Deus? Quem poderia ser ele? O arrependimento, talvez?

Um abraço,
(de uma simples plebéia para o nobre Barão)

Sofia Melo disse...

Barão, barão, barão... a tua escrita é absolutamente genial. Esta da culpa está demais. PARABÈNS!!!!!!